Weider Silveiro leva o balé para as ruas em coleção inspirada em “Pacarrete”

Inspirado no filme “Pacarrete” (2020), de Allan Deberton, o estilista Weider Silveiro apresentou no SPFW N60 uma coleção que transforma o balé clássico em moda urbana, sofisticada e emocional. Longe de ser literal, o desfile propõe uma leitura contemporânea da dança, unindo força e leveza, rigidez e fluidez, elementos que definem tanto o universo da bailarina quanto o olhar do criador.

A referência principal é a história real de Maria Araújo Lima (1912–2005), artista de Russas, no Ceará, cuja trajetória inspirou o longa. Considerada “louca” por sonhar com a arte em uma cidade pequena, a bailarina serve como símbolo de resistência e sensibilidade, sentimentos que atravessam toda a coleção.

Entre o palco e a cidade

Na passarela, Silveiro construiu um diálogo entre a disciplina do balé e o movimento das grandes metrópoles. Vestidos drapeados e franzidos evocam tutus e colants, enquanto blazers e casacos estruturados ganham volumes esculturais criados a partir de fitas de cetim e novos materiais, como o acetato, que substitui o couro tradicional.


Desfile de Weider Silveiro no SPFW. (reprodução/Instagram/@spfw)

Os decotes em U e quadrados remetem aos figurinos das bailarinas, mas surgem de forma tridimensional, destacando a modelagem precisa do estilista. Entre as peças, aparecem também trench coats, coletões, calças tipo Aladdin e moletons com frases como “He-Man”, “Paris” e “Russas”, uma ponte entre o erudito e o pop.

A cartela de cores reforça essa dualidade: tons de berinjela, mostarda, marrom, laranja queimado e roxo constroem uma atmosfera terrosa e sofisticada. Tudo em tecidos lisos de malha e viscose, pensados para o movimento e o conforto.

Um encerramento simbólico e emocionante

Encerrando o desfile, a performance de Márcia Dailyn, primeira bailarina trans do Theatro Municipal de São Paulo, emocionou o público. Vestida com uma camiseta de Russas, ela trouxe à passarela a energia que conecta arte, corpo e expressão, pilares que sustentam tanto o balé quanto a moda de Weider Silveiro.


Desfile de Weider Silveiro no SPFW. (reprodução/Instagram/@weidersilveiro)

Com essa coleção, o estilista reafirma seu talento em equilibrar conceito e acessibilidade, criando roupas que contam histórias. O resultado é uma moda que dança entre o clássico e o contemporâneo, sem jamais perder o ritmo da emoção.

 

Matéria escrita por Lara de Sena no portal InMagazine.

Tom Martins apresenta sua coleção “Silêncio” na passarela no SPFW

No encerramento do São Paulo Fashion Week N60, Tom Martins escolheu o caminho menos óbvio: o do silêncio. Em uma temporada marcada pela busca por impacto e narrativas ruidosas, o estilista apresentou sua coleção “Silêncio” como um convite à escuta. Foram 24 looks desfilados sem trilha sonora, apenas o som dos passos dos modelos cortando o ar e o olhar atento da plateia, transformando o desfile em um exercício de presença.

A ausência de música não foi um vazio, mas um gesto. Ao abrir espaço para o som da própria roupa, Martins propôs uma experiência de desaceleração e de retorno à essência. O jeans, que marcou sua estreia no SPFW há dez anos, voltou como protagonista, agora acompanhado por tricoline de algodão, viscose, seda e náilon. O diálogo entre tecidos cria uma alfaiataria de toque urbano, que reflete o equilíbrio entre técnica e sensibilidade, duas marcas registradas do designer.

Silêncio como linguagem

Nesta coleção, Tom Martins substitui o ruído das tendências por uma moda que respira pausa. As peças aparecem em tons de branco, azul e preto, sem estampas, bordados ou prints, uma escolha que reforça o desejo por pureza e foco na forma. Babados, volumes e sobreposições constroem o ritmo da coleção, revelando um olhar mais maduro e meditativo sobre a própria criação.


Desfile da Martins no SPFW (Vídeo: reprodução/YouTube/@SPFWoficial)

A limpeza visual não significa distanciamento: é aproximação. Cada look parece traduzir o instante em que o barulho se apaga e a ideia se manifesta. O desfile convida o público a observar o que normalmente passa despercebido, o som do tecido, o gesto do movimento, a respiração da moda.

