Brasil e países aliados excluem os Estados Unidos do encontro sobre democracia na ONU

No próximo dia 24 de setembro, quarta-feira, acontece em Nova York, na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), a segunda edição do encontro “Em Defesa da Democracia e contra o Extremismo”. Esse evento, que busca fortalecer os princípios democráticos, foi criado em 2024 pelo Brasil e pela Espanha com a participação dos Estados Unidos sob a presidência de Biden que enviou um representante: o secretário de Estado, Kurt Campbell.

Decisão de Lula

Neste ano, o Brasil decidiu excluir os Estados Unidos da reunião. A decisão foi motivada pelo entendimento de que os posicionamentos do atual presidente Donald Trump não reflete um verdadeiro estado democrático, não havendo ambiente político para esse encontro, principalmente pelas sanções e o tarifaço aplicado a produtos brasileiros.  A decisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva teve o apoio de países aliados como Chile e Espanha.


 

CNN Brasil (Vídeo: reprodução/You Tube/@CNNBrasil)

Defesa da Democracia

O encontro ocorreu pela primeira vez no ano passado e tem como objetivo discutir questões como a defesa da democracia e o combate ao extremismo, um movimento iniciado por Brasil e Espanha que conta com a participação de outros 12 países: Cabo Verde, Canadá, Chile, Colômbia, Estados Unidos e França, México, Noruega, Quênia, Senegal, Timor-Leste. As nações presentes debateram ameaças à democracia e ações extremistas em diferentes partes do mundo. Reiterado o compromisso, o presidente Lula disse, na ocasião, que enquanto não houver firmeza na regulação das plataformas digitais e no uso de tecnologias de inteligência artificial, as sociedades continuarão expostas a constantes ameaças. Ele reafirmou que nenhuma empresa de tecnologia ou pessoa, independentemente de sua riqueza, está acima da lei e encerrou a fala dizendo que é necessário que assumam responsabilidade pelo conteúdo que divulgam.

O presidente brasileiro embarcou neste domingo (21) para os Estados Unidos, tem diversos compromissos agendados para a semana. Estão previstas cerca de dez reuniões bilaterais e há a possibilidade de um encontro com o presidente ucraniano Volodymyr Zelenskyy.

 

Lula expressa solidariedade ao Catar depois do ataque de Israel

Após o ataque aéreo causado por Israel, em Doha, Catar, ocorrido no dia 9 de setembro esse ano, mirando nos possíveis alvos do grupo Hamas, o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva fez um telefonema para o emir do Catar, Tamin Bin Hamad Al Thani, para prestar solidariedade em razão a este acontecimento que gerou danos civis e muita repercussão internacional. A ligação aconteceu nesta quinta-feira (18).

Ataque Israelense

Israel havia anunciado no começo de setembro que bombardeou alvos do grupo Hamas, bem na capital do Catar. Esse ataque gerou críticas pelas comunidades e foi classificado pela ONU, como uma violação de soberania. Além disso, o governo do Catar prometeu que iria dar uma resposta pela ofensiva israelense. Vale lembrar que o Catar é atualmente o mediador das negociações do cessar-fogo.


Momento do bombardeio em Doha, Catar (Vídeo: reprodução/YouTube/@Terra)

Solidariedade e preocupação quanto aos reféns

Durante a ligação, Lula manifestou preocupação de que o ataque comprometa as negociações lideradas pelo Catar com objetivo de libertar reféns mantidos por grupos na região. Ele reforçou que todo esforço diplomático deve priorizar a segurança de civis e das pessoas envolvidas em processos de libertação.

Além de demonstrar apoio ao povo do Catar, Lula também defendeu a criação de um Estado Palestino, que, segundo ele, deve existir “em paz e segurança ao lado do Estado de Israel”. A proposta é apresentada como parte de uma solução de longo prazo para o conflito, mantendo a coexistência e o respeito entre os dois lados como princípio fundamental. O presidente também criticou o ataque, dizendo que a ação israelense foi considerado um genocídio.

