Foi divulgado nesta quinta feira (9) um levantamento feito pelo portal G1 com dados obtidos pelo Sistema Único de Saúde via Lei de Acesso à informação que aproximadamente 40% das mulheres que fizeram um aborto autorizado por lei no Brasil entre janeiro de 2021 e fevereiro deste ano realizaram o procedimento fora do município onde residem.
Uma das diversas dificuldades que as mulheres brasileiras enfrentam é a distância para abortar no país. O Ministério da Saúde divulgou nesta semana uma cartilha na qual afirma que “não existe aborto legal” além de defender que os casos permitidos no estado brasileiro sejam submetidos a uma “rigorosa investigação policial”.
O instituto Datafolha divulgou uma pesquisa na última sexta feira (3) mostrando que 65% dos brasileiros consideram que a lei que permite aborto em casos de estupro, anencefalia e risco de vida à gestante deve permanecer como está ou ser ampliada para mais situações.
Foram 1.823 procedimentos de aborto autorizado por lei no Brasil no período. Destes, 711 ocorreram em uma cidade diferente da que a paciente morava. Deste total, 25 mulheres saíram dos seus estados para fazer o abortamento, que no Brasil é permitido por lei em três casos: anencefalia (quando o feto tem malformação no cérebro, gravidez recorrente de estupro e risco à vida da gestante.
Seis dessas 25 mulheres realizaram o procedimento a mais de mil quilômetros de onde moram.
Marcelo Queiroga, ministro da saúde, quer debater com a sociedade cartilha que ignora lei sobre aborto. (Foto Reprodução: Ueslei Marcelino/ Agência Reuters)
Segundo uma pesquisa realizada pela doutoranda em Saúde Coletiva na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Marina Jacobs, os deslocamentos feitos por transporte público das mulheres que fazem aborto legal podem levar até quatro dias e meio, e a despesa pode chegar a até R$1.218,00.
A doutoranda afirma que a distância que as mulheres precisam percorrer para acessar esse serviço pode impedir o acesso delas ao aborto seguro.
No primeiro semestre de 2020, o número de mulheres atendidas pelo SUS por causa de abortos malsucedidos foi 79 vezes maior que as interrupções legalizadas. O SUS realizou 1024 abortos legais em todo o país de janeiro a junho. Os processos de curetagem e aspiração que são usadas na limpeza do útero após a interrupção mal sucedida foram de 80.948, no mesmo período.
Foto Destaque: Grávida. Foto Reprodução/Divulgação