Governo busca saída para preços altos de hospedagem durante COP30

Nesta quarta-feira (6), o presidente da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), André Corrêa do Lago, afirmou que os preços de hospedagem em Belém, no Pará, estão muito acima do registrado em outras edições do evento internacional. A declaração foi feita durante audiência na Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Câmara, onde o diplomata apresentou informações sobre os preparativos para a conferência que acontecerá em novembro.

Corrêa do Lago ressaltou que o governo federal, por meio da Secretaria Extraordinária para a COP30, busca alternativas para conter os valores elevados. Segundo ele, a pasta analisa possíveis soluções dentro dos limites da legislação brasileira, que permite aos hotéis estabelecer livremente suas tarifas, mas estuda medidas para evitar que os custos impactem a participação de delegações e visitantes.

Preços abusivos

O aumento nas tarifas de hospedagem em Belém, cidade que sediará a próxima COP, tem preocupado representantes internacionais. Embora seja comum que grandes eventos elevem os preços, os valores praticados na capital paraense têm superado os padrões observados em outras edições, como a da França. Segundo o diplomata Luiz Alberto Figueiredo Machado Corrêa do Lago, o esperado seria um aumento de até três vezes, mas em Belém, os reajustes têm sido muito maiores.

Delegações estrangeiras relatam dificuldades para encontrar acomodações e denunciam tarifas até 15 vezes superiores às habituais. A disparada nos preços levanta dúvidas sobre a capacidade da cidade de receber os milhares de participantes esperados para 2025, especialmente representantes de países em desenvolvimento e organizações da sociedade civil.


Presidente da COP30 critica preços de hospedagem em Belém (Vídeo: reprodução/YouTube/@g1globo)

Pressão por mudanças

Nas últimas semanas, delegações estrangeiras têm pressionado por uma possível mudança da sede da COP30, marcada para novembro de 2025. O principal motivo é o alto custo das diárias de hotéis em Belém durante o período do evento. A preocupação com os preços levou o governo do Pará a se reunir com representantes do setor hoteleiro para discutir soluções. Entre as medidas apresentadas, estão a criação de novos leitos e um mapeamento da rede de hospedagem, que deve auxiliar em ações de fiscalização.

Apesar da insatisfação de parte da comunidade internacional, o embaixador Luiz Alberto Figueiredo Corrêa do Lago reforçou o compromisso com a realização da COP30 em Belém. Ele destacou o valor simbólico da cidade como porta de entrada da Amazônia e ressaltou que a participação global será fundamental para o sucesso do encontro. Segundo o diplomata, Belém tem muito a oferecer e está pronta para receber o mundo de braços abertos.

Momento de ajuste

Durante evento no Senado, o embaixador Luiz Alberto Figueiredo Corrêa do Lago afirmou que a COP30 será uma oportunidade estratégica para enfrentar desafios que afetam o multilateralismo climático. Ele mencionou a saída dos Estados Unidos do Acordo de Paris durante o governo Trump como um exemplo das dificuldades enfrentadas nas últimas décadas. Para o diplomata, a conferência em Belém deve servir como espaço para fortalecer a cooperação internacional e avançar na implementação de medidas concretas.

Segundo Corrêa do Lago, os instrumentos multilaterais já contribuíram para avanços importantes na agenda climática, mas ainda precisam ser aplicados de forma mais efetiva. Para ele, é essencial que esses mecanismos saiam do papel e se traduzam em ações concretas.

Lula diz que não há abertura para negociação e não ligará para Trump

O presidente Lula revelou que não entrou em contato com o presidente americano, Donald Trump, e que não pretende ligar para ele, em conversa com a “Reuters” publicada nesta quarta-feira (6), dia em que o tarifaço sobre exportações brasileiras entrou em vigor. Lula afirma que não vai se humilhar, já que, em meio às declarações, cartas ao governante brasileiro e medidas tomadas, Trump não mencionou a possibilidade de negociações e proferiu mais ameaças.

