Moraes autoriza defesas de Bolsonaro e de outros réus terem acesso às acareações no STF

Nesta segunda-feira (23), o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou que as defesas de todos os réus do chamado “núcleo 1” da trama golpista, entre eles Jair Bolsonaro e o general Walter Braga Netto, estão autorizadas a acompanhar as acareações agendadas para terça-feira (24).

O despacho atende a pedidos das defesas de Bolsonaro e do ex-ministro Paulo Sérgio Nogueira, reforçando que a participação dos advogados é um direito no âmbito da instrução penal.

As acareações ocorrerão em duas etapas: primeiro, confrontação entre o tenente-coronel Mauro Cid, delator, e o general Braga Netto; em seguida, o embate será entre o ex-ministro Anderson Torres e o general Marco Antônio Freire Gomes.

Os encontros, que fazem parte da rotina de coleta de provas no âmbito do inquérito sobre tentativa de golpe após as eleições de 2022, serão fechados à imprensa e realizados presencialmente no STF, sem transmissão ao vivo.

As acareações programadas

O primeiro confronto visa esclarecer divergências relatadas por Mauro Cid, que, em delação premiada, detalhou o suposto “Plano Punhal Verde e Amarelo”, acusação negada por Braga Netto. A delação menciona ainda a entrega de dinheiro em uma sacola de vinho para financiar acampamentos pró-golpe, algo contestado pelo general.

A defesa do general solicitou a acareação para refutar essas acusações, e Moraes negou pedido de adiamento, afirmando que a equipe de seis advogados poderia representá-lo, mesmo com ausência momentânea de um deles.


Jair Messias Bolsonaro (Foto: reprodução/Gustavo Moreno/STF)

Na sequência, haverá acareação entre Anderson Torres e Marco Antônio Freire Gomes. A acusação diz que Freire Gomes relatou a participação de Torres em reuniões golpistas que teriam discutido um decreto de estado de defesa. A defesa contrapõe que as versões são imprecisas e que há falhas na perícia técnica, como a comparação da “minuta do Google” com a “minuta do golpe”.

Implicações jurídicas e processo

A participação das defesas, segundo Moraes, fortalece o contraditório e assegura a ampla defesa. Ele ressaltou que a acareação é continuação natural da fase de instrução penal, com o objetivo de esclarecer orçamentos conflitantes nas versões apresentadas por réus e testemunhas. Nas acareações, os réus podem permanecer em silêncio sem o dever de dizer a verdade, como previsto no direito penal, ao contrário das testemunhas.

O closed-door (fechado ao público ou à imprensa) das sessões preserva o sigilo processual, embora a ausência de transmissão limite a transparência pública. Segundo interlocutores, esse formato busca equilibrar o direito de defesa com o resguardo de dados sensíveis. Especialistas apontam que essas acareações podem ser decisivas para a sustentação das teses tanto da defesa quanto da acusação.

Relatório da PF liga Bolsonaro a rede de monitoramento ilegal na Abin

A Polícia Federal concluiu o inquérito sobre o esquema ilegal de monitoramento na Agência Brasileira de Inteligência (Abin), conhecido como “Abin paralela”, e entregou o relatório final ao Supremo Tribunal Federal (STF). A investigação indica que servidores, policiais e agentes ligados à Abin montaram uma organização criminosa para espionar, sem autorização judicial, autoridades que eram consideradas adversárias do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro.

Segundo o relatório da PF, o grupo teria invadido e rastreado ilegalmente milhares de celulares e computadores com uso de ferramentas da própria Abin. Entre os alvos da espionagem estão ministros do STF, parlamentares e jornalistas. A corporação afirma ainda que o grupo produzia e disseminava informações falsas sobre essas pessoas.

Carlos e Ramagem são indiciados

O documento entregue ao STF lista 37 nomes que podem ter participado do esquema. Entre os indiciados estão o vereador do Rio de Janeiro Carlos Bolsonaro (PL), o ex-diretor da Abin e atual deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ) e o atual diretor da agência, Luiz Fernando Corrêa.


Jair Bolsonaro depondo no STF sobre a tentativa de golpe (Vídeo/Reprodução/Instagram/@jairmessiasbolsonaro)

Bolsonaro apontado como beneficiário

A Polícia Federal também apontou que o ex-presidente Jair Bolsonaro tinha conhecimento da atuação ilegal do grupo e era o principal beneficiário das informações coletadas. Ele já havia sido indiciado anteriormente e responde por organização criminosa no processo sobre a tentativa de golpe de Estado. Neste novo inquérito, a PF reforça os indícios de sua responsabilidade.