Convites e metas internacionais

Na conversa, Lula aproveitou e convidou formalmente o Emir do Catar para participar da COP30, que será realizada em Belém (Pará), no Brasil. Também ressaltou agradecimentos pela realização, no Catar, da Reunião de Líderes da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, programada para ocorrer no contexto de uma cúpula da ONU sobre desenvolvimento social em 3 de novembro.

Lula reage à PEC da Blindagem e diz que Congresso ignora prioridades do povo

A aprovação da PEC da Blindagem pela Câmara dos Deputados gerou reação imediata do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Durante evento nesta quinta-feira (18), em que anunciou investimentos do Novo PAC Seleções para obras de drenagem e contenção de encostas, Lula classificou a medida como “não séria” e afirmou que o Congresso deveria concentrar esforços em melhorar a vida da população. A proposta, apresentada em 2021, foi aprovada em dois turnos nesta semana e ainda precisa ser analisada pelo Senado.

PEC amplia imunidade e prevê voto secreto em casos de prisão

Conhecida como PEC da Blindagem, a Proposta de Emenda à Constituição nº 3/2021 retoma a chamada “licença prévia”, dispositivo que dá à Câmara e ao Senado o poder de barrar a abertura de processos criminais contra seus integrantes. O texto também amplia o foro privilegiado para presidentes de partidos com representação no Congresso, além de prever que pedidos de prisão contra parlamentares sejam analisados em votação secreta.

Aprovada na última terça-feira (16) por 344 votos a favor e 133 contrários, a medida foi defendida por setores do Centrão e por grupos bolsonaristas. Deputados de diferentes legendas, tanto da base governista quanto da oposição, apoiaram o voto secreto. Se confirmada no Senado, a mudança limitará a atuação do Supremo Tribunal Federal em processos contra parlamentares, tornando indispensável o aval do Legislativo para que ações criminais avancem.


Lula critica aprovação da PEC da Blindagem. (Vídeo: reprodução/YouTube/UOL)

Lula cobra prioridades e critica privilégio a políticos

Para Lula, a PEC não atende ao que a população mais necessita. “O que precisa ser sério é garantir prerrogativa de vida para o povo brasileiro, prerrogativa de trabalho, de educação. É isso que estamos precisando dar uma lição nesse país”, declarou. O presidente destacou ainda que ficou “muito chateado” com a aprovação e voltou a criticar a imunidade concedida até a presidentes de partido.

Senado será palco da próxima disputa

O texto agora segue para análise dos senadores, onde deve enfrentar resistência de parte da Casa, mas também conta com defensores da proposta, sobretudo parlamentares ligados ao Centrão. A votação no Senado será decisiva para determinar se a PEC da Blindagem vai de fato se tornar realidade, num momento em que cresce a pressão social por mais transparência no Legislativo.

Senadores dos EUA apresentam projeto para acabar com taxação contra o Brasil

Um projeto apresentado por cinco senadores americanos, sendo um deles do mesmo partido do presidente dos EUA Donald Trump, visa acabar com s tarifas impostas sobre o Brasil.

Após o anúncio de Trump sobre a taxação de produtos importados do Brasil por não concordar com o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro e também por alegar que o sistema PIX não favorece os americanos, os senadores americanos alegam que as tarifas podem prejudicar a economia do país.

Declarações sobre a taxação de Trump

O grupo parlamentar também afirma que a atitude de Trump não pode ser validada, já que a justificativa para tal medida não seria legal. O senador republicano Rand Paul classificou a atitude como “perseguição” e afirmou que tal medida deveria ser tomada pelo Congresso, ao invés do presidente.

Chuck Schumer, líder democrata, afirmou que a atitude de Trump foi apenas uma resposta do julgamento de Bolsonaro, onde alegou que a tarifa é “uma clara exploração” e pediu também apoio dos Republicanos do Congresso, para acabar com o que ele classificou como “loucura”.


