Investigações relacionadas ao inquérito do golpe revelaram que uma das estratégias do grupo envolvido era enfraquecer a atuação da Polícia Federal (PF), comprometendo sua autonomia para conduzir investigações. Entre as ações discutidas, estava a centralização de decisões sobre inquéritos, limitando a independência dos delegados e direcionando apurações que poderiam impactar os líderes do movimento golpista.
Articulações para controle da PF
Um dos pontos- chaves do inquérito é a proposta do então diretor-geral Alexandre Ramagem de restringir a autonomia dos delegados da Polícia Federal. Segundo as investigações, Ramagem sugeriu ao ex-presidente Jair Bolsonaro que todas as investigações fossem centralizadas na Diretoria-Geral. O objetivo seria facilitar a manipulação de inquéritos sensíveis, especialmente aqueles relacionados ao Supremo Tribunal Federal (STF) e a atos antidemocráticos.
O documento aponta que essa centralização permitiria influenciar diretamente o andamento de apurações desfavoráveis ao grupo político e proteger aliados próximos, demonstrando um esforço coordenado para minar a imparcialidade da instituição.
Alexandre Ramagem e Bolsonaro em campanha (Foto: reprodução/Mauro Pimentel/AFP)
Impacto no funcionamento da PF
Especialistas alertam que, caso concretizada, essa estratégia comprometeria gravemente a capacidade da PF de atuar de forma independente, especialmente em investigações de corrupção e crimes contra a democracia. Delegados relataram preocupações internas sobre as pressões políticas enfrentadas no período, reforçando a importância da independência estrutural da corporação.
O inquérito também revelou que a interferência na PF fazia parte de um movimento maior, que buscava enfraquecer outras instituições- chave, como o STF e a Procuradoria-Geral da República (PGR), ampliando o poder do Executivo sobre os mecanismos de controle.
Repercussões políticas e jurídicas
As revelações aumentam a pressão sobre figuras ligadas ao governo Bolsonaro, levantando questionamentos sobre o papel de altos escalões na tentativa de enfraquecer as instituições democráticas. Ramagem, por sua vez, defende que suas propostas visavam apenas "modernizar" a estrutura da PF.
O impacto dessas revelações no cenário político e jurídico promete ser duradouro, especialmente conforme novas evidências venham à tona nas investigações em curso.
Foto destaque: Alexandre Ramagem, ex-diretor da ABIN (Reprodução/Marcos Oliveira/Agência Senado)