De acordo com a investigação, Ramagem teria estruturado todo o esquema de espionagem enquanto dirigia a Abin, e Carlos Bolsonaro seria o responsável por disseminar os dados obtidos de forma ilegal.

Com a conclusão do inquérito, o STF deve encaminhar o caso à Procuradoria-Geral da República (PGR), que poderá apresentar denúncia formal à Justiça ou pedir o arquivamento.

As defesas de Carlos Bolsonaro e Alexandre Ramagem afirmaram que só irão se pronunciar após a análise do relatório. A defesa de Jair Bolsonaro ainda não se manifestou. A reportagem não conseguiu contato com Luiz Fernando Corrêa.

Moraes nega pedido de anulação de delação premiada de Mauro Cid

Nesta terça-feira (17), o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), negou o pedido da defesa do ex-presidente da República, Jair Bolsonaro, para anulação do acordo de colaboração do tenente-coronel Mauro Cid, seu ex-ajudante de ordens. A delação premiada de Cid continua sendo peça-chave por parte do ministro nas investigações sobre a suposta tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022.

A base do pedido e a decisão de Moraes

A defesa de Jair Bolsonaro tentou anular a delação de Mauro Cid após reportagem divulgada pela Revista Veja, que levantou dúvidas sobre a conduta de Cid e a validade do acordo. Primeiro, foi noticiado que Cid usou um perfil anônimo no Instagram para comentar sobre os detalhes de sua própria delação e criticar os investigadores, o que seria uma violação do sigilo do acordo.

Além disso, áudios atribuídos a Cid foram divulgados, nos quais ele desabafava sobre ter “perdido tudo”, enquanto Bolsonaro, segundo ele, teria “ganho milhões em Pix”. Esses áudios levaram a defesa a questionar se a delação foi feita de forma voluntária ou se Cid estava realmente conforme os termos, levantando suspeitas sobre a sua validade.

Contudo, Alexandre de Moraes classificou o pedido como “absolutamente inadequado” e “protelatório” e negou a solicitação. A decisão do ministro mantém as provas já produzidas pelos depoimentos de Cid como elementos válidos na ação penal.


Tenente-Coronel do Exército Brasileiro Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (Foto/reprodução: /EVARISTO SA/Getty Images Embed)

Lembre os detalhes da delação de Mauro Cid

A colaboração de Mauro Cid trouxe à tona uma série de revelações. O ex-ajudante de ordens detalhou a elaboração de uma “minuta do golpe”, um decreto que visava anular o resultado eleitoral e instaurar um estado de defesa no país. Cid afirmou que Bolsonaro participou ativamente da edição desse documento e que todas as suas ações foram cumprindo ordens diretas do ex-presidente.

Além disso, a delação apontou para reuniões de Bolsonaro com chefes das Forças Armadas para discutir o plano golpista e até mesmo um pedido de monitoramento do ministro Alexandre de Moraes, que era chamado de “professora” nas comunicações internas.

Cid também abordou o financiamento da trama, mencionando o repasse de dinheiro por Walter Braga Netto, e forneceu informações sobre um suposto “gabinete do ódio” no Palácio do Planalto, comandado por Carlos Bolsonaro, dedicado à desinformação na internet. A delação também expôs outros crimes, como a falsificação de cartões de vacinação da Covid-19 e a venda de joias e presentes oficiais no exterior.

Bolsonaro ironiza ao sugerir Moraes como seu vice em 2026

Nesta terça-feira (10), durante o interrogatório que apura uma suposta tentativa de golpe Estado praticada após as eleições de 2022, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) convidou, em tom de descontração, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, ao convidá-lo para ser o vice-presidente em sua chapa nas próximas eleições que acontecerão em 2026.

O ex-chefe de Estado brasileiro dizia que planejava uma viagem para o Rio Grande do Norte, na sequência, perguntou ao ministro do STF se poderia fazer uma brincadeira, em resposta, Moraes o aconselhou a perguntar para seus advogados se isso seria possível. Então, ex-presidente disse que gostaria de convidar o juiz para ser seu vice-presidente na chapa que se candidataria à presidência nas próximas eleições gerais que acontecerá no próximo ano, ouvindo uma recusa como resposta.