Senado americano busca acabar com a taxação de Trump sobre o Brasil (Vídeo: reprodução/YouTube/UOL)

Lula tenta acordo com EUA

O presidente do Brasil Luiz Inácio Lula da Silva voltou a falar sobre a tentativa de acordo com o presidente americano, mas sem sucesso, onde afirmou que Trump não quer diálogo com o Brasil. Mesmo com a negativa de Trump, o presidente brasileiro ainda se mostra disponível para negociar.

Lula também afirma que a taxação foi dada para pressionar a anistia de envolvidos nos ataques de 8 de janeiro de 2023, após aproximação do deputado federal e filho de Jair Bolsonaro, Eduardo Bolsonaro, que está nos EUA e se aliando com apoiadores do governo americano.

Após a taxação, o Brasil teve que buscar novas alternativas para diminuir o impacto econômico e a criação do Plano Brasil Soberano, que disponibilizou crédito de R$40 bilhões, para apoiar os exportadores brasileiros, além de buscar novos parceiros comerciais, principalmente de países da Ásia,

Lula afirma que vetaria anistia a Bolsonaro

Em entrevista concedida à BBC na manhã da última quarta-feira (17), o presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que, caso um pedido de anistia a Bolsonaro chegue para sanção presidencial, será vetado integralmente imediatamente. O veto ainda pode ser derrubado pelo Congresso, porém a medida deve passar pelo Supremo Tribunal Federal (STF) que deve julgar inconstitucionalidade do projeto.

Ao longo da entrevista, o presidente ainda falou sobre uma possível concorrência com Bolsonaro em futuras eleições e a relação com Trump após tarifaço.

Para Lula, Bolsonaro teve comportamento irregular

Durante a entrevista, Lula respondeu pergunta sobre estar feliz ou ter comemorado a condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro e o mesmo afirmou que não festejou porque gostaria que ninguém tivesse cometido crime, mas já que houve crime de Bolsonaro e seus aliados eles deveriam ser punidos e cumprir a pena.

O presidente ainda completou afirmando que bolsonaristas foram pessoas que fizeram muito mal ao Brasil enquanto estiveram no poder e que articulou a morte dele, de Geraldo Alckmin e do ministro Alexandre de Moraes, além de um ataque a bomba ao Aeroporto de Brasília e que o julgamento de todos os envolvidos na trama golpista é feito pelas provas e com amplo direito a defesa.


Lula mantém posicionamento contrário a anistia (Vídeo: Reprodução/X/@bbcbrasil)

Ao ser perguntado sobre a comparação com a sua condenação em 2016, que foi anulada posteriormente pelo STF por falta de provas, Lula afirmou que diferente dos envolvidos na tentativa de golpe de Estado, o presidente não teve direito a ampla defesa e foi condenado por um chamado fato indeterminado que até hoje não foram encontradas provas de que ocorreu.

Lula diz não temer enfrentar Bolsonaro em eleição

Ao ser perguntado sobre o posicionamento de aliados de Bolsonaro ser semelhante ao de seus aliados nas eleições de 2018, Lula afirmou que os dois casos são diferentes.

Lula afirma que sua ausência no pleito de 2018 foi fruto da irresponsabilidade do juiz do caso e atualmente senador Sérgio Moro e do promotor e ex-deputado federal Deltan Dallagnol, sem que tivesse nenhuma prova contra ele.

Ainda disse que teve autorização por duas vezes da ONU para concorrer ao pleito de 2018, que foi rejeitada pelo governo brasileiro da época.


Lula durante discurso da vitória na eleição de 2022 (Vídeo: Reprodução/X/@gabrieldread)

No caso de Bolsonaro, há diversos crimes comprovados contra ele e, inclusive, está inelegível até 2030 por abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação durante reunião com embaixadores em julho de 2022, quando questionou a legitimidade das urnas eletrônicas. Além disso, com a condenação pela trama golpista, Bolsonaro só deve estar apto a se candidatar para qualquer cargo público em 2062.