Declaração de Donald Trump

Na última sexta-feira (1), Donald Trump concedeu uma breve entrevista aos jornalistas e disse que está aberto para conversar com o presidente brasileiro sobre as novas tarifas e qualquer outro assunto relacionado aos dois países. Trump também afirmou que não tem nada contra o Brasil, mas que seus governantes tomam decisões erradas.

“Ele pode falar comigo quando quiser. Vamos ver o que acontece, eu amo o povo brasileiro”, disse Donald Trump.


Presidente americano Donald Trump (Foto: reprodução/Bloomberg/Getty Images Embed)

A declaração aconteceu dias após a assinatura do documento que oficializa as novas tarifas sobre produtos brasileiros, justificadas pelo governo americano como uma respostas as atitudes das autoridades brasileiras que seriam prejudiciais às empresas americanas em solo brasileiro, que fere o direito de liberdade de expressão contra americanos e outros indivíduos fora do Brasil, chegando a citar o jornalista brasileiro João Figueiredo, processado por falas proferidas em terras americanas e as medidas contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, que cumpre prisão domiciliar, decretada na segunda-feira (4).

Diálogo entre os países


Vice-presidente e ministro Geraldo Alckmin, à esquerda, presidente Lula, ao centro, ministro Fernando Haddad, à direita (Foto: reprodução/Bloomberg/Getty Images Embed)

Mesmo sem diálogo entre os presidentes do Brasil e dos EUA, autoridades das duas nações estabeleceram contato. O vice-presidente e também ministro do Desenvolvimento Indústria e Comércio, Geraldo Alckmin; o ministro da Fazenda, Fernando Haddad; e o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, já haviam confirmado que estavam conversando com governantes americanos com intuito de criar uma ponte direta entre Lula e Trump e evitar a aplicação das novas tarifas, mas caso não conseguissem um avanço nas negociações, um plano de contingência estava sendo preparado.

2 mil toneladas de mel estão paradas no Brasil desde o dia 09 de julho devido ao tarifaço

O mel destinado para exportação aos EUA está com mais de 2 mil toneladas paradas desde o dia 9 de julho, dia em que Donald Trump anunciou as tarifas sobre produtos brasileiros. Conforme a Associação Brasileira dos Exportadores de Mel (Abemel), no mês passado, os alimentos em exportação ficaram cerca de 50% abaixo do esperado. Os Estados Unidos são os principais compradores de mel brasileiro, por isso as tarifas impostas por Trump geram grande preocupação aos produtores e exportadores.

O que diz o presidente da Abemel 

Segundo o presidente, a maioria da produção de mel nacional vem da agricultura familiar, se as exportações caem, compromete a renda de diversas famílias. O Brasil tem cerca de 200 mil e 300 mil apicultores.

Com a queda de vendas para os EUA, será preciso novas estratégias, como novos mercados ou mover o produto para o consumo interno. Entretanto, essa tarefa não será fácil, já que o brasileiro não tem o costume de consumir mel diariamente, apenas quando adoecem, como remédio.

Remanejar o mel para outros países pode ser difícil 

O mel brasileiro precisa de certificações específicas para ser exportado, e cada país ou bloco econômico estabelece suas próprias regras. Por isso, um lote destinado aos Estados Unidos não pode ser facilmente redirecionado para a Europa, segundo maior comprador do produto, segundo o presidente da Associação Brasileira dos Exportadores de Mel (Abemel), José Azevedo.

Nos últimos três anos, a União Europeia endureceu as exigências, passando a exigir que cada apicultor obtenha certificação individual. O modelo representa um obstáculo para o Brasil, já que a maioria da produção vem de pequenos produtores, que frequentemente não dispõem de estrutura técnica ou recursos para atender às normas sozinhos.

“No caso dos EUA, as empresas exportadoras podem criar ‘projetos orgânicos’, cadastrando apicultores e assumindo os custos da certificação. Com a nova legislação europeia, isso não é mais permitido”, explica Azevedo. “Por isso, conseguir a certificação orgânica europeia se tornou algo quase inviável para o Brasil.” 

Mel mais barato no Brasil 

Com a diminuição da exportação, há a expectativa da diminuição do valor do mel no Brasil, ao menos nesses primeiros momentos.