Desculpa

Além da brincadeira, em um momento do seu interrogatório, Bolsonaro usou o espaço para pedir desculpas a Alexandre de Moraes. O fato ocorreu após o magistrado perguntar sobre qual o indício que o ex-presidente tinha para acusá-lo de receber milhões de dólares com os também ministros do STF, Edson Fachin e Luiz Roberto Barroso para supostamente fraudar a última eleição na qual Bolsonaro era candidato à reeleição.

O ex-presidente então disse que não possuía nenhum indício, e que essa fala tratava-se apenas de um desabafo ocorrido em uma reunião que não deveria ter sido gravada. Bolsonaro se refere ao encontro que teve com embaixadores antes das eleições presidenciais que culminou com a sua derrota para Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O ex-chefe de Estado havia dito que “algo de esquisito” acontecia no país, e que não havia problemas em perder uma eleição, mas sim, ser derrotado em um pleito fraudado.


Bolsonaro está respondendo a perguntas de advogados e juízes sobre seu suposto papel em uma “organização criminosa” (Reprodução/Evaristo SA/Getty Images Embed)

Bolsonaro envolvido

Segundo a denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR), Bolsonaro possuía ciência do “Punhal Verde Amarelo”, plano cujo objetivo era executar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), seu vice, Geraldo Alckmin (PSB), além do ministro Alexandre de Moraes. Além disso, o relatório elaborado pelo Procurador-Geral Paulo Gonet coloca aponta que o ex-presidente teria editado uma minuta que tinha o intuito de instalar um estado de exceção no Brasil após sua derrota nas últimas eleições presidenciais.

Nesta terça-feira, Bolsonaro foi o sexto de oito réus do chamado “núcleo 1” ouvido no interrogatório. No final da sessão, Alexandre de Moraes abriu o prazo de cinco dias para que tanto defesa quanto acusação apresentem diligências complementares, que são requerimentos e demais solicitações sobre o caso.

 

Ex-presidente Bolsonaro diz que atos de 8 de janeiro não configuram golpe de Estado

Em um interrogatório que capturou a atenção do país, o ex-presidente Jair Bolsonaro, denunciado por sua suposta liderança em um plano para tirar a posse de Luiz Inácio Lula da Silva após as eleições de 2022, declarou, nesta terça-feira (10), no Supremo Tribunal Federal (STF), que os eventos de 8 de janeiro de 2023 “não configuram golpe de Estado”.

A defesa de Bolsonaro e a negação do suposto golpe

Jair, em seus depoimentos, vem se mostrando incisivo ao negar qualquer envolvimento em uma “minuta do golpe” ou qualquer plano para subverter a democracia. “Golpe é uma coisa abominável e não foi sequer cogitada no meu governo”, declarou após ser questionado pelo ministro Alexandre de Moraes.

No entanto, a investigação do STF aponta que a minuta foi confirmada por Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, em depoimento. O ex-presidente também disse que seu assessor na época, Filipe Martins, não teria capacidade de redigir documentos dessa natureza.

Quanto aos eventos de 8 de janeiro, segundo Bolsonaro, não configuram um golpe de Estado, apesar das graves depredações e da invasão das sedes dos Três Poderes em Brasília. Ele mencionou a ausência de armas de fogo entre os envolvidos e a falta de condições mínimas para tal ação. Ele também pontuou que há indivíduos “malucos” que defendem uma intervenção militar.


Ex-presidente Bolsonaro presta depoimento em julgamento sobre tentativa de golpe Foto/Reprodução: Arthur Menescal/Getty Images Embed

Contexto das acusações da PGR

A PGR sugere que o ex-presidente teria criado e editado um documento propondo um estado de emergência e que ele sabia do suposto plano denominado “Punhal Verde Amarelo”, que visava assassinar figuras políticas como Lula, Geraldo Alckmin e Alexandre de Moraes.

A ausência de Bolsonaro na cerimônia de posse de Lula, onde não entregou a faixa presidencial, foi justificada por ele como uma tentativa de evitar a “maior vaia da história” do Brasil. O ex-comandante da Marinha, Almir Garnier, confirma encontros com Bolsonaro mas nega a existência de qualquer minuta golpista.

Bolsonaro diz que “golpe não existiu” ao chegar para depor no STF

Ao chegar ao Supremo Tribunal Federal (STF) nesta terça-feira (10), o ex-presidente Jair Bolsonaro afirmou que o “golpe não existiu”.
Comparecendo no segundo dia de depoimentos dos réus que supostamente fizeram parte de uma suposta trama golpista, ele disse que se puder ficar à vontade poderá falar por horas e que pretende mostrar “11 ou 12 vídeos curtinhos” de seus atos e pronunciamentos que, segundo ele, podem ajudar a deixar claro que nunca houve um golpe.

