Incontáveis famílias foram vítimas dos desastres ambientais frutos dos temporais que recentemente atingiram o Rio Grande do Sul. Hoje, dia 10, dados divulgados pela Defesa Civil Estadual mostram que quase duas milhões de pessoas foram impactadas pelos temporais e quase 400 mil pessoas estão desalojadas. O dano psicológico dessas pessoas é uma questão preocupante para a saúde pública. Segundo a presidente do Conselho Regional de Psicologia do Rio Grande do Sul (CRPRS), Miriam Alves, a saúde mental das vítimas das enchentes poderá ser afetada pelas perdas causadas pelos desastres ambientais.
As vítimas
Miriam destaca que diante das circunstâncias, as vítimas podem apresentar uma gama de reações emocionais e comportamentais, incluindo tristeza, angústia, raiva, choro, preocupação com o futuro, alterações no apetite e insônia.
A presidente Alves chama a atenção para a importância de cuidar daqueles que já enfrentam dificuldades psicológicas, alertando para a possibilidade de agravamento dos sintomas em pessoas que já necessitavam de apoio mental prévio. Ela também aponta para o aumento do uso de substâncias e ocorrências de violência, destacando a necessidade de estar atento a essas questões nos abrigos e refletir sobre como a psicologia pode contribuir para oferecer suporte.
O apoio às vítimas é extremamente prático: não se trata da escuta clínica típica da psicoterapia, mas sim de providenciar necessidades básicas como água, um local seguro para se abrigar e descansar, e alimentação. Estes são cuidados essenciais que devem ser oferecidos de forma respeitosa e não invasiva.
Atendimento no Ginásio de Esportes Aliança, no bairro Restinga (Foto: reprodução/Cristine Rochol/PMPA)
Outros impactados
Outras formas de impactos vão além das vítimas diretamente afetadas pelas enchentes, como os familiares e amigos dos afetados que moram em outras partes que não sofreram com as chuvas, ou por aqueles que se atentam às notícias sobre a situação enfrentada pela região sul.
Miriam Alves afirma que é importante, nesses casos, falar com profissionais de saúde mental: "Quem está em segurança também deve poder falar sobre isso. Não dá para ignorar o que está acontecendo. Colocar esses sentimentos em palavras é fundamental para a sociedade como um todo, para que seja possível, inclusive, construir estratégias para minimizar esses impactos futuramente, porque estamos vivenciando uma situação que, infelizmente, vai se repetir".
Segundo o presidente da Sociedade de Pediatria do Rio Grande do Sul, José Paulo Ferreira, as crianças também sofrem impacto psicológico e necessitam de atenção especial. Ele destaca a importância de explicar às crianças o motivo de todas essas mudanças repentinas: por que tiveram que deixar suas casas às pressas, por que algum membro da família pode estar desaparecido, por que estão vivendo em abrigos ou enfrentando falta de água e comida em casa. É uma situação desafiadora para crianças e adultos, mas é crucial ter conversas francas com elas.
Ele cita que há necessidade que, crianças que estão abrigadas, devem ter a possibilidade de brincar: "É através das brincadeiras que as crianças expressam seus sentimentos de irritação ou frustração e as suas angústias. Isso, inclusive, nos ajuda a entender o que essa criança está necessitando".
Foto Destaque: alagamento na Cidade Baixa e no Menino Deus (Reprodução/Julio Ferreira/PMPA)