Haverá mais mel no país, tendo mais oferta e menos demanda, a tendência é que o valor do produto caia. Tal diminuição representa prejuízo aos apicultores, segundo Sérgio Fárias, presidente da Confederação Brasileira de Apicultura (CBA). Um apicultor tem em média R$ 4 mil como renda mensal. Se for a sua única renda familiar, ela será gravemente afetada pela queda dos preços.

Donald Trump determina tarifa de 50% sobre produtos brasileiros

O presidente dos EUA, Donald Trump, assinou o decreto que aplica taxa de 40% sobre as exortações brasileiras, que já possuíam uma tarifa de 10 %, somando 50% sobre produtos nacionais, nesta quarta-feira (30). Segundo o comunicado divulgado pela Casa Branca, a ordem entra em vigor em 7 dias e apresenta uma lista de produtos que não sofrerão com a taxação, como petróleo, aviões e derivados da laranja.

Comunicado da Casa Branca

O comunicado do governo americano sobre o aumento das tarifas oficializa a decisão de Donald Trump. A primeira parte do documento justifica a aplicação da medida ao afirmar que a ordem seria uma resposta às decisões das autoridades brasileiras que “prejudicam empresas americanas, os direitos de liberdade de expressão de cidadãos americanos, a política externa dos EUA e a economia americana.”.

Além disso, o documento também critica as medidas contra o ex-presidente Jair Bolsonaro e seus apoiadores, ações denominadas como “graves abusos de direitos humanos que minaram o Estado de Direito do Brasil”. Em um momento do texto, o ministro Alexandre de Moraes é citado e acusado de, junto com outros ministros do STF, abusar de seu poder para perseguir seus opositores, proteger aliados, prejudicando organizações americanas em solo brasileiro.


Ministro do STF Alexandre de Moraes (Foto: reprodução/Bloomberg/Getty Images Embed)

João figueiredo, jornalista residente nos Estados Unidos, que já participou de reuniões com o presidente americano e outras autoridades do país, também foi mencionado. Figueiredo está sendo processado por declarações feitas em terras americanas, e segundo o documento, Moraes supervisiona o andamento do processo, considerado um atentado contra a liberdade de expressão, e entendendo a taxação americana como uma proteção contra “decretos arbitrários de um juiz estrangeiro tirânico”.

Por fim, o comunicado trata da revogação dos vistos de Alexandre de Moraes e de seus familiares; dos ministros Flávio Dino, Cármen Lúcia, Gilmar Mendes, Luís Roberto Barroso, Edson Fachin, Dias Toffoli e Cristiano Zanin; além do procurador-geral da República, Paulo Gonet. A medida, segundo o texto, visa “alcançar a paz por meio da força e garantir que a política externa reflita os valores, a soberania e a segurança dos EUA”.

Possibilidade de negociações

Em entrevistas recentes, o vice-presidente, Geraldo Alckmin, e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, declararam que o governo brasileiro estava em contato com autoridades americanas para que o “tarifaço” americano não entrasse em vigor. Entretanto, os dois afirmaram que um plano de contingência estava sendo desenvolvido.


Vice-presidente Geraldo Alckmin, à esquerda, presidente lula, ao centro, ministro Fernando Haddad, à direita (Foto: reprodução/Bloomberg/Getty Images Embed)

O presidente Lula demonstrou disposição para negociações, ao contrário de Donald Trump, que, segundo o governante brasileiro, “não quer conversar”, dificultando acordos para evitar o aumento das taxas sobre exportações brasileiras, que entram em vigor na próxima semana.

Estados Unidos definem prazo para acordos comerciais com países parceiros, afirma secretário de Comércio

O governo dos Estados Unidos estabeleceu um prazo até sexta-feira, 1º de agosto, para concluir as decisões sobre acordos comerciais com diversos países parceiros. A informação foi confirmada pelo secretário de Comércio, Howard Lutnick, durante entrevista coletiva realizada nesta semana.

Segundo Lutnick, o cronograma está mantido conforme anunciado anteriormente, e as deliberações finais serão tomadas diretamente pelo presidente Donald Trump.