Por fim, Lula afirmou que ganhou do ex-presidente em 2022 enquanto ele estava no poder e, que mesmo utilizando todos os meios possíveis para o derrotar, inclusive usando a Polícia Rodoviária Federal para bloquear estradas no interior do Nordeste e 60 bilhões de reais do orçamento da União, Lula saiu vencedor.

Lula diz que não existe relação com Trump

Ainda na entrevista, Lula foi perguntado sobre sua relação com o presidente dos Estados Unidos Donald Trump, que taxou os produtos brasileiros exportados para os EUA em 50% em julho.

Segundo Lula, não há qualquer relação entre ele e Trump porque o presidente estadunidense não quer conversar e negociar, apesar dos esforços dele mesmo e de vários ministros do governo. Mesmo sendo a melhor alternativa para resolver conflitos e problemas, os dois lados precisam estar dispostos a negociar.

Trump publicou as tarifas de 50% ao Brasil em sua rede social e o governo afirma só ter tido ciência da mesma por meio de perguntas dos jornalistas, o que mostra que Trump nunca esteve disposto a negociar.

Por fim, Lula concluiu que as tarifas vem por conta do processo que culminou na condenação de Bolsonaro por cinco crimes na trama golpista que resultaram em uma pena de 27 anos e três meses de prisão e não na relação econômica, afinal os EUA tem superávit na relação comercial com o Brasil.

O presidente ainda afirmou que os Estados Unidos querem manter o unilateralismo nas relações internacionais ao invés do multilateralismo defendido pelo Brasil.

Liderança da câmara freia anistia ampla a Bolsonaro após condenação

Após a condenação de Jair Bolsonaro por tentativa de golpe de Estado, restou o debate sobre uma possível anistia, mas a proposta enfrenta barreiras no Congresso Nacional. Fontes próximas ao presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos–PB), indicam que a iniciativa não tem o apoio político necessário, sendo vista como impopular pela sociedade. Interlocutores avaliam não haver votos para um “perdão geral”, embora haja chances de avançar uma alternativa mais branda, que não inclua a recuperação da elegibilidade de Bolsonaro.

Obstáculos para a ampla anistia no parlamento

Em um almoço com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Palácio da Alvorada, Hugo Motta recebeu um reforço da posição do governista para que o projeto não seja pautado. A dificuldade em aprovar o projeto também foi sinalizada pelo próprio Motta ao governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), que vinha intensificando as articulações em favor do ex-presidente Bolsonaro. Motta deixou claro que não pretende levar adiante uma medida que possa ser interpretada como um confronto direto com o Judiciário. A oposição, contudo, mantém o cronograma para viabilizar a anistia, mesmo diante da forte rejeição popular, com um levantamento Datafolha indicando que 54% dos brasileiros são contra a ideia.

Alternativas mais viáveis do que a ampla anistia

Enquanto a anistia total enfrenta resistências, outras frentes estão em debate. O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União–AP), articula uma proposta que altera o Código Penal para diminuir as penas dos envolvidos no 8 de janeiro, mas sem conceder um perdão amplo. A versão de Alcolumbre não trataria da situação de Bolsonaro e poderia ter mais chances de prosperar se houver consenso entre o Congresso e o STF.

Divisões internas entre bolsonaristas

Paralelamente, o movimento pró-Bolsonaro enfrenta turbulências internas. O presidente do PL, Valdemar Costa Neto, gerou um mal-estar na base ao admitir a existência de um “planejamento de golpe”, embora tenha recuado da declaração posteriormente. A fala, no entanto, ampliou a insatisfação de uma ala do bolsonarismo que já era distante do dirigente. Figuras como o ex-ministro Ricardo Salles e Fabio Wajngarten criticaram publicamente a declaração, indicando uma falta de coesão na estratégia.


Hugo Motta troca relator da “PEC da Blindagem” (Reprodução/X/@analise2025)

Outra estratégia em jogo

Caso o projeto de anistia não avance, outras medidas estão sendo avaliadas pela cúpula do Congresso. Uma delas é a possibilidade de “desenterrar” a PEC da Blindagem, que busca limitar investigações contra parlamentares. A manobra é vista como uma forma de o Legislativo enviar um recado ao Judiciário, especialmente em um momento no qual diversos congressistas são alvos de investigações.

