Diversos protestos foram iniciados após a morte da jovem Mahsa Amini, de 22 anos, morta enquanto estava sob custódia da chamada “policia da moralidade”. As manifestações que já duram vários dias no Irã, geraram um aumento na tensão do país e decorrente disso uma série de condenações internacionais estão sendo feitas, devido à violência que a resposta das forças de segurança iranianas esta praticando. Cerca de 41 pessoas foram mortas desde o início dos protestos, e mais de 1.200 foram detidas, de acordo com o balanço oficial.
Mulheres durante protestos que ja passam de 40 mortos (Foto: Reprodução/Folha)
Porém, de acordo com a ONG Direitos Humanos do Irã (IHR), o número de mortos pode chegar a 76:
“De acordo com informações coletadas pela IHR, pelo menos 76 pessoas morreram nas manifestações[...]"Seis mulheres e quatro crianças” — a ONG também afirma que obteve “vídeos e certidões de óbito confirmando que balas reais foram disparadas contra manifestantes” declaração feita após denúncias de que munições letais e de borracha estariam sendo usadas para reprimir as manifestações.
Mahsa Amini, foi detida em Teerã dia 3 de setembro por “violar as regras” que exigem o uso de um véu (hijab) que deve cobrir por completo o cabelo, e supostamente o da jovem não estaria de acordo. Ela morreu no hospital três dias após ser detida, segundo a polícia o motivo da morte teria sido um enfarte fulminante.
De acordo com a família de Amini, a mesma não possuía doenças preexistentes. Grupos de defesa dos direitos humanos afirmam — citando supostos documentos do hospital — que ela levou uma forte pancada na cabeça. Já o ministro do Interior, Ahmad Vahidi, disse em declaração que a jovem não foi agredida e que é necessário “aguardar o relatório final” do médico legista responsável.
Os protestos
As manifestações foram feitas em diversas cidades, sendo os maiores protestos realizados no Irã em quase três anos. Mulheres retiraram e queimaram seus véus, cortaram o cabelo e gritaram frases de protesto contra as autoridades. Em locais como Tabriz e Shiraz, algumas dançaram perto de enormes fogueiras enquanto eram aplaudidas pela multidão presente, que gritavam “mulher, vida, liberdade”.
Iraniana cortando seu cabelo durante manifestação (Foto:Reprodução/GZH)
Frases contra o líder supremo do país, o aiatolá Ali Khamenei, de 83 anos, como “morte ao ditador” foram entoadas na capital de Teerã.
Em entrevista ao jornal O Globo a iraniana Yasi, de 20 anos, uma das mulheres participantes das manifestações disse: “Continuo pensando que Mahsa poderia ser eu. Poderiam ser minhas amigas, minhas primas. Você não sabe o que eles vão fazer com você”.
A jornalista, Niloufar Hamedi, do Shargh, um diário iraniano, foi a responsável por trazer a tona a história de Amini. Niloufar foi presa na última semana e vem sendo mantida em confinamento solitário na prisão de Evin, segundo seus colegas. Em entrevista a ativista de Isfahã dos direitos das mulheres, Golshan, 28 anos diz que reuniu grupos de amigos todas as noites para gritar: “Não ao hijab, não à opressão, apenas direitos iguais!”.
“Queremos ser ouvidas. Não temos um líder. A beleza e a força do nosso movimento é que cada uma de nós aqui é líder”, disse ainda a jovem Golshan.
Iranianas estão a frente dos protestos antigovernamentais (Foto:Reprodução/Yahoo)
Situações anteriores
Entre os anos de 2013 a 2021, o presidente Hassan Rouhani tinha um olhar mais moderado e flexível, algo com oque os jovens iranianos se acostumaram, conforme a policia da moralidade se tornava menos rigorosa. Mulheres passaram a usar maquiagens mais pesadas, bainhas mais curtas e lenços mais soltos. As roupas que antes ficavam restritas a tons escuros tornaram-se mais coloridas, com enfeites.
Governos, incluindo o de Rouhani, com frequência reprimiam o descumprimento do uso do hijab aplicando multas, prisões e advertências verbais. Porém, após a posse de Ebrahim Raisi, regras sociais e religiosas rígidas foram reforçadas.
Em julho deste ano, o atual presidente Raisi, ordenou que todas as “entidades e instituições responsáveis” elaborassem estratégias para aumentar a obrigatoriedade do uso do hijab. Segundo ele as violações do uso, estavam prejudicando os valores da República Islâmica e “promovendo a corrupção”.
“Conspirações” tramadas no exterior
O movimento de protestos vem sido atribuído a “conspirações” tramadas no exterior, segundo o Irã, que vem acusando os EUA e seus aliados. Hossein Amir Abdolahian, porta-voz do ministério das Relações Exteriores, criticou a “abordagem intervencionista americana nos assuntos do Irã[...], incluindo suas ações provocativas em apoio aos desordeiros”.
Manifestações ja passam de 10 dias e ocorrem por todo o país (Foto:Reprodução/GZH)
Repercussão internacional
O embaixador do Irã foi convocado pela Alemanha para “discutir” a violência das forças de segurança durante os protestos. Já o governo canadense anunciou diversas sanções contra indivíduos e entidades do país, incluindo a “policia da moralidade” que é oficialmente chamada no país onde atua de Patrulha da Orientação.
O primeiro-ministro Justin Trudeau disse em entrevista coletiva que “Juntamos nossas vozes às milhões de pessoas ao redor do mundo exigindo que o governo iraniano ouça seu povo, acabe com a repressão de liberdade e direitos e permita que mulheres e todos os iranianos vivam suas vidas e se expressem pacificamente”.
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, comentou as manifestações durante seu discurso na Assembléia Geral da ONU, elogiando as “mulheres corajosas” do Irã.
Foto Destaque: Manifestantes com foto de Mahsa Amini / Reprodução: UOL