Decisões em andamento

As tratativas comerciais abrangem diferentes países e blocos econômicos. De acordo com o secretário, os acordos com a União Europeia estão em estágio avançado, enquanto as negociações com a China seguem em uma trilha separada, com possível extensão do prazo até 12 de agosto.

“Todos os outros países estão dentro do prazo até sexta-feira”, declarou Lutnick. “As discussões com a China têm um andamento próprio, que pode ser concluído alguns dias depois.”

Possibilidade de novas tarifas

O prazo estabelecido faz parte de uma política comercial que prevê a aplicação automática de tarifas para países que não concluírem acordos com os Estados Unidos dentro do período estipulado. Esses encargos alfandegários, conhecidos como “tarifas de compensação”, podem variar entre 15% e 50%, conforme o produto e o país de origem.

Entre os países que ainda buscam um acordo estão Brasil, Índia, México e Canadá. Caso as negociações não sejam concluídas até a data limite, esses países poderão ser incluídos na nova rodada de medidas tarifárias.


Trump e presidente indiano antes dele anunciar as tarifas (Foto: reprodução/X/@roberto36438712)

Produtos em foco

As negociações envolvem uma série de produtos exportados aos Estados Unidos, com destaque para itens agrícolas, minerais e manufaturados. Em alguns casos, produtos como café, carne bovina e aço estão entre os principais pontos debatidos entre as partes envolvidas.

Projeção de próximos passos

Após o prazo de sexta-feira, a administração americana pretende divulgar a lista final de países com acordos formalizados, bem como os que estarão sujeitos às novas tarifas. A depender do desfecho, as medidas poderão entrar em vigor ainda na primeira quinzena de agosto.

FMI aponta risco de desaceleração maior no Brasil

O Fundo Monetário Internacional (FMI) alertou nesta semana que a imposição de novas tarifas comerciais sobre produtos brasileiros pode resultar em uma desaceleração mais acentuada da economia nacional. A sinalização ocorreu durante coletiva de imprensa após a atualização do relatório de perspectivas econômicas globais da instituição.

Estimativas de crescimento mantidas, mas com ressalvas

Apesar da preocupação com o cenário tarifário, o FMI manteve sua projeção de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil para 2025 em 2,3%. A instituição destacou, no entanto, que essa estimativa já considera parte das tarifas atualmente em vigor, como aquelas aplicadas sobre aço e alumínio exportados para os Estados Unidos.

De acordo com o órgão, a possibilidade de novas tarifas, ainda em discussão, representa um fator de risco relevante. Se implementadas, essas medidas podem provocar impactos adicionais sobre o desempenho da economia brasileira nos próximos trimestres.

Impacto estimado no PIB

A vice-diretora do Departamento de Pesquisa do FMI, Petya Koeva Brooks, afirmou que o efeito potencial das novas tarifas pode atingir uma faixa entre 1,1 e 1,4 ponto percentual do PIB brasileiro. Essa estimativa considera os setores que podem ser diretamente afetados por barreiras comerciais adicionais, incluindo segmentos da indústria de transformação e do agronegócio.

Segundo o FMI, os produtos possivelmente atingidos por medidas tarifárias adicionais incluem café, carne bovina, suco de laranja e itens da indústria metalúrgica.


Foto de Lula quando falou sobre o PIB brasileiro para o The New York Times (Foto: reprodução/x/@lazarorosa25)

Avaliação estrutural

A instituição também destacou que o ambiente macroeconômico brasileiro em 2025 é caracterizado por menor impulso fiscal, política monetária ainda restritiva e uma desaceleração gradual da atividade. O aumento de barreiras comerciais, nesse contexto, pode agravar pressões existentes sobre o investimento, o consumo e a geração de empregos.

Perspectiva para 2026

Para 2026, a projeção do FMI é de crescimento de 2,1% do PIB, levemente abaixo do ritmo previsto para 2025. Essa desaceleração acompanha o cenário global de crescimento moderado, além de refletir o esgotamento de alguns estímulos econômicos aplicados em anos anteriores.

Considerações finais

O FMI continua monitorando os desdobramentos relacionados ao comércio internacional e às políticas adotadas pelos principais parceiros comerciais do Brasil. A instituição reforçou que o ambiente externo permanece incerto e que o país pode enfrentar desafios adicionais caso novas tarifas sejam efetivamente implementadas.

