Bilionários americanos usam a filantropia para evitar impostos em heranças

Segundo a Forbes, os bilionários americanos devem transferir até US$ 3,9 trilhões aos seus herdeiros, mas muitos optam pela doação através de meios filantrópicos ao invés disso

16 out, 2023

Se alguns séculos atrás as fundações da sociedade estavam sendo abaladas por indivíduos com “dinheiro novo” — que não foi herdado, mas geralmente conquistado através do comércio ou durante o surgimento das grandes indústrias —, parece que o dinheiro americano de atualidade está, em sua grande maioria, concentrado na geração antiga. Cerca de US$ 93 trilhões, que corresponde a dois terços do tesouro familiar norte-americano, está nas mãos dos “baby boomers”, pessoas que nasceram entre 1945 e 1964.

Grandes heranças e o governo americano

É esperado por analistas que cidadãos de classe-média venham a falecer após terem gastado grande parte de suas economias, não deixando herança para os familiares. Contudo, a enorme quantidade de ativos concentrada nas mãos dos americanos mais ricos certamente será herdada por filhos, netos, bisnetos, cônjuges ou outras pessoas de interesse, algo que é de grande interesse para o governo americano, cuja renda é composta por uma parte significativa de impostos arrecadados sobre heranças. 

No papel, o governo americano impõe um severo imposto de 40% sobre heranças em território nacional, mas isso foi alterado ao longo de décadas de revisão na lei e outras políticas que diluíram o sistema. Como resultado, apenas 0,04% das heranças passam por algum tipo de tributação, em comparação com os 2,18% na virada do século. Um dos motivos para essa queda drástica são as mudanças anuais que o Congresso realiza. Por exemplo, nos anos 2000, casais podiam transferir apenas U$ 1,35 milhão em patrimônio para herdeiros sem imposto. Já em 2023, esse número subiu para US$ 26 milhões; um aumento significativo, mesmo se considerado o índice de inflação. 

Mas esse número ainda pode não ser o bastante para os grandes bilionários, que possuem fortunas ainda mais vastas e expansivas. Como resultado, muitos acabam adotando certas estratégias para evitar os impostos. 

Filantropia é uma das opções 

Uma das estratégias que alguns bilionários adotam para evitar os impostos sem serem duramente criticados são as práticas filantrópicas. Andrew Carnegie — ex-bilionário americano que era a favor da taxação de grandes heranças —, doou cerca de 90% de seu patrimônio antes de falecer em 1919, um valor que hoje em dia seria equivalente a US$ 6 bilhões. Os outros 10% foram para uma organização sem fins lucrativos chamada Carnegie Corp.

Em 2016, a organização filantrópica Giving Pledge foi fundada por Warren Buffett em parceria com Bill Gates e sua esposa, Melinda. O objetivo da organização é criar uma rede de bilionários disposta a doar sua riqueza para causas filantrópicas, seja durante a vida ou após a morte. Até o momento, 104 bilionários americanos já fazem parte dessa organização, que conta com um patrimônio líquido de US$ 1,5 trilhão. 

Opinião dos bilionários

Barry Diller, fundador do conglomerado de internet e mídia IAC, acredita que o código tributário norte-americano não é justo para com pessoas mais pobres. Ele é um dos 104 participantes do Giving Pledge, mas já afirmou que pretende deixar uma parte de seu dinheiro para os filhos. Apesar disso, o bilionário não se arrepende de ter usado ferramentas legais para conseguir pagar menos impostos. Segundo ele, “é necessário obedecer o código tributário. Se a lei permite que uma pessoa faça algo de determinada maneira, que indivíduo sensato agiria de outra forma?”.

Phil Knight, um dos fundadores da Nike, não acredita que o governo consiga usar o dinheiro dos impostos de maneira eficaz, preferindo acreditar em instituições de caridade. O bilionário já doou mais de U$ 3 bilhões para ações filantrópicas, em especial à Universidade de Oregon e a de Stanford. 


Phill Knight, cofundador da Nike, com um patrimônio de US$ 40 bilhões (Foto: reprodução/Getty Images/Steve Dykes/Forbes)


Até mesmo Harold Hamm, um dos grandes magnatas do setor de petróleo e gás, não confia no governo americano para cuidar do dinheiro da população. Grande parte de suas doações até o momento, um montante de cerca de US$ 200 milhões, foram para a pesquisa sobre diabetes e institutos de energia.

Enquanto a evasão de taxas e outras práticas ilícitas por vezes praticadas pelos grandes bilionários e magnatas norte-americanos dificilmente seja razão de orgulho, é difícil negar que a doação para causas filantrópicas seja algo ruim. 

Nesse ponto, a transferência de riqueza e o processo de herança pode se tornar um grande benefício aos americanos mais pobres, que carecem de dinheiro e da oportunidade para subir de vida.

 

Foto destaque: Barry Diller e Diane von Furstenberg, sua esposa, no tapete vermelho durante a celebração do Oscar de 2017 em Beverly Hills. Reprodução/Prensa Internacional/ZUMA Wire/Fox Business

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