Lula vai indicar dois ministros ao STM para julgar Bolsonaro e militares

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva pode indicar, este ano, mais dois ministros que irão julgar a perda da patente de Bolsonaro e os generais Almir Garnier, Augusto Heleno, Paulo Sérgio Nogueira e Walter Braga Netto, que foram condenados por golpe de Estado. Mauro Cid, que foi condenado por dois anos em regime aberto, não será julgado pelo STM.

A indicação será realizada após surgir duas vagas no Supremo Tribunal Militar, devido à aposentadoria compulsória de Marco Antônio de Farias e Odilson Sampaio Benzi, que vão completar 75 anos ainda este ano. Após a nomeação, Lula terá quatro ministros escolhidos em seu atual governo, que já nomeou o general Guido Amin Naves e a advogada verônica Sterman.

A composição do Supremo Tribunal Militar

O STM terá a formação de 15 ministros compostos por quatro oficiais do Exército, Marinha e Aeronáutica, todos possuindo a mais alta patente e sendo da ativa. Também contam com mais três advogados e mais dois membros do Ministério Público Militar. Todos deverão ser aprovados pelo Senado.


Militares condenados por trama golpista, serão julgados pelo STM (Vídeo: reprodução/YouTube/CNN brasil)

O julgamento será realizado após a posse dois indicados pelo presidente Lula e só julga militares que são condenados pela Justiça Civil, com penas de mais de dois anos, segundo o Estatuto dos Militares.

Curiosidades dos réus do STM

Será a segunda vez que Bolsonaro enfrentará o julgamento pelo Supremo Tribunal Militar. No final da década de 80, quando ainda era capitão, foi acusado de planejar um atentado com bombas, em unidades militares, criticando baixos salários. O ex-presidente foi absolvido, por não haver provas suficientes. Logo após o julgamento, foi transferido para a reserva e também se tornou vereador da cidade do Rio de Janeiro.

Outro nome comentado é o do general Augusto Heleno, que é um nome altamente respeitado pelo Exército, chegando a ser comandante em uma missão da ONU, no Haiti, em 2004.

 

Trama golpista: condenados devem pagar mais de R$ 1 milhão em multas

A Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) fixou penas que somam 159 anos e 7 meses de prisão, além de R$ 1,15 milhão em multas, para os oito condenados do núcleo central da trama golpista que tentou desacreditar o sistema eleitoral e abrir caminho para um golpe de Estado.

STF define penas e multas para réus da trama golpista

Jair Bolsonaro recebeu a pena mais alta: 27 anos e 3 meses de prisão, além de multa de R$ 379,3 mil. Para o relator Alexandre de Moraes, o ex-presidente atuou como líder da organização criminosa, o que ficou evidenciado pelo uso de órgãos públicos (Abin e GSI) em ações ilegais, pela difusão de desinformação em atos públicos, a exemplo da live de 2021, e pelas manifestações de 7 de Setembro. Também foram apontados a chamada “minuta do golpe” discutida com militares e aliados, o planejamento da Operação Punhal Verde-Amarelo e as tratativas para a decretação de estado de sítio.

O general da reserva Walter Braga Netto, ex-ministro da Defesa, foi condenado a 26 anos de prisão e multa de R$ 149,3 mil. De acordo com Moraes, ele teve papel central na operação articulada para barrar a posse de Lula, além de exercer pressão sobre comandantes militares e assumir a coordenação de um gabinete de crise voltado a sustentar o golpe.

O almirante Almir Garnier, ex-comandante da Marinha, foi sentenciado a 24 anos de prisão e multa de R$ 149,3 mil. Segundo o relator, ele foi o único chefe militar a aderir formalmente ao golpe, chegando a oferecer tropas a Bolsonaro e a se recusar a passar o comando ao sucessor, atitude considerada uma quebra da tradição das Forças Armadas.