Trump faz ultimato a Putin: 10 dias para dar fim à guerra ou tarifas de 100%

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, elevou o tom das ameaças ao dar um ultimato de 10 dias para o presidente russo, Vladimir Putin, encerrar a guerra na Ucrânia. Segundo a declaração de Trump, feita nesta terça (29) durante uma visita à Escócia, caso a Rússia não cumpra a exigência, os EUA imporá “tarifas severas” de 100% sobre produtos russos e, potencialmente, sobre países que continuem a fazer negócios com Moscou.

Mudança de rota

A postura atual de Donald Trump em relação à guerra na Ucrânia contrasta drasticamente com suas declarações no início do segundo mandato. No início de 2025, Trump buscou aproximação com Putin e propôs negociações de paz, inclusive sem a presença da Ucrânia. Ele chegou a chamar Putin de “líder forte” e “homem corajoso“, enquanto criticava o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky.

Essa guinada para um tom de ameaça reflete a frustração de Trump com o que ele percebe como uma estratégia de Putin para “enrolar” e fingir interesse em um cessar-fogo. A intensificação dos ataques russos, como o maior ataque aéreo contra a Ucrânia em julho de 2025, parece ter sido um fator decisivo.


Andriy Yermak, chefe de gabinete de Zelenskiy, agradece a Trump (Foto: reprodução/X/@AndriyYermak)

Um prazo inicial de 50 dias já havia sido anunciado em 14 de julho, e foi reduzido para apenas 10, com Trump afirmando: “Não estou mais tão interessado em conversar com Putin“. A Ucrânia, por sua vez, elogiou a decisão de reduzir o prazo, vendo isso como um sinal de apoio de Washington.

Riscos da nova estratégia

Mesmo que os Estados Unidos não comprem muito da Rússia (apenas US$ 3,5 bilhões em produtos como fertilizantes e combustível nuclear em 2024), a grande dor de cabeça está nas “tarifas secundárias”. Se países como China e Índia continuarem a importar petróleo e outros produtos russos, os EUA podem aplicar taxas altíssimas (de 100%!) sobre o que esses países vendem para os próprios Estados Unidos. Isso geraria um grande abalo no mercado global, especialmente no de petróleo, pois a oferta mundial ficaria comprometida e os preços poderiam disparar. Apesar desse alerta dos especialistas, Trump não se mostra preocupado, afirmando que os EUA podem simplesmente aumentar a própria produção de petróleo para compensar.


 Vice-chefe do Conselho de Segurança de Putin, Dmitry Medvedev, dá recado a Trump (Foto: reprodução: X/@MedvedevRussiaE)

A Rússia, por outro lado, reagiu com cautela e um tom de desafio. O Kremlin “tomou nota” da declaração de Trump, mas o vice-chefe do Conselho de Segurança russo, Dmitry Medvedev, alertou para não “jogar o jogo do ultimato com a Rússia“, classificando as ameaças de Trump como “passos em direção à guerra. Não entre a Rússia e a Ucrânia, mas com seu próprio país. Fontes próximas a Putin indicam que ele não se abalou e pretende continuar a guerra até que suas exigências sejam atendidas.

Brasil enfrenta semana decisiva para tentar reverter tarifas dos EUA e proteger exportadores

O governo do presidente Lula enfrenta uma semana crucial para tentar conter os impactos do tarifaço anunciado pela gestão de Donald Trump. A medida norte-americana, que prevê sobretaxas de até 50% sobre produtos brasileiros, deve entrar em vigor nesta sexta-feira (1º). Diante da falta de progresso nas negociações diretas com Washington, o governo brasileiro intensifica a formulação de medidas emergenciais para amenizar os prejuízos econômicos causados pelas novas tarifas.

Auxiliares de Lula indicam que o pacote emergencial será finalizado nesta semana. A proposta inclui crédito subsidiado, compras públicas de produtos afetados e a criação de um fundo temporário com recursos privados para socorrer empresas, especialmente as de pequeno porte. A ideia é proteger a produção nacional e preservar empregos em setores-chave como o agronegócio, siderurgia e indústria de transformação, os mais ameaçados pelas novas tarifas.

