Abate de bovinos para os EUA é suspenso após tarifa de 50% de Trump

Frigoríficos brasileiros param abate para os EUA devido à tarifa de 50% de Trump, afetando mercado interno e calculando novas rotas para exportação de carne

15 jul, 2025
Lombo suíno fresco dispostos em exposição | Reprodução: Getty Images Embed
Lombo suíno fresco dispostos em exposição | Reprodução: Getty Images Embed

Grandes empresas como JBS, Marfrig e Minerva Foods suspenderam o abate de bovinos destinados aos Estados Unidos. A medida é uma resposta direta ao anúncio do presidente americano Donald Trump, em 9 de julho, de uma tarifa adicional de 50% sobre todos os produtos brasileiros, com vigência a partir de 1º de agosto. Essa imposição transforma a carne bovina brasileira em um produto inviável para o mercado americano, gerando um efeito dominó que atinge pecuaristas, frigoríficos e, em breve, pode influenciar o bolso do consumidor brasileiro.

A tarifa e seus primeiros efeitos

A decisão de Trump, comunicada por carta ao presidente Lula, é justificada pelo comércio com o Brasil não ser positivo e pela perseguição ao ex-presidente Jair Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal (STF). No entanto, dados do Ministério do Desenvolvimento indicam que os EUA têm um superávit comercial com o Brasil desde 2009. A tarifa de 50%, somada aos 26,4% já existentes para volumes acima de 65 mil toneladas, eleva o custo por tonelada da carne para cerca de US$ 8.590, inviabilizando qualquer competitividade.


Estoque de cortes de carne bovina frescos (Foto: reprodução/Getty Images Embed)

A paralisação do abate de gado com destino aos EUA é uma estratégia de sobrevivência. Cerca de 30 mil toneladas de carne bovina estão atualmente em portos ou a caminho dos EUA, e a tarifa pode gerar perdas financeiras maciças caso a exportação ocorra após 1º de agosto. Mato Grosso do Sul, um dos maiores exportadores, sente o impacto de forma aguda, com empresas como Naturafrig redirecionando sua produção para outros mercados, como China, Chile e o próprio Brasil. Segundo Jaime Verruck, secretário de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação de MS, essa realocação rápida é um desafio, já que a carne é um produto perecível.

Perspectivas para a carne brasileira

Os Estados Unidos são o segundo maior comprador de carne bovina brasileira, atrás apenas da China. Em 2024, o mercado americano representou 18,42% das exportações de carne de Mato Grosso do Sul, movimentando US$ 235,5 milhões. A alta demanda americana se deve à redução do rebanho local, impactado por secas, o que tornava a carne brasileira, mais barata, essencial para produtos como hambúrgueres.

A consequência mais visível será o aumento do estoque de carne nos frigoríficos e a inevitável pressão para a queda dos preços no mercado interno. Isso pode beneficiar o consumidor final, mas trará perdas significativas para os pecuaristas, que verão a arroba do boi desvalorizar.

A longo prazo, a saída é buscar a diversificação de mercados, intensificando exportações para a Ásia (China, Japão, Coreia do Sul), Oriente Médio e África. No entanto, a adaptação a novos mercados exige tempo e investimentos em logística e em negociações comerciais, com a concorrência de outros exportadores, como a Austrália, tornando o cenário ainda mais complexo. O governo brasileiro, por sua vez, prioriza o diálogo diplomático para reverter a situação, considerando a Lei da Reciprocidade Econômica apenas como última alternativa, para evitar uma guerra comercial com um parceiro econômico tão relevante.

Mais notícias