O ex-ministro da Justiça Anderson Torres recebeu 24 anos de prisão e multa de R$ 149,3 mil. Para Moraes, sua responsabilidade envolveu tanto omissões quanto ações diretas, como a tentativa de usar a Polícia Rodoviária Federal para dificultar o transporte de eleitores no segundo turno e manter em casa uma minuta de decreto golpista.


Alexandre de Moraes vota pela condenação de Bolsonaro (Vídeo: reprodução/YouTube/UOL)

O general Augusto Heleno, ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, foi condenado a 21 anos de prisão e multa de R$ 125,4 mil. Segundo o relator, ele liderava um “gabinete de crise” para dar suporte institucional ao projeto golpista, com anotações e participação em reuniões estratégicas que evidenciaram seu envolvimento.

O ex-ministro da Defesa Paulo Sérgio Nogueira foi sentenciado a 19 anos de prisão e multa de R$ 125,4 mil. Moraes destacou que, embora a pena tenha sido reduzida por tentativa de mitigar os efeitos do crime, Nogueira atrasou a divulgação do relatório das Forças Armadas que confirmava a normalidade das eleições, seguindo orientações de Bolsonaro.

O ex-diretor da Abin Alexandre Ramagem recebeu 16 anos, 1 mês e 15 dias de prisão, além de multa de R$ 74,7 mil. Para o relator, ele transformou a agência em uma “central paralela de contrainteligência”, produzindo relatórios falsos que atacavam o sistema eleitoral e reforçavam as narrativas do então presidente.

O tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, teve a pena reduzida por delação premiada e cumprirá dois anos em regime aberto, mantendo sua patente militar.

Bolsonaro e aliados recebem condenações históricas

No total, as penas aplicadas aos oito réus chegam a 159 anos e 7 meses de prisão, além de R$ 1,15 milhão em multas, valor calculado com base no salário mínimo de 2023, de R$ 1.320, corrigido pelo IPCA até agosto de 2025.

O ministro Alexandre de Moraes detalhou o papel de cada réu na trama que buscava minar o sistema eleitoral e viabilizar um golpe de Estado. O julgamento é histórico, sendo a primeira condenação de um ex-presidente por tentativa de golpe. Além das consequências imediatas, como o afastamento definitivo de Bolsonaro da política, o caso terá efeitos duradouros sobre as Forças Armadas, com três ex-comandantes militares entre os condenados.

Bolsonaro pode cumprir pena em sala da PF

A eventual prisão de Jair Bolsonaro (PL) tem gerado movimentações discretas, mas estratégicas, nos bastidores do Supremo Tribunal Federal e da Polícia Federal. Para se antecipar a qualquer decisão judicial, a corporação organizou um espaço exclusivo em Brasília, preparado para receber o ex-presidente com segurança e privacidade. A medida evidência o cuidado das autoridades em lidar com figuras públicas de grande projeção, enquanto o destino de Bolsonaro ainda depende da análise de recursos apresentados pelas defesas.

Uma cela fora do comum

A sala reservada foi montada na Superintendência da PF no Distrito Federal e difere completamente das celas comuns do sistema prisional. O espaço inclui cama, cadeira, televisão e banheiro privativo, garantindo condições mais seguras e controladas para um ex-chefe de Estado. Fontes ligadas à corporação destacam que a adaptação segue protocolos já aplicados a autoridades de grande projeção pública.

O precedente histórico

A medida não é inédita. Em 2018, Luiz Inácio Lula da Silva cumpriu parte de sua pena em uma instalação semelhante na sede da PF em Curitiba. À época, o argumento foi o mesmo: preservar a integridade do preso, evitar tumultos em presídios convencionais e minimizar riscos à segurança. Agora, a estratégia se repete, com a expectativa de que Bolsonaro, caso condenado em definitivo, receba tratamento parecido.