Entre o gesto e a escuta

Inspirado por pedidos de clientes antigos, o estilista revisita os primeiros códigos de sua marca, unindo passado e presente em composições que equilibram funcionalidade e poesia. O desfile termina como começou: em silêncio. Somente quando Martins surge na passarela, os aplausos rompem a quietude, encerrando o que foi, acima de tudo, um manifesto sobre o essencial.


"Silêncio", nova coleção da Martins no SPFW (Foto: reprodução/Instagram/@pumabrasil)

“Silêncio” não fala da ausência de som, mas do espaço fértil entre as ideias. Ao transformar a pausa em linguagem, Tom Martins reafirma que, na moda, o que permanece é sempre aquilo que escutamos com o olhar.

Marina Ruy Barbosa encarna princesa moderna em look de renda

Na noite desta segunda-feira (20), Marina Ruy Barbosa foi o grande destaque da première de “Tremembé”, nova série nacional do Prime Video, realizada na Casa Higienópolis, em São Paulo. A atriz e empresária surgiu em um visual que combinava delicadeza e provocação, um vestido preto da Yves Saint Laurent com corpete em renda transparente, saia volumosa e um laço de fita marcando a cintura. O look é a tradução perfeita de uma princesa contemporânea, que domina a narrativa e o olhar.

O look, com seu ar de “camisola couture”, trouxe à tona um contraste intencional ,em que, enquanto o tecido revela, a modelagem cobre; enquanto o preto evoca mistério, a transparência sugere vulnerabilidade. Uma escolha estética que dialoga não só com a personagem que Marina interpreta, mas também com o momento de reinvenção que ela vive com autoconfiança na vida pessoal e profissional.

Entre o conto de fadas e o true crime

Na série Tremembé, que estreia em 31 de outubro, Marina dá vida a Suzane von Richthofen, figura central de um dos casos mais emblemáticos da crônica policial brasileira. A produção, inspirada nos livros do jornalista Ulisses Campbell, mergulha na rotina do presídio Tremembé II e nos bastidores de histórias reais que chocaram o país.


Marina Ruy Barbosa na premiere de "Tremembé" (Foto: reprodução/ Instagram/ @marinaruybarbosa)

O elenco ainda conta com nomes como Felipe Simas, Bianca Comparato, Carol Garcia, Kelner Macedo e Anselmo Vasconcelos. A ousada proposta da série, retrata o cotidiano e as tensões dentro do presídio sob o ponto de vista dos próprios condenados, trazendo humanidade e complexidade a personagens que são julgados pelo público.

O retorno do ruivo de uma força simbólica

Depois de um breve período loira, Marina voltou ao ruivo icônico que a consagrou. A cor, que se tornou sua marca registrada, parece carregar um significado emocional para a atriz, que declarou recentemente que “Quando estou ruiva, sinto que estou em casa”, . O cabelo solto e em ondas completou o visual com naturalidade e poder.


Marina Ruy Barbosa em sua fase loira (Foto: reprodução/ Instagram/ @marinaruybarbosa)

A maquiagem leve e iluminada contrastou com o peso do vestido, criando um equilíbrio visual entre a força e a delicadeza, a mesma dualidade que permeia sua nova personagem. Em meio à expectativa pela estreia de Tremembé, Marina Ruy Barbosa reafirma sua posição como um dos nomes mais potentes da moda e do entretenimento brasileiro, alguém que transforma cada aparição em um diálogo sobre estética e narrativa.

SPFW N60: LED transforma passarela em verdadeira festa de Carnaval

No último domingo (19), a LED encerrou os desfiles do penúltimo dia da SPFW N60 com um desfile que enalteceu a moda brasileira e homenageou a nossa cultura. Em uma homenagem a Leci Brandão – uma das mais importantes intérpretes de samba -, o desfile foi leve e descontraído, com uma surpresa no final.

Quando o Carnaval toma conta da passarela

A parte final do desfile da LED virou assunto nas redes sociais, quando uma bateria formada por grandes percussionistas do carnaval de São Paulo surgiu nas passarelas. A sambista e modelo Jamilly Marques acompanhou a bateria, ao lado de outros modelos e do diretor criativo Cleu Oliver e Célio Dias, sócio e codiretor criativo da marca. Ainda, os percussionistas usavam a mesma camisa que os diretores, com os dizeres: “Não deixe a moda nacional morrer”.


