Tarifas de Trump ameaçam colapso produtivo e inovação tecnológica no Brasil
Setores de madeira e pescados alertam para risco de colapso produtivo e digital após tarifa de 50% imposta por Trump sobre importações do Brasil

A imposição de uma tarifa de 50% sobre todas as importações brasileiras pelos Estados Unidos, anunciada pelo presidente Donald Trump, acendeu o alerta vermelho nos setores industriais de tecnologia aplicada à produção. Representantes da indústria madeireira e de pescados alertam que a medida pode paralisar cadeias produtivas inteiras, travar investimentos em inovação e dificultar o avanço da automação em processos de exportação e rastreabilidade.
Segundo Paulo Roberto Pupo, superintendente da Abimci (Associação Brasileira da Indústria de Madeira Processada Mecanicamente), há uma crescente sensação de paralisia nas negociações desde a reunião com a equipe do governo Lula. “A cada dia que passa, esse cronômetro fica ainda mais vermelho”, diz Pupo, referindo-se à falta de respostas técnicas e diplomáticas. Com 100% da produção de algumas empresas voltada ao mercado norte-americano, o setor já começa a projetar férias coletivas e demissões, medidas que podem comprometer investimentos em infraestrutura digital e sistemas de controle industrial.
Impacto direto na digitalização de cadeias produtivas
Eduardo Lobo, presidente da Abipesca (Associação Brasileira das Indústrias de Pescados), também aponta os riscos sistêmicos do tarifaço para o futuro tecnológico do setor. Com 70% das exportações de pescados destinadas aos EUA e impedimentos de entrada no mercado europeu desde 2017, a tarifa representa não apenas um golpe financeiro, mas um obstáculo à implementação de soluções digitais de rastreabilidade, logística e compliance internacional.
“Estamos de mãos atadas. O cenário escalou e está mais tenso. Os empresários não têm como intervir ou planejar soluções de longo prazo”, afirma Lobo. Ele enviará ao governo federal uma solicitação de linha de crédito emergencial de R$ 900 milhões para manter a operação viva. Para o setor, o pedido mais urgente é a postergação imediata da entrada em vigor da tarifa, prevista para 1º de agosto, permitindo tempo para adaptação logística e busca por alternativas digitais de escoamento.
A proposta de que o setor privado pressione os importadores americanos é vista como inviável. “O comprador dos EUA vai simplesmente substituir pelo fornecedor mais barato, sem entrar em debate político”, alerta Lobo.
Tarifaço de Trump causará impacto direto nas cadeias produtivas brasileiras (Vídeo:reprodução/YouTube/@CNNBrasil)
Reflexo na cadeia tecnológica e urgência diplomática
Além das barreiras comerciais, o impasse prejudica iniciativas tecnológicas estratégicas, como o uso de blockchain para rastreabilidade de origem, certificações digitais internacionais e digitalização da logística portuária — todas são medidas que dependem de estabilidade comercial e previsibilidade regulatória.
O empresariado pede que o governo brasileiro reforce argumentos técnicos nas negociações, destacando a complementaridade produtiva entre Brasil e EUA, que pode ser traduzida em ganhos para ambos os países. No entanto, sem uma resposta rápida, o receio é que os setores se tornem “reféns da negociação”, nas palavras de Pupo.