Saúde

Excesso de redes sociais por adolescentes abre discussão sobre transtorno mental

Se aprovada; a ideia poderá integrar o manual de estatísticas e diagnósticos da psiquiatria global e a condição entrará na lista de classificação do CID

06 Mai 2025 - 20h00 | Atualizado em 06 Mai 2025 - 20h00
Excesso de redes sociais por adolescentes abre discussão sobre transtorno mental Lorena Bueri

Recentemente um Grupo de cientistas propõe reconhecer oficialmente a relação nociva de alguns adolescentes com as redes sociais e a internet como um novo transtorno mental. Se a iniciativa avançar e for aprovada, ela poderá ser incorporada ao manual de diagnósticos e estatísticas da psiquiatria, o DSM, que influencia políticas públicas globalmente. Os defensores também querem que essa condição seja incorporada na Classificação Internacional de Doenças (CID), que é uma lista de códigos da Organização Mundial da Saúde (OMS) usada para classificar doenças, condições de saúde e lesões.

A discussão 

A discussão ganhou destaque nesta semana com a publicação de um artigo na revista científica JAMA, da Associação Médica Americana, que propõe critérios para distinguir o uso excessivo de mídias sociais de um distúrbio clínico. O estudo foi conduzido pela Universidade de Stony Brook, em Nova York, sob a coordenação da sanitarista Lauren Hale, e avaliou o impacto do tempo excessivo de tela na vida de adolescentes voluntários.

Baseado em um critério progressivo para avaliar diferentes níveis de alcoolismo, o pediatra Dimitri Christakis, da Universidade de Washington, sugeriu uma escala para estabelecer a gravidade da relação patológica dos jovens com as redes sociais, considerando o tempo dedicado a esses meios.


Embed from Getty Images

Adolescente acessa a internet em mídias sociais pelo celular (Foto: reprodução/Matt Cardy/Anna Barclay/Getty Images Embed)


Ambos argumentam a urgência da situação. Nos EUA, por exemplo, mais de 95% dos adolescentes possuem smartphones, profissionais de saúde necessitam de um sistema de classificação para lidar com o problema. É amplamente aceito entre psicólogos e psiquiatras que adolescentes que enfrentam dificuldades na escola, no trabalho ou nas relações pessoais necessitam de auxílio.

"Implementar essa classificação é uma necessidade urgente", afirmam Hale e Christakis. "Enquanto acadêmicos debatem de forma abstrata, mais de 6 milhões de adolescentes americanos já demonstram sinais de consumo excessivo de mídia, e uma parcela significativa provavelmente sofre de transtorno de uso de mídia".

A proposta inicial é definir limites de tempo para o uso de redes sociais e internet, a fim de identificar indivíduos com dificuldades. No entanto, os cientistas também reconhecem, que será necessário discutir o conteúdo consumido, pois fenômenos como bullying e a disseminação de conteúdo preconceituoso ou ofensivo estão relacionados ao problema.

"Embora o debate sobre a existência de transtornos como vício em videogames, internet ou uso problemático de mídias sociais continue entre estudiosos e a indústria, o tempo gasto em dispositivos substitui de forma sutil e dramática as interações presenciais", alertam os cientistas.

Impasses na academia

A discussão sobre criar uma nova categoria diagnóstica para esse problema não é nova. O vício em videogames, por exemplo, chegou a ser considerado para inclusão nos manuais de diagnóstico, mas a decisão não teve consenso. A Organização Mundial da Saúde incorporou a classificação como transtorno, no entanto, a comissão do DSM optou por não adotá-la.

Um ponto importante do debate é se a criação de transtornos específicos realmente contribui para compreender um problema comportamental mais amplo e complexo. Pode não haver um mecanismo psíquico exclusivo que justifique um novo transtorno relacionado ao vício em redes sociais.

Uma das opiniões divergentes sobre o tema é a do psiquiatra Luis Augusto Rohde, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, que participou da equipe responsável pela edição 5 do DSM, atualmente em uso.  

“Há muito ruído e pouca fundamentação científica apoiando essas questões”, afirma o especialista. E complementa dizendo que “é importante que busquemos compreender melhor os efeitos da internet e, especialmente, das redes sociais em certos quadros, mas a adoção de novos diagnósticos exige maior cautela”.

Rohde questiona, se criar categorias específicas pode dificultar a compreensão do problema ao invés de ajudar. “Tudo que envolve gratificação e prazer tem potencial para compulsão. Devemos criar transtornos separados para compras compulsivas, compulsão por comida ou jogos? Talvez o diagnóstico mais adequado seja de transtorno de controle de impulso, que abarque essas manifestações?