Encerramento do desfile da LED (Vídeo: reprodução/Instagram/@spfw/@led_cd)

Para além da passarela, a alegria do Carnaval contagiou a todos os presentes. A bateria da LED seguiu por todo o Pavilhão das Culturas Brasileiras, onde o desfile estava acontecendo. A alegria contagiou, também, as redes sociais. Muitas pessoas comentaram sobre a alegria que foi o desfile e elogiaram a LED. “Fizeram história.”, dizia um dos comentários. “Parabéns! Que desfile INCRÍVEL.”, disse outro comentário.

Coleção “Barracão Carnaval”

A abertura do desfile trouxe um busto gigante em homenagem a Leci Brandão. Atualmente deputada estadual de São Paulo, a homenagem a Leci veio de sua vivência no samba. Com uma trilha sonora mostrando toda a brasilidade, Luciana Gimenez abriu as passarelas, com look leve, trazendo volume.

Todas as peças da coleção mostraram a cara da moda nacional. Modelos em crochê, peças com miçangas, estampas floridas, franjas e acessórios que remeteram ao carnaval, fizeram parte da coleção intitulada “Barracão Carnaval”. O desfile da LED reafirmou que a moda brasileira não apenas acompanha tendências, mas também celebra suas raízes com vigor e criatividade ao misturar o artesanal com o urbano. Entre as peças e a alegria, a LED fez história nos 30 anos da SPFW.

SPFW N60: Apartamento 03 homenageia Benjamim de Oliveira

Aconteceu ontem (20) o último dia de desfiles da São Paulo Fashion Week N60. Nessa edição de comemoração de 30 anos de evento, a marca mineira Apartamento 03 mostrou que moda e cultura se entrelaçam de forma quase poética. Para fazer essa mistura entre cultura e moda, Luiz Cláudio, entrou em contato com a família de Benjamim, que lhe cedeu imagens, para servirem de inspiração para o seu desfile.

Quando a vida circense encontra a alfaiataria

Para o desfile e a homenagem, Luiz Cláudio trouxe elementos do circo para dentro da alfaiataria. Entre cartolas, bengalas, fraques e volumes, a alfaiataria ganhou um novo significado. A fluidez das peças também chama atenção, mostrando a delicadeza e leveza da coleção. Nas cores, o marrom se une ao dourado e ao preto, dando um toque mais sóbrio. Algumas peças trouxeram mais cor, com rosa pastel, chocolate e verde.



A reinvenção de Luiz, mostra um lado poético da moda, além de mostrar o respeito e a homenagem a uma história de vida. Intitulada “O Menino do Beijo”, o estilista nos conta uma história e a traz para os tempos modernos, em looks feitos para o dia-a-dia através da beleza, conforto e toques de nostalgia.


Desfile Apartamento 03 na SPFW (Vídeo: reprodução/Instagram/@spfw/@apartamento03)

História transformada em moda

Benjamim de Oliveira, além de artista de circo, também era cantor e compositor. Nascido em 1870, Benjamim já nasceu alforriado, porém sua mãe ainda era considerada escrava. Seu pai dedicou parte de sua vida buscando escravos fugidos. Com 12 anos, Benjamim fugiu com um circo, onde começou sua vida artística como acrobata. Após anos trabalhando em circos, finalmente estreou como palhaço. Inicialmente sua apresentação foi rejeitada pelo público, mas após uma apresentação onde o Marechal Floriano Peixoto estava presente, passou a ganhar reconhecimento.

Benjamim escreveu algumas peças como “O Diabo e o Chico” e “Matutos na Cidade”, trazendo elementos teatrais para dentro de suas apresentações circenses. Sendo o primeiro palhaço nego do Brasil, quebrando barreiras raciais e abrindo espaço para outros artistas negros e a popularização do circo como espaço de inclusão e crítica social.

Coleção Pangeia transforma a passarela da SPFW em um encontro entre mundos

No último domingo (19), a SPFW N60 foi palco para a coleção “Pangeia” da estilista Angela Brito, no Centro Cultural São Paulo, fruto de uma pesquisa iniciada em 2018. Na passarela, as dobras e os recortes estratégicos reviveram e se inspiraram em um mundo que já esteve conectado como um todo para criar peças atemporais. 

