Se há algo que os sul-coreanos sabem fazer, além de dominar o mundo com K-pop e doramas, é expressar suas opiniões com fervor. E foi exatamente isso que se viu nas ruas de Seul nos últimos dias. Centenas de manifestantes se reuniram, agitando bandeiras dos Estados Unidos e carregando faixas exaltando Donald Trump. O pedido? Que o atual presidente americano declare apoio ao atual presidente sul-coreano, Yoon Suk-yeol.
A cena avistada nas ruas da cidade mostravam cartazes em inglês e coreano, discursos emocionados e chapéus vermelhos com a icônica frase “Make America Great Again” . Mas por que Trump, um político norte-americano, é o centro das atenções em um momento tão decisivo para a política da Coreia do Sul?
O presidente acusado de impeachment, Yoon Suk-yeol, participa de uma audiência em seu julgamento de impeachment no Tribunal Constitucional em 21 de janeiro de 2025 em Seul, Coreia do Sul (Foto: reprodução/Kim Hong-Ji/Pool/Getty Images Embed)
Trump: o ‘aliado distante’ que ainda gera esperanças
Para entender esse enredo, é preciso mergulhar no contexto. Yoon Suk-yeol, que chegou ao poder em 2022 como um líder conservador, vem buscando laços estreitos com os Estados Unidos em questões cruciais, como a segurança nacional. Não é segredo que a Coreia do Sul viva sob a constante sombra das ameaças da vizinha Coreia do Norte. E, para muitos, fortalecer a aliança com Washington é uma maneira de manter o equilíbrio no tabuleiro geopolítico.
É aqui que Trump entra em cena. Durante seu mandato, ele foi o primeiro presidente norte-americano a se reunir com o líder norte-coreano Kim Jong Un — um gesto histórico, ainda que controverso. Para manifestantes como Kim Soo-jin, de 68 anos, Trump representa a força necessária para apoiar Yoon: “Ele é um líder que não tem medo de enfrentar os poderosos. Precisamos de sua vitória para manter nossa segurança”, disse ela, vestida com as cores da bandeira americana.
Nem todos compram essa ideia
Apesar da emoção dos manifestantes, muitos sul-coreanos enxergam uma situação com ceticismo, especialmente os jovens. Lee Min-kyu, de 24 anos, observava o protesto enquanto voltava para casa. “É bizarro. Eles tratam Trump como um salvador, mas ele nem tem nada a ver com nossa política. Temos problemas maiores para resolver aqui”, comentou com um riso nervoso.
Esse sentimento reflete o dilema enfrentado por Yoon Suk-yeol. Enquanto seus apoiadores comemoram sua postura pró-EUA, seus críticos acusam de negligência em problemas internos, como a alta inflação e o envelhecimento acelerado da população. E Trump, nesse contexto, parece mais um símbolo político do que uma solução prática.
Apoiadores do presidente sul-coreano, Yoon Suk-yeol, participam de uma manifestação depois que um mandado foi executado para deter o presidente de impeachment, Yoon, em 15 de janeiro de 2025, em Seul, Coreia do Sul (Foto: Reprodução/Chung Sung-Jun/Getty Images Embed)
E o próprio Trump, o que pensa disso tudo?
Até o presente momento, Trump não emitiu nenhum comentário sobre os distúrbios em Seul. O foco ainda se concentra na sua própria luta nos Estados Unidos, que inclui a sua tentativa de ganhar a nomeação do partido republicano nas eleições de 2024 e os processos judiciais que ainda pendem sobre sua cabeça. Contudo, sua personalidade popular ainda ecoa pelo cenário global, podendo assumir o papel de símbolo de força ou de personagem controverso.
A Coreia do Sul no fio da navalha
Enquanto os manifestantes guardam suas faixas e cartazes, fica a pergunta: até que ponto o apoio de um líder estrangeiro — mesmo que simbólico — pode realmente influenciar os rumores da política sul-coreana? Talvez a resposta não esteja nos Estados Unidos, mas nas ruas de Seul, onde vozes como as de Kim Soo-jin competem com o ceticismo de jovens como Lee Min-kyu.
O futuro de Yoon Suk-yeol depende de como ele navegará por esses desafios — uma mistura de diplomacia externa e demandas internas. No final das contas, a Coreia do Sul segue sendo palco de reviravoltas dignas, onde as emoções estão sempre à flor da pele.
Foto destaque: a Coreia do Sul passar por momentos delicados envolvendo seu representante político, o presidente Yoon Suk Yeol (Reprodução/Daniel Bernard/Unsplash)