Alguns defensores da proposta argumentam que, mesmo que a criação de um transtorno seja arbitrária, isso facilitaria a atuação de profissionais de saúde, incluindo no acesso a recursos de financiamento e reembolso para terapias. Por exemplo, muitos pedidos de licença ou reembolso exigem a inclusão de um código da CID ao preencher formulários.

Relação de causa e efeito

Outro tema em debate é até que ponto a compulsão por mídias sociais constitui causa ou consequência de ansiedade e depressão. Pesquisas, especialmente com meninas, indicam que há uma relação bidirecional.

"Esse vício resulta de uma combinação de fatores psicológicos, como baixa autoestima e problemas de saúde mental, mecanismos tecnológicos como rolagem infinita e notificações personalizadas, além de influências sociais, incluindo pressão dos colegas e exposição a conteúdos idealizados", explica a psicopediatra do Instituto de Neurociências e Psicologia Comportamental da Califórnia, Jashvini Amirthalingam, que revisou estudos recentes na área.

Ela destaca que esse universo é uma grande fronteira na pesquisa sobre saúde mental infantil e adolescente. "As plataformas deveriam promover conexão, mas também podem gerar hábitos obsessivos, principalmente em jovens vulneráveis", complementa.

Diante da complexidade do conteúdo, Christakis e Hale admitem que estabelecer limites de tempo não cobre toda a discussão, mas consideram que é um começo válido. "O dia tem poucas horas. Como adolescentes precisam dormir de oito a dez horas e passar cerca de seis na escola, aqueles que usam seus celulares por nove horas diárias (15% dos nossos dados) provavelmente o fazem durante as aulas ou deixam de dormir para isso", escrevem os pesquisadores. "Essa condição, por si só, deveria gerar preocupação ou intervenção".

Por outro lado, Rohde alerta que é difícil dissociar o tempo de uso do conteúdo consumido: “O tempo de tela explica uma variação muito pequena no bem-estar mental dos adolescentes”, afirma. “Outros fatores, como a desestrutura familiar, a falta de supervisão ou pais ausentes, também influenciam”.

Orientações

O debate sobre a abordagem institucional frente à relação tóxica de crianças com telas, redes sociais e videogames continua em andamento, mas os especialistas já buscam orientar os pais que lidam com esses desafios.

A OMS publicou diretrizes recomendando que o uso de dispositivos seja evitado por crianças menores de 2 anos, e que, para crianças entre 2 a 4 anos, o tempo de tela não ultrapasse uma hora por dia, sempre sob supervisão. O objetivo é promover interação social presencial e evitar sedentarismo, seja por jogos, desenhos ou qualquer atividade digital. Grupos compostos por psicólogos e pediatra também elaboram orientações para crianças mais velhas e adolescentes, que usam redes sociais. 

A Academia Americana de Pediatria não estabelece um limite de tempo para a faixa etária, acima dos 11 anos, mas recomenda atenção para que o uso não prejudique sono, prática de esportes e relações sociais. Já a Sociedade Brasileira de Pediatria recomenda que crianças menores de 13 anos não tenham perfis próprios em plataformas digitais (embora esse limite já seja lei em outros países, como nos EUA, por exemplo), e que o uso de redes sociais seja supervisionado entre 13 e 17 anos. Além disso, aconselha que dispositivos fiquem fora dos quartos durante a noite e sejam retirados uma a duas horas antes de dormir. É importante também evitar telas durante o estudo e ficar atento a sinais de problemas, como irritabilidade excessiva ao restringir o uso de dispositivos, incluindo tablets e smartphones.

A Associação Americana de Psicologia sugere uma abordagem mais dialogada, com foco no monitoramento e na orientação, em vez de restrições rígidas.

Os pais e responsáveis devem ajudar os adolescentes a escolher conteúdos de qualidade na internet e evitar fontes de desinformação ou hostilidade, especialmente em casos de históricos de trauma ou problemas de autoimagem.

Foto destaque: Três adolescentes observam as telas de seus smartphones (Reprodução/Matt Cardy/Getty Images Embed)

Lorena Bueri CEO, Lorena Bueri, madrinha perola negra lorena bueri, lorena power couple, lorena bueri paparazzi, Lorena R7, Lorena Bueri Revista Sexy, Lorena A Fazenda, Lorena afazenda, lorena bueri sensual, lorena gata do paulistão, lorena bueri gata do paulistão, lorena sexy, diego cristo, diego a fazenda, diego cristo afazendo