Unindo os detalhes presentes nas peças clássicas da alfaiataria e a estamparia do artista Dino d’Santiago, a estilista cabo-verdiana, fundadora da Angela Brito Brand, cria um contraste entre união e desunião física e espiritual.

Pangeia: a inspiração e a coleção

“Todos nós temos alguma cicatriz de quando éramos todos unidos. Não que a gente existisse na época de Pangeia, mas acho que, energeticamente, todo mundo está conectado”, disse a estilista cabo-verdiana radicada no Rio. E é a partir dessa ideia que surge a coleção Pangeia. Utilizando o conceito do supercontinente que unia toda a massa terrestre e, com o tempo, se fragmentou, Angela desenvolveu peças marcadas por desconstruções, camadas e rupturas.


Desfile da coleção Pangeia (Foto: reprodução/Instagram/@spfw)

Com o preto e o branco como base de suas composições e algumas exceções de vermelho e bege, as peças buscam trazer reflexão sobre as uniões e fissuras culturais e raciais que ocorrem nesses momentos em que o mundo era um todo e depois se dividiu com os movimentos das placas tectônicas. No abotoamento da camisa na parte de trás, na gola bicolor ou nos plissados, a estilista expressa e simboliza a relação entre a moda e uma reflexão filosófica sobre processos de transformação e recomeços.

Colaborações que complementam

A marca, caracterizada por ser minimalista e forte, reafirma que estilo também é conexão com origem, em que cada linha costurada à mão possui detalhe com significado. Inspirada por um mapa em preto e branco, a designer apostou o uso de estampas em algumas peça e pensou em uma estampa única que representasse um mapa. Para isso, contou com a colaboração com o artista português com ascendência cabo-verdiana Dino D’Santiago, que recriou esse mapa cujas linhas dão forma a rostos de pessoas. O artista também fez uma performance ao vivo durante o desfile.


Desfile da coleção Pangeia (Vídeo: reprodução/Instagram/@abestoficial)

Entre os toques que remetem a questões geográficas, como a parte vermelha interna de uma camisa branca, que se assemelhava a uma rachadura na terra, colares feitos a partir de pedras vulcânicas vindas de Cabo Verde e colares de sementes de jabuticaba, a estilista ressignifica e examine o que nomeia de cicatrizes que marcou a todos desde quando o planeta era um todo. Assim, Angela cria uma alfaiataria própria que mistura essas fissuras e uniões através da moda.

Dendezeiro encerra a coleção ‘Brasiliano’ e redefine o preppy à brasileira

Na 60ª edição da São Paulo Fashion Week (SPFW), a alfaiataria e identidade se uniram no último desfile da trilogia Brasiliano da marca baiana Dendezeiro, que ocorreu no sábado (18), no Parque do Ibirapuera, em São Paulo. A coleção, nomeada de Lei da Vadiagem, se inspirou na antiga legislação de mesmo nome e propôs uma reflexão sobre a resistência de corpos historicamente marginalizados, como negros e periféricos, a fim de ressignificar suas histórias por meio da moda e da estética preppy.

Com padronagens clássicas de alfaiataria para criar suas silhuetas de streetwear, os CEOs Hisan Silva e Pedro Batalha, buscaram chamar a atenção do público para o próprio território brasileiro a partir de uma perspectiva periférica, política e identitária. O desfile foi marcado por uma trilha sonora ao vivo colocando o funk no centro da cena e nomes de destaque da moda, da música e das artes, entre eles Mc Cabelinho, Mc Carol, Urias, Jorge Conjota.

O Brasiliano em seu último ato

“A gente transforma a passarela em baile porque entende que celebrar também é um ato político e existir é potência.” afirma Hisan Silva, CEO e Diretor Criativo da Dendezeiro. “Quero que o público saia sentindo que ser ‘brasiliano’ é um gesto de liberdade”.


 Pedro Batalha e Hisan Silva, da esquerda para a direita (Foto: reprodução/Instagram/@hisandeverdade)

A fala de Hisan reflete a intenção do projeto Brasiliano: um gesto contínuo de escuta e tributo às histórias do Brasil. Essa última coleção buscou criar novas relações a moda brasileira e suas influências, a fim de transformar o que era visto como erro em orgulho. Na passarela, a mensagem de um Brasil que foi moldado por mecanismos de exclusão se encontrou com os aspectos da alfaiataria e do streetwear, como blazers e calças de alfaiataria desconstruídos, sobreposições, mix de tecidos e referências afrofuturistas.