As falas de Bolsonaro

Entre os oito réus do chamado “núcleo crucial” que prestarão depoimento para a Primeira Turma do STF durante esta semana, Bolsonaro é o sexto desta lista. Durante sua fala, Bolsonaro contestou a PGR (Procuradoria Geral da República) quanto às denúncias sobre o possível decreto de Estado de Sítio, dizendo que antes de haver a assinatura sobre o suposto decreto, teria que convocar os conselhos e só seria assinado se o parlamento estivesse de acordo.

O ex-presidente, mostrando parte de sua estratégia defensiva, falou sobre como foi proibido de fazer algumas coisas como, por exemplo, “fazer lives” tanto na Alvorada como em sua própria casa e foi acusado até de pedofilia pelo André Janones.


Bolsonaro em depoimento (Foto/Reprodução/X/@gabrielabilo1)

Quanto o caso de questionar a segurança e veracidade dos votos das urnas eletrônicas, ele demostrou que seguirá com seu posicionamento e citou que tem um vídeo onde Flávio Dino condena a urna eletrônica e Carlos Lupi dizendo que o voto que não é impresso, é fraudulento. “Não estou inventando”, completou.

As audiências

As audiências tiveram início nesta segunda-feira (9) onde Mauro Cid, delator do caso e ex-ajudante de ordens de Bolsonaro e Alexandre Ramagem, ex-presidente da Abin (Agência Brasileira de Inteligência).
Cid tem acordo de colaboração premiada com a Polícia Federal e afirmou que a denúncia da PGR é verdadeira e que apesar de ter presenciado a maioria dos fatos, não participou deles. Mauro Cid confirmou que Jair Bolsonaro, não só teve acesso como sugeriu mudanças na “minuta do golpe”, documento que previa medidas autoritárias que poderiam reverter o resultado das eleições de 2022. Nesta “mudança” sugerida pelo ex-presidente, foi pedida a retirada dos nomes de algumas autoridades que deveriam ser presas e foi deixado somente o item que mantinha a prisão de Alexandre de Moraes.
Quando ao depoimento de Alexandre Ramagem, ele disse que a documentação que questionava os resultados da eleição eram apenas rascunhos pessoais e que não foram entregues a Bolsonaro e negou ter usado a Agência Brasileira de Inteligência para fiscalizar as autoridades.

Ex-comandante da Marinha nega ter colocado tropas à disposição de Bolsonaro em depoimento ao STF

O almirante Almir Garnier, ex-comandante da Marinha, prestou depoimento nesta terça-feira (10) diretamente ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), e negou ter oferecido apoio militar ao então presidente Jair Bolsonaro após as eleições de 2022. Garnier é investigado por possível participação em uma tentativa de golpe para impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva.

A oitiva ocorre no âmbito do inquérito que apura a atuação de autoridades civis e militares na contestação do resultado eleitoral. Garnier é apontado por outros investigados como o único comandante militar que teria sinalizado apoio à permanência de Bolsonaro no poder, tese que ele refutou em sua fala ao STF.

Defesa aponta ausência de provas e nega articulação

Em sua manifestação, Garnier reafirmou que jamais participou de reuniões com o objetivo de romper a ordem constitucional. Ele também negou ter colocado tropas ou recursos da Marinha à disposição de qualquer plano ilegal. Sua defesa sustenta que não há evidências concretas que o liguem a qualquer tentativa de golpe, apenas relatos de terceiros e interpretações sem base documental.

Isso não ocorreu. Não houve deliberações. O presidente não abriu a palavra a nós. Ele fez as considerações dele, expressou o que mais pareciam preocupações e análises de possibilidade do que propriamente uma ideia ou uma intenção de conduzir alguma coisa em uma certa direção”, declarou o militar.


Almir Garnier em depoimento ao STF (Foto: reprodução/Gustavo Moreno/STF)

Os advogados do almirante já haviam solicitado que o caso fosse analisado diretamente no plenário do STF, alegando que o foro especial é aplicável devido ao cargo ocupado por Garnier na época dos fatos. Também reiteraram que não houve mobilização militar fora da legalidade.

