O julgamento de sete pessoas da equipe médica responsável por Maradona na ocasião de sua morte teve início nesta terça-feira (11) no Tribunal de San Isidro e provavelmente se estenderá até julho, terá três audiências por semana e conta com 192 testemunhas entre parentes, amigos, médicos, peritos e jornalistas.
Os acusados são Leopoldo Luciano Luque, neurocirurgião e médico pessoal de Maradona, o psicólogo Carlos Ángel Díaz, a psiquiatra Agustina Cosachov, a médica coordenadora Nancy Forlini, o médico Pedro Pablo Di Spagna, o enfermeiro Ricardo Omar Almirón e o coordenador de enfermeiros Mariano Perroni. Além desses, uma enfermeira será julgada a partir de julho, separadamente, porque pediu um júri popular.
Acusações se enquadram como “homicídio simples com dolo eventual” ou “homicídio por negligência”. As penas podem variar de 8 a 25 anos de prisão.
Foto e mensagens como prova
Os autores do processo são os cinco filhos e as irmãs do jogador. Segundo o advogado Mario Baudry, que representa o filho de Maradona, Diego Fernando, “Há muitas evidências de como roubaram Maradona e de como deixaram que ele morresse. É o suficiente para irem todos presos. São assinaturas falsificadas, histórias clínicas adulteradas. O que eles dizem nos áudios e mensagens é para tentar fazer com que as filhas de Diego não o levassem, porque se o fizessem, perderiam o dinheiro". Durante a audiência, foi exibida uma fotografia do corpo de Maradona inchado.
Foto de Maradona deitado é exibida em audiência (Foto: Reprodução/Youtube/scbaoficial)
As mensagens de texto e de áudio enviadas pelos envolvidos ainda serão apresentadas como prova e incluem trechos como “Ele vai morrer”, “manipulamos a história clínica", “isto acaba mal” e “podemos acabar presos”. O exame toxicológico não mostrou presença de álcool e de drogas, mas nos áudios aparece que os enfermeiros davam álcool e maconha para suprimir o comportamento característico de um dependente químico.
Apesar das evidências, os réus negam responsabilidade pela morte da lenda do futebol. Inclusive, a defesa da psiquiatra Cosachov declarou que ela cuidava da saúde mental de Maradona, mas como ele morreu por evento cardíaco, então não deveria estar nesse julgamento.
A morte e a indignação
Em novembro de 2020, Maradona passou por uma cirurgia bem sucedida para retirada de um pequeno hematoma do cérebro causado por uma pancada na cabeça, que, segundo os médicos, o jogador não lembrava. Maradona queria ficar internado na clínica e a equipe médica concordou com uma internação domiciliar, apesar dos problemas renais, neurológicos, hepáticos, cardíacos e da dependência química.
Fãs de Maradona protestam em frente ao tribunal de San Isidoro (Foto: reprodução/Luis Robayo/AFP)
O ídolo do futebol morreu no dia 25 de novembro de 2020, aos 60 anos. O jornal "La Nación" da Argentina publicou que a causa foi acúmulo anormal de líquido no pulmão devido a insuficiência cardíaca aguda, crônica e congestiva. O advogado de Maradona, Matías Morla, divulgou nota dizendo que "A ambulância demorou mais de meia hora a chegar, o que foi uma idiotice criminosa. Este fato não deve ser esquecido e peço que as consequências sejam apuradas até ao fim".
No ano seguinte, foi revelado um documento de 70 páginas, feito a pedido do Departamento de Justiça da Argentina, para reconstruir os últimos momentos do craque. Uma comissão médica de 22 integrantes concluiu que o deixaram morrer depois de 12 horas de agonia, mas que a morte poderia ter sido evitada.
Lamento e pressão popular
A ex-namorada de Maradona, Veronica Ojeda, compareceu chorando ao primeiro dia de julgamento. Dalma e Jana Maradona, filhas do ex-jogador, também estiveram no local.
Em março de 2021, Dalma, sua outra irmã Gianinna e sua mãe, a ex-mulher do jogador, Claudia, participaram de uma manifestação no centro de Buenos Aires junto a milhares de pessoas que pediam por investigações. Elas carregavam uma faixa pedindo a condenação dos culpados.
Fãs de Maradona fizeram protesto na porta do tribunal e podem se envolver em mais exigências para que a justiça condene quem fez seu ídolo passar por tudo isso.
Foto destaque: Diego Armando Maradona (Reprodução/Marcelo Endelli/Getty Images Embed)