Castro defende ação policial e diz que “vítimas foram os policiais”

Governador Cláudio Castro afirma que os “verdadeiros alvos” foram os agentes e pede solidariedade às famílias após operação com mais de 100 mortos no Rio

29 out, 2025
Claudio Castro I Reprodução/Instagram/@claudiocastrorj
Claudio Castro I Reprodução/Instagram/@claudiocastrorj

Durante coletiva de imprensa nesta quarta-feira (29), o governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, defendeu a megaoperação realizada nos complexos da Penha e do Alemão, na Zona Norte do Rio. A ação, que terminou com 130 mortos, sendo 128 civis e quatro policiais, foi classificada por ele como uma resposta necessária ao avanço do crime organizado. “As verdadeiras vítimas foram os policiais”, declarou o governador.

Castro afirmou que determinou apoio integral às famílias dos agentes mortos, a quem chamou de “guerreiros que tombaram em defesa do povo fluminense”. Segundo ele, o Estado continuará firme na estratégia de enfrentamento às facções, mesmo diante das críticas e do alto número de mortos. “Não recuaremos diante de criminosos fortemente armados. Nossa missão é garantir que o cidadão de bem volte a ter paz”, afirmou.

A fala do governador gerou forte repercussão entre entidades de direitos humanos e representantes da Defensoria Pública, que classificaram a operação como a mais letal da história do Rio de Janeiro. Organizações civis pedem investigação independente para apurar as circunstâncias das mortes e o uso da força por parte das polícias.

Operação mais letal da história fluminense

A chamada Operação Contenção reuniu cerca de 2.500 agentes das polícias Civil e Militar e teve como objetivo desarticular o Comando Vermelho (CV) em duas das maiores comunidades do Rio. Segundo a Secretaria de Segurança Pública, a ação foi fruto de mais de um ano de investigação da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE). O alvo principal era capturar líderes e operadores financeiros da facção, incluindo foragidos de outros estados.


 

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 Cláudio Castro sobre a megaoperação no Rio (Vídeo: Reprodução/Instagram/@portalg1)

O governo informou que o saldo final foi de 64 mortos reconhecidos oficialmente, além de 81 presos e mais de 90 fuzis apreendidos. O número de mortos, porém, é contestado por moradores e pela Defensoria Pública, que aponta ao menos 130 vítimas. O cenário pós-operação foi marcado por uma fila de corpos estendidos na Praça da Penha, imagem que gerou indignação nas redes sociais e acendeu um debate nacional sobre a política de segurança no estado.

Castro, no entanto, classificou os resultados como “expressivos” e “necessários”. Segundo ele, a operação evitou que a facção ampliasse seu domínio territorial e reforçou o controle do Estado sobre áreas dominadas pelo tráfico. “O crime se organiza, o Estado precisa agir com mais força ainda. Não podemos ser omissos diante da violência”, declarou.

Reações e apelos por responsabilização

Entidades de direitos humanos e lideranças comunitárias criticaram duramente a operação, alegando uso desproporcional da força e ausência de protocolos que garantam a segurança dos moradores. O ativista Raull Santiago, que acompanhou os desdobramentos na Penha, afirmou que “nada marca tanto quanto o choro das famílias”. Ele destacou que dezenas de corpos foram retirados por moradores antes mesmo da chegada das autoridades.

A Defensoria Pública do Rio pediu ao Ministério Público abertura de inquérito para apurar o número real de mortos e possíveis execuções extrajudiciais. Já a Anistia Internacional cobrou transparência e responsabilização pelas mortes, lembrando que o Brasil é signatário de tratados internacionais de direitos humanos que limitam o uso letal da força policial.

Enquanto o debate se intensifica, o governo mantém o discurso de que o combate ao tráfico continuará firme. Castro afirmou que “nenhum criminoso terá espaço para se esconder no Rio” e que novas operações estão sendo planejadas. A fala reforça o tom de enfrentamento que tem marcado sua gestão, ao custo de uma escalada de letalidade policial que reacende uma antiga discussão sobre até que ponto a guerra ao crime justifica o número crescente de vidas perdidas nas favelas do estado.

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