Jair Bolsonaro quer negociar com Trump pelo fim do tarifaço
O ex-presidente sinalizou disponibilidade de conversar com o presidente americano por um acordo; a ação configuraria usurpação de poder

O ex-presidente Jair Bolsonaro afirmou em entrevista à imprensa nesta quinta-feira (17), em Brasília, que estaria disposto a negociar diretamente com o ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump para reverter a tarifa de 50% aplicada às exportações brasileiras. Porém, condicionou qualquer negociação à devolução de seu passaporte, atualmente retido pela Polícia Federal, e a um sinal positivo do presidente Lula.
Bolsonaro declarou que “se o Lula sinalizar para mim, eu negocio com o Trump”, destacando que, embora Lula seja o ocupante do cargo, a interlocução com Trump não envolve diretamente o atual governo e depende de um gesto que permita o desbloqueio do passaporte, dama necessária para viajar. Segundo o ex-presidente, quem recusar a conversa irá “pagar um preço alto”.
Estratégia política
A oferta de negociar com Trump ocorre em meio à crise provocada pela decisão americana de aumentar à vista a tarifação sobre produtos brasileiros. Bolsonaro argumenta que a devolução do passaporte o habilitaria a entrar nos EUA e a intermediar pessoalmente o diálogo com Trump. Na sua visão, esta “rota diplomática alternativa” poderia evitar consequências econômicas graves para o Brasil.
Tarcísio tentou convencer STF a autorizar Bolsonaro a negociar com Trump (Vídeo: reprodução/YouTube/O POVO)
O ex-presidente também usou a crise como ferramenta política, culpando Lula pela escalada. Segundo Bolsonaro, o presidente atual teria provocado Trump com posicionamentos considerados hostis à administração americana. Durante a coletiva, o ex-chefe do Executivo ressaltou que, sem sua intervenção, o Brasil enfrentaria isolamento econômico, ficando dependente apenas da China como parceiro comercial.
Limites institucionais
O chanceler Mauro Vieira afirmou que todas as negociações em curso referentes à tarifa são conduzidas exclusivamente pelo governo federal, por meio do ministério das Relações Exteriores, da Fazenda e da Indústria. Ele afirmou que não há espaço para iniciativas paralelas de pessoas sem legitimidade institucional, como Bolsonaro, cujo passaporte está retido devido a investigações judiciais.
Para o Itamaraty, o Brasil está pronto para dialogar com os EUA, mas dentro dos canais oficiais e com base em reciprocidade e respeito mútuo. A devolução de libertação de passaporte é avaliada por autoridades como um assunto interno, sem relação direta com as pautas diplomáticas comerciais entre os países.