O plano, que teve seus trabalhos técnicos concluídos na última semana, está sob avaliação política e deve ser validado pelo presidente antes de sexta-feira. A equipe econômica também prevê atualizações semanais sobre as medidas, coordenadas pelo vice-presidente e ministro da Indústria, Geraldo Alckmin.

Missão parlamentar nos EUA e denúncias na OMC

Além disso, parlamentares brasileiros chegaram a Washington com a missão de dialogar com representantes dos Estados Unidos e buscar formas de evitar que as novas tarifas entrem em vigor. A missão oficial, liderada por Nelsinho Trad, e aprovada por unanimidade no Senado, busca abrir espaço para uma negociação política. Entre os parlamentares presentes estão nomes de diferentes partidos, como Teresa Cristina, Marcos Pontes e Jaques Wagner.

Em outra frente, o governo brasileiro formalizou uma denúncia na Organização Mundial do Comércio (OMC), alegando que a medida viola a soberania econômica do país. O Itamaraty acompanha os desdobramentos e deve apresentar, ainda nesta semana, um relatório com alternativas diplomáticas.

Apesar dos esforços, o cenário segue tenso. A Bloomberg revelou que o governo Trump estuda editar uma nova declaração de emergência nacional para justificar legalmente as tarifas, o que dificultaria ainda mais a reversão do quadro.


Donald Trump (Foto:reprodução/Andrew Harnik/Getty Images Embed)

Lula acusa blefe, Haddad responsabiliza bolsonaristas

Em declarações recentes, Lula comparou a estratégia de Trump a um jogo de truco, afirmando que o republicano está “blefando”. “Se ele estiver trucando, vai tomar um seis”, disse o presidente durante evento em Minas Gerais. Já o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, criticou aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro por dificultarem o restabelecimento do diálogo com os EUA. Ele citou nominalmente o deputado Eduardo Bolsonaro e o influenciador Paulo Figueiredo como figuras que atuam contra os interesses comerciais do Brasil.



Desde fevereiro no exterior, o deputado Eduardo Bolsonaro tem mantido interlocução com figuras próximas ao ex-presidente Donald Trump e manifestado posicionamentos contrários à atuação de autoridades brasileiras em fóruns internacionais. Segundo ele, qualquer negociação internacional só deveria acontecer após uma “anistia ampla” aos envolvidos nos atos golpistas de 8 de janeiro.

Estima-se que o novo pacote tarifário imposto pelos Estados Unidos poderá atingir diretamente mais de 10 mil companhias brasileiras, colocando em risco aproximadamente 2 milhões de postos de trabalho.

Tarifas de Trump ameaçam colapso produtivo e inovação tecnológica no Brasil

A imposição de uma tarifa de 50% sobre todas as importações brasileiras pelos Estados Unidos, anunciada pelo presidente Donald Trump, acendeu o alerta vermelho nos setores industriais de tecnologia aplicada à produção. Representantes da indústria madeireira e de pescados alertam que a medida pode paralisar cadeias produtivas inteiras, travar investimentos em inovação e dificultar o avanço da automação em processos de exportação e rastreabilidade.

Segundo Paulo Roberto Pupo, superintendente da Abimci (Associação Brasileira da Indústria de Madeira Processada Mecanicamente), há uma crescente sensação de paralisia nas negociações desde a reunião com a equipe do governo Lula. “A cada dia que passa, esse cronômetro fica ainda mais vermelho”, diz Pupo, referindo-se à falta de respostas técnicas e diplomáticas. Com 100% da produção de algumas empresas voltada ao mercado norte-americano, o setor já começa a projetar férias coletivas e demissões, medidas que podem comprometer investimentos em infraestrutura digital e sistemas de controle industrial.