Inquérito segue com base em relatos de ex-aliados

O depoimento de Garnier contrasta com a versão de outros ex-integrantes do alto comando militar, como o ex-chefe da Aeronáutica Carlos Baptista Júnior. Ele afirmou que Garnier teria indicado disposição em aderir a uma iniciativa para impedir a posse de Lula, colocando as tropas da Marinha à disposição de Bolsonaro. Essa afirmação foi rebatida pelo ex-comandante da Marinha, que classificou a narrativa como “inverídica”.

A apuração segue sob responsabilidade do ministro Alexandre de Moraes. Caberá ao STF decidir se as informações reunidas justificam o avanço para denúncia formal contra os envolvidos.

STF começa a ouvir Bolsonaro e aliados em ação penal sobre tentativa de golpe

O Supremo Tribunal Federal (STF) começa nesta segunda-feira (9) os interrogatórios dos oito réus acusados de envolvimento em uma trama golpista para tentar reverter o resultado das eleições de 2022. Entre os convocados está o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), além de ex-ministros e militares aliados. Os depoimentos fazem parte da ação penal que apura uma tentativa de golpe de Estado e abolição violenta do Estado Democrático de Direito.

Os depoimentos terão início na tarde desta segunda-feira (9), de forma presencial, na sala de sessões da Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF). De acordo com o cronograma estabelecido pelo ministro Alexandre de Moraes, responsável pelo caso, os interrogatórios podem se estender até terça-feira (10).

O que está em julgamento

De acordo com a Procuradoria-Geral da República (PGR), os réus agiram de forma coordenada para viabilizar um golpe de Estado após a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições de 2022. O grupo, segundo as investigações, planejou a divulgação de informações falsas sobre o sistema eleitoral, buscou apoio de militares e elaborou uma minuta de decreto de estado de sítio com o objetivo de manter Bolsonaro no poder de forma ilegítima.

O primeiro a ser ouvido é o tenente-coronel Mauro Cid, que atuou como ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro. Ele fechou um acordo de colaboração premiada e suas declarações são consideradas estratégicas para o avanço das investigações.


Mauro Cid (Foto:reprodução/Anadolu/Getty Images Embed)

Réus serão ouvidos em ordem alfabética

Após Mauro Cid, os demais acusados serão ouvidos seguindo a ordem alfabética. A PGR considera que todos esses nomes integravam a cúpula do plano golpista. São eles:

Alexandre Ramagem, ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin);

Almir Garnier Santos, ex-comandante da Marinha;

Anderson Torres, ex-ministro da Justiça e ex-secretário de Segurança do DF;

General Augusto Heleno, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI);

Jair Bolsonaro, ex-presidente da República;

Paulo Sérgio Nogueira, ex-ministro da Defesa;

O general Braga Netto será o único réu interrogado por videoconferência. Ele permanece detido preventivamente no Rio de Janeiro e prestará depoimento remotamente, sendo o último a ser ouvido nesta fase do processo.

Todos os acusados devem permanecer presentes nas audiências até o momento em que forem interrogados. Após prestarem depoimento, podem solicitar dispensa e deixar de acompanhar o restante das sessões.

Além disso, durante o andamento das audiências, os réus não estão autorizados a manter contato entre si. O ministro Alexandre de Moraes permitiu apenas cumprimentos formais, mas proibiu qualquer tipo de conversa entre eles; uma das determinações estabelecidas ao longo das investigações sobre a tentativa de golpe.

Estratégia de defesa e “núcleo crucial”

A defesa de Bolsonaro tenta desvinculá-lo das acusações, afirmando que ele apenas escutou propostas de aliados e que nunca teve a intenção de desrespeitar a Constituição. No entanto, a denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) aponta que o ex-presidente era o líder de uma organização criminosa com o objetivo de manter-se no poder de forma ilegal, sustentada por um plano de governo autoritário.

Mauro Cid, ex-ajudante de ordens e um dos principais delatores do caso, já delatou provas que corroboram a tese de que Bolsonaro participou ativamente das articulações. As declarações dele e de outros envolvidos devem ter peso importante na decisão final do STF.

A PGR identifica a existência de um núcleo central dentro dessa organização, composto por oito integrantes. Esse grupo, que teria aderido ao plano em momentos diferentes, seria responsável por tomar as decisões estratégicas e por ações de grande repercussão nacional. Esse grupo central, segundo a PGR, teria tomado as decisões mais relevantes e atuado diretamente na tentativa de ruptura institucional. Ele é descrito como o “núcleo crucial” da articulação golpista.