Um relatório final da Polícia Federal (PF), aponta que a viagem de Jair Bolsonaro para Orlando, nos Estados Unidos, em dezembro de 2022, teria sido motivada por estratégias para evitar sua prisão e monitorar os desdobramentos das manifestações antidemocráticas que culminaram nos atos violentos de 8 de janeiro de 2023. O documento indica que o ex-presidente buscava, à distância, observar o cenário político no Brasil e aguardar oportunidades para se reposicionar.
Planejamento estratégico da viagem
De acordo com o relatório nº 4546344/2024 da PF, a ida de Bolsonaro para Orlando, poucos dias antes do término de seu mandato, não foi apenas uma decisão pessoal ou protocolar. A análise das mensagens e documentos coletados durante as investigações sugere que a viagem fazia parte de um plano mais amplo. O objetivo seria criar um distanciamento estratégico do Brasil, permitindo a Bolsonaro evitar possíveis ações judiciais enquanto observava os desdobramentos políticos e jurídicos do período pós-eleitoral.
A investigação indica que o ex-presidente acreditava que sua presença fora do país poderia dificultar iniciativas legais contra ele. Além disso, a viagem ocorreu em um contexto de crescente tensão política, alimentada por narrativas de fraude eleitoral disseminadas pelo núcleo de apoio do ex-presidente desde 2019.
Conexão com os eventos de 8 de janeiro
O relatório detalha que, enquanto estava em Orlando, Bolsonaro manteve contatos frequentes com aliados próximos no Brasil, que atuavam para mobilizar seus apoiadores. A intenção seria sustentar manifestações em frente a quartéis e amplificar um discurso de resistência, culminando nos atos de invasão ao Congresso Nacional, ao Supremo Tribunal Federal e ao Palácio do Planalto.
Apesar de estar fisicamente afastado, Bolsonaro acompanhou os desdobramentos e as ações de seus apoiadores, que, segundo a PF, estavam alinhadas a estratégias planejadas previamente para desacreditar o sistema eleitoral e pressionar as instituições democráticas.
Jair Messias Bolsonaro em evento do Dia do Soldado (Foto: reprodução/Gabriela Biló/Folhapress)
Repercussões do relatório
O relatório sugere que a viagem aos Estados Unidos pode ter sido um movimento calculado para criar dificuldades processuais e evitar uma eventual prisão preventiva em solo brasileiro. O documento também destaca que sua ausência prolongada do país dificultou avanços em algumas etapas das investigações ampliou as tensões sobre sua eventual responsabilização pelos atos antidemocráticos.
Com a divulgação do relatório, cresce a pressão por desdobramentos jurídicos e políticos em torno da conduta de Bolsonaro durante e após seu mandato. A permanência do ex-presidente fora do Brasil e suas ações relacionadas aos eventos de 8 de janeiro continuarão no centro das investigações.
Foto destaque: Jair Messias Bolsonaro (Reprodução/Mauro Pimentel/Getty Images Embed)