Impacto direto na digitalização de cadeias produtivas

Eduardo Lobo, presidente da Abipesca (Associação Brasileira das Indústrias de Pescados), também aponta os riscos sistêmicos do tarifaço para o futuro tecnológico do setor. Com 70% das exportações de pescados destinadas aos EUA e impedimentos de entrada no mercado europeu desde 2017, a tarifa representa não apenas um golpe financeiro, mas um obstáculo à implementação de soluções digitais de rastreabilidade, logística e compliance internacional.

Estamos de mãos atadas. O cenário escalou e está mais tenso. Os empresários não têm como intervir ou planejar soluções de longo prazo”, afirma Lobo. Ele enviará ao governo federal uma solicitação de linha de crédito emergencial de R$ 900 milhões para manter a operação viva. Para o setor, o pedido mais urgente é a postergação imediata da entrada em vigor da tarifa, prevista para 1º de agosto, permitindo tempo para adaptação logística e busca por alternativas digitais de escoamento.

A proposta de que o setor privado pressione os importadores americanos é vista como inviável. “O comprador dos EUA vai simplesmente substituir pelo fornecedor mais barato, sem entrar em debate político”, alerta Lobo.


Tarifaço de Trump causará impacto direto nas cadeias produtivas brasileiras (Vídeo:reprodução/YouTube/@CNNBrasil)

Reflexo na cadeia tecnológica e urgência diplomática

Além das barreiras comerciais, o impasse prejudica iniciativas tecnológicas estratégicas, como o uso de blockchain para rastreabilidade de origem, certificações digitais internacionais e digitalização da logística portuária — todas são medidas que dependem de estabilidade comercial e previsibilidade regulatória.

O empresariado pede que o governo brasileiro reforce argumentos técnicos nas negociações, destacando a complementaridade produtiva entre Brasil e EUA, que pode ser traduzida em ganhos para ambos os países. No entanto, sem uma resposta rápida, o receio é que os setores se tornem “reféns da negociação”, nas palavras de Pupo.

Governo manterá pressão diplomática, mas sem garantias antes de 1º de agosto

Em entrevista à CBN nesta segunda-feira(21), o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, reafirmou que o governo brasileiro deve continuar insistindo em negociações com os Estados Unidos para evitar o imposto de 50% sobre produtos brasileiros. No entanto, alertou que não há garantias de resposta por parte dos americanos até o prazo estabelecido, em 1º de agosto.

Haddad revelou que o governo está preparando uma variedade de cenários de contingência, incluindo medidas de apoio para setores mais impactados.

O ministro também destacou que essas intervenções não devem comprometer as metas fiscais. As ações previstas estão sob avaliação e dependem de autorização do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Impactos econômicos e retaliação

Haddad informou que ainda nesta semana a equipe econômica apresentará ao presidente uma análise dos possíveis efeitos das tarifas no PIB e na inflação, conforme diferentes cenários. Ele ressaltou que parte das exportações brasileiras podem ser direcionadas para outros mercados, embora esse processo seja lento e nem todas as empresas tenham essa viabilidade.


Presidente Luiz Inácio Lula da Silva e Ministro da Fazenda Fernando Haddad  (Foto: reprodução/SERGIO LIMA/Getty Images Embed)

O governo brasileiro reafirmou que não vai retaliar impondo medidas punitivas a empresas ou cidadãos americanos. Em vez disso, pretende aplicar a Lei da Reciprocidade, recentemente aprovada pelo Congresso, para chamar atenção para o que considera uma atitude “chantagista” por parte dos EUA.

Fernando Haddad afirmou que o objetivo não uma retaliação aos Estados Unidos, mas sim chamar a atenção para o fato de que as ações adotadas são prejudiciais para ambos os lados. Segundo ele, esse tipo de medida não colabora nem com os interesses dos estadunidense, nem com o dos brasileiros, e por isso o governo se coloca em uma postura mais diplomática, embora mantenha-se firme com a situação imposta.

Metas fiscais mantidas

Mesmo diante da pressão, Haddad afirmou que o governo não pretende rever suas metas fiscais. Segundo ele, os objetivos para as contas públicas serão perseguidos até o fim do mandato de Lula.

Visando o acordo, o cenário permanece incerto, com prazo curto até o início de agosto. O mercado e os setores exportadores aguardam medidas concretas ou um avanço nas negociações.