Ataques de Israel matam 104 pessoas em Gaza durante cessar-fogo

Exército israelense faz nova ofensiva após acusarem o Hamas de encenar a descoberta de um corpo localizado em frente a Cruz Vermelha

29 out, 2025
Khan Yunis após ataque | Reprodução / Anadolu / Getty Images Embed
Khan Yunis após ataque | Reprodução / Anadolu / Getty Images Embed

Israel fez novos ataques em Gaza que mataram pelo menos 104 pessoas, incluindo crianças. Autoridades sanitárias descreveram os ataques desta quarta (29) como o dia mais mortal desde o início do cessar-fogo mediado por Trump. O cessar-fogo foi aprovado por Israel em 9 de outubro deste ano com várias condições que incluem desde a libertação de todos os reféns israelenses vivos, a devolução dos corpos e a retirada de algumas tropas de Israel na região. O Hamas devolveu apenas 15 dos 28 corpos de reféns mortos que estavam em Gaza.

Os ataques

Os ataques começaram após Israel acusar o Hamas de matar um soldado e encenar a descoberta de um refém morto. O governo israelense confirmou que seu primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, ordenou que os militares realizassem ataques imediatos e poderosos na Faixa de Gaza. Os militares israelenses confirmaram que vão retomar o cessar-fogo, mas que seguirão a “responder com força a qualquer violação”.

Um oficial dos EUA confirmou à CNN que o país foi notificado da decisão de Israel de atacar Gaza. O Hamas nomeou os ataques de Israel de “bombardeio criminoso”, e afirmou que o acordo de cessar-fogo foi violado e que negou atacar soldados israelenses, reafirmando seu compromisso com a trégua.

O Ministério da Saúde de Gaza informou que pelo menos 104 pessoas foram mortas no ataque da noite de terça, e que entre as vítimas estão pelo menos 46 crianças e 20 mulheres. O diretor do hospital Al-Shifa, Dr. Mohammed Abu Salmiya, relatou à CNN que a situação foi catastrófica. “Não há medicamentos ou suprimentos médicos para tratar os feridos e os doentes” , completou.

O exército israelense identificou o soldado morto como Yona Efraim Feldbaum, de 37 anos, do assentamento de Zayit Raanan na Cisjordânia. A Força de Defesa de Israel (IDF) informou que ele morreu em combate no sul de Gaza e integrava o Corpo de Engenharia de Combate na Divisão de Gaza.

Um oficial militar afirmou que o Hamas atacou tropas israelenses a leste da “linha amarela” que separa Gaza ocupada por Israel do resto do território, e que as tropas que estavam na área de Rafah no sul de Gaza foram atacadas por granadas lançadas por foguetes e atiradores de elite.

Donald Trump, o mediador do cessar-fogo, falou durante viagem para a Coreia do Sul que entendia o ataque afinal “eles mataram um soldado israelense”, mas sem nomear o Hamas. Ele terminou por afirmar que nada vai comprometer o cessar-fogo e repetiu que o Hamas será eliminado. Na última terça (28), o escritório de Netanyahu afirmou que o Hamas estava em clara violação do acordo de cessar-fogo de Gaza e que os restos que foram retornados por Israel não pertenciam a nenhum dos 13 reféns que ainda estão desaparecidos.

Um funcionário israelense contou à CNN que várias opções estão sendo consideradas, entre elas a expansão da “linha amarela”,  assim ocupando o território adicional ou a retomada do corredor de Netzarim, que atravessa Gaza. Também é comentado que qualquer resposta que Israel dê é coordenada com os EUA, e que o país está cogitando restringir o fluxo de ajuda humanitária, mas Washington se opõe a essa medida.

Acusação de encenação

Militares israelenses divulgaram na última terça (28), um vídeo de drone que diz mostrar membros do Hamas enterrando um corpo enrolado em um pano branco e, em seguida, encenando sua descoberta na frente da Cruz Vermelha.

O vídeo tem a duração de quase 15 minutos e mostra três homens arrastando um corpo enrolado por um pano branco por um terreno demolido e cobrindo esse corpo com terra. Logo depois, o corpo está todo coberto por terra, uma escavadeira aparece e pega a sujeira e a deixa cair em uma pilha próxima. Momentos depois, funcionários da Cruz Vermelha chegam ao local quando o pano com o corpo está sendo retirado da terra. Os militares israelenses disseram que o Hamas está tentando criar uma falsa impressão de esforço para localizar os corpos dos reféns mortos que ainda não foram devolvidos.

A Cruz Vermelha disse em um comunicado que sua equipe não sabia que uma pessoa morta tinha sido colocada ali antes de sua chegada e completou que: “é inaceitável que uma falsa recuperação tenha sido encenada, quando há tanto em jogo para o acordo ser mantido e quando tantas famílias ainda estão ansiosamente aguardando notícias de seus entes queridos”. Eles ainda completam que concordaram em atuar em Gaza como intermediário “de boa fé” e que a situação é “extremamente desafiadora”.


Cruz Vermelha em ajuda à Gaza (Foto: reprodução / Anadolu / Getty Images Embed)

Entrega dos corpos

Após Netanyahu ter afirmado que Israel realizaria novos ataques em Gaza, o Hamas anunciou que adiaria a entrega do corpo de um refém encontrado no sul de Gaza por causa das “violações” de Israel. O Hamas também alertou que qualquer escalada de Israel irá “dificultar as operações de busca e escavação e a recuperação dos corpos” dos reféns israelenses mortos. Essa operação já resgatou três reféns israelenses e o Hamas foi designado a transferir os restos mortais de um refém para Israel através da Cruz Vermelha.

A Guerra de Israel contra o Hamas começou após os ataques terroristas de 7 de outubro de 2023, nos quais mais de 1.200 foram mortos e 251 reféns foram levados pelo Hamas para Gaza. Desde então, nestes dois anos, segundo o Ministério da Saúde de Gaza, mais de 68 mil palestinos foram mortos e mais de 170 mil ficaram feridos. Acredita-se que milhares de palestinos estejam enterrados sob os escombros.

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