 

Ex-presidente Jair Bolsonaro no STF (Foto:Reprodução/Ton Molina/STF)

Papuda como alternativa

Embora a cela da PF esteja pronta, não está descartado que Bolsonaro seja encaminhado à Penitenciária da Papuda, em Brasília. Nesse cenário, ele ocuparia uma ala reservada, já utilizada anteriormente para políticos envolvidos no escândalo do mensalão e, mais recentemente, para parte dos acusados de participação nos atos de 8 de janeiro. Essa possibilidade, no entanto, divide opiniões: enquanto alguns defendem a necessidade de um espaço em presídio oficial, outros avaliam que a permanência sob custódia da PF oferece maior controle.

Recursos ainda em curso

Por enquanto, não há prazo definido para a execução de eventual pena. As defesas dos investigados ainda têm direito a apresentar recursos, incluindo pedidos de prisão domiciliar. Esses questionamentos serão analisados pela Primeira Turma do STF, e apenas após o julgamento é que poderá ser determinada a prisão. Ou seja, mesmo com toda a preparação, a decisão final pode levar tempo para sair.

Um gesto de antecipação

O simples fato de a PF ter organizado a sala já é interpretado como um movimento de antecipação. Mais do que preparar um espaço físico, trata-se de uma sinalização política e institucional: a de que, se houver ordem judicial, não haverá improviso. O episódio também reacende discussões sobre privilégios concedidos a ex-presidentes e a maneira como o Brasil lida com lideranças políticas após o fim do mandato.

Lula critica Bolsonaro e afirma que país vive “momento delicado”

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta terça-feira (9), durante a cerimônia de implementação do Programa União com Municípios pela Redução do Desmatamento e Incêndios Florestais, que o Brasil vive um “momento delicado” e que o ex-presidente Jair Bolsonaro sabe que cometeu “burrice”.

A fala ocorre em meio ao julgamento no STF que pode condenar Bolsonaro e outros sete réus por tentativa de golpe de Estado, no qual a PGR o acusa de liderar uma organização criminosa para impedir a posse de Lula entre o fim de 2022 e o início de 2023.

Lula também mencionou o filho do ex-presidente, deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), criticando sua mudança para os Estados Unidos e a tentativa de pressionar o governo americano contra o Brasil e o STF.

“Nós estamos vivendo um momento delicado no Brasil. Você está vendo brasileiro, que foi candidato eleito pelo povo brasileiro, que cometeu as burrices que cometeu, que sabe que cometeu, que está sendo julgado e que mandou o filho para os Estados Unidos pedir para o governo Trump taxar o Brasil”, afirmou.

Crítica à tentativa de anistia

O presidente condenou a tentativa da oposição de aprovar uma lei de anistia que beneficiaria Bolsonaro e outros réus, afirmando que não cabe perdão nesse caso e lembrando que, quando foi preso, cumpriu a lei em vez de fugir do país.

“Essa gente está sendo julgada pelos desmazelos que fez. Não adianta ficar pedindo anistia, ele nem foi condenado ainda. Em vez de ficar se defendendo, já tá pedindo anistia. Quando me prenderam, eu poderia ter saído do Brasil. Eu preferi ir pra PF”, disse Lula.


Lula durante discurso em Manaus (Vídeo: reprodução/YouTube/UOL)

Até a noite de ontem, os ministros Alexandre de Moraes e Flávio Dino foram os primeiros a votar, ambos a favor da condenação dos oito réus.

Defesa da soberania nacional

Lula também aproveitou a ocasião para rebater as ameaças do governo Trump e  afirmou que ninguém vai meter o “bedelho” no Brasil.

“Este país precisa passar por esse momento histórico de cabeça erguida. Esse país é soberano. Esse país já fez sua independência. Esse país tem mulheres, homens e crianças que têm orgulho de ser brasileiro. Não precisamos de ninguém metendo bedelho no nosso país. Cada um cuida do seu nariz. Do nosso terreiro cuidamos nós. Do nosso quintal cuidamos nós”, concluiu.

A declaração de Lula ocorre após a porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, afirmar que o governo dos EUA estaria disposto a usar meios militares para defender a liberdade de expressão globalmente, em referência a uma possível condenação de Bolsonaro.