Logística de hospedagem para a COP30 em Belém passa por crise

79 países têm hospedagem garantida, mas 70 estão sem definição; a crise de preços, a dependência de navios e os aluguéis por temporada desafiam a organização

17 set, 2025
Logotipo da COP30  | Reprodução/Algi Febri Sugita/SOPA Images/LightRocket/Getty Images Embed
Logotipo da COP30 | Reprodução/Algi Febri Sugita/SOPA Images/LightRocket/Getty Images Embed

A menos de dois meses da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), que acontecerá em Belém, no Pará, a organização do evento enfrenta um grande desafio em relação à hospedagem das delegações internacionais. Apesar de o governo brasileiro ter confirmado que 79 países já garantiram suas acomodações, outros 70 continuam em negociação. A situação é agravada pelos preços considerados abusivos e pela dependência de opções não convencionais, como navios e aluguéis por temporada, que geram críticas e preocupações quanto à inclusão dos países menos ricos.

Preços abusivos e as alternativas

Apesar de o governo federal ter garantido que há mais de 42 mil quartos disponíveis na capital paraense, as delegações estrangeiras reclamam da escalada de preços. Diárias em hotéis chegam a US $600, enquanto pacotes de aluguel por temporada podem atingir preços exorbitantes, como R$ 1,2 milhão por 11 noites. Essa realidade tem forçado delegações a recorrer a soluções alternativas, como a locação de navios de cruzeiro, que, embora ofereçam milhares de cabines, são vistos como distantes do centro de eventos e com preços que podem ser até nove vezes mais caros do que em cruzeiros regulares. A dependência de plataformas como o Airbnb e o Booking também é grande, com mais de 23 mil anúncios disponíveis.


Fachada do recém-renomeado hotel da COP30, localizado no centro de Belém, estado do Pará, Brasil (Foto: reprodução/Anderson Coelho/AFP/Getty Images Embed

ONU aumenta a diária oferecida, mas ainda não é suficiente

Para tentar mitigar o problema, a ONU aumentou o valor da Diária de Subsistência (DSA) para delegações de nações em desenvolvimento. O subsídio passou de US$ 144 para US$ 197. A mudança foi solicitada pela presidência brasileira da COP, mas, segundo o governo, o valor ainda está aquém da realidade de Belém, onde as diárias oficiais podem custar o dobro ou o triplo do subsídio. O Brasil chegou a sugerir à ONU uma taxa ‘ad hoc’ exclusiva para a COP30, mas a proposta foi recusada.


Parque da Cidade de Belém, sede da COP30, em sua fase final de construção (Foto: reprodução/Anderson Coelho/AFP/Getty Images Embed

A ONU também solicitou ao governo brasileiro que ajudasse financeiramente a pagar parte da hospedagem das delegações de países em desenvolvimento. O Brasil recusou essa proposta. A negativa se deu porque a responsabilidade financeira da hospedagem, historicamente, recai sobre a ONU e os  próprios países participantes, não sobre a nação anfitriã.

ONU recomenda redução de delegações

Diante das limitações logísticas da cidade, o secretário-executivo da Convenção do Clima da ONU (UNFCCC), Simon Stiell, recomendou oficialmente que as agências da ONU e suas organizações parceiras reduzam o tamanho de suas delegações. O alerta visa especialmente as “credenciais extras” (overflow badges), que representaram mais de 14 mil participantes, buscando aliviar a pressão sobre a infraestrutura de Belém. A ONU também promete ampliar a participação virtual para facilitar o acompanhamento do evento à distância.


Belém, Pará (Foto: reprodução/Carlos Fabal/AFP/Getty Images Embed)

A discrepância de valores tem gerado preocupações, já que a falta de recursos pode comprometer a participação de países mais pobres e vulneráveis às mudanças climáticas. Uma força-tarefa foi criada para negociar individualmente com as delegações, flexibilizar regras de reserva e fiscalizar preços abusivos. Apesar dos desafios, o país se mantém firme em sediar o evento, com as obras de infraestrutura dentro do cronograma.

 

Mais notícias