O novo preppy

A estética preppy vem de preparatory schools (escolas preparatórias de elite estadunidenses) e traz um estilo inspirados nos uniformes e no estilo de vida dos estudantes. Caracterizada pela alfaiataria, o preppy é composto por peças clássicas, elegantes e bem cortadas, como camisas polo, blazers, suéteres, mocassins, saias plissadas e alfaiataria, frequentemente associado a um visual sofisticado, clean e com um toque esportivo ou náutico. 


Desfile da Dendezeiro na SPFW N60 (Vídeo: reprodução/Instagram/@dendezeiro)

Fugindo do cenário padrão dessa estética, a Dendezeiro trouxe o street de forma modificada junto do artesanato do Ateliê Masanga. Com novas bolsas artesanais de miçangas e outros modelos feitos à mão, a marca reafirmou o valor do fazer manual como gesto cultural e político. A Kenner também foi outra marca que cruzou a passarela da Dendezeiro pela terceira temporada consecutiva na SPFW e está em sintonia com a expressão da cultura e da identidade.

A terceira coleção do Brasiliano simboliza não só a representação de uma das variadas faces do Brasil, mas também das novas versões que produzem acerca delas. Essa proposta reforça a importância de olhar para o próprio território e a marca tem o objetivo de mostrar que o Brasil é direção: um ponto de partida e chegada para criar moda.

David Lee une raízes nordestinas e apelo global em coleção vibrante no SPFW

O estilista cearense David Lee reafirmou seu lugar como um dos nomes mais autênticos e inventivos da moda brasileira ao apresentar, neste domingo (19), sua nova coleção na SPFW N60. Conhecido por equilibrar referências regionais com uma estética cosmopolita, Lee mostrou mais uma vez que é possível criar moda com identidade local e alcance global, sem abrir mão de suas origens no Nordeste.

Inspirado na força cultural e na beleza do Ceará, o designer trouxe à passarela um desfile marcado pela mistura de tecidos naturais, cores terrosas e shapes fluidos, que remetem ao clima, à natureza e à leveza da região. Cada look parecia contar uma história sobre pertencimento e resistência, traduzindo em roupas o orgulho de ser nordestino. Ao mesmo tempo, a coleção se destacou pela sofisticação e pela linguagem internacional de suas peças, que poderiam facilmente ocupar vitrines em qualquer capital da moda.

Tradição e contemporaneidade se encontram na passarela

O desfile de David Lee no SPFW N60 celebrou o equilíbrio entre ancestralidade e modernidade. As modelagens amplas e os cortes assimétricos conversavam com referências urbanas e esportivas, resultando em um visual contemporâneo e versátil. Essa combinação reforça a proposta do estilista de quebrar barreiras geográficas e estéticas, mostrando que o regional pode ser universal quando tratado com autenticidade e propósito.


 


Cada detalhe da coleção evidenciou a atenção ao processo criativo e à valorização da cultura nordestina. Os acessórios, produzidos em parceria com artesãos locais, trouxeram texturas e materiais que remetem à vida no sertão, enquanto a paleta de cores, que variava entre tons de areia, azul e ocre, refletia o contraste entre o litoral e o interior do Ceará. 

A moda como expressão de identidade e futuro

Além do apelo estético, o trabalho de David Lee carrega uma forte mensagem sobre representatividade e sustentabilidade. O estilista mantém uma produção consciente, priorizando o uso de tecidos de baixo impacto e a valorização de profissionais da região. Sua proposta vai além da moda: é um ato político, que reafirma o poder da criação nordestina em um dos maiores eventos do país.

Ao unir tradição, inovação e propósito, David Lee mostra que a moda pode ser uma ponte entre culturas. Sua coleção no SPFW é mais do que um desfile, é uma celebração da diversidade brasileira e uma prova de que o estilo nordestino tem, sim, voz e lugar no cenário global.

Marcelo Sommer retorna ao SPFW com desfile em academia e foco no upcycling

O estilista paulistano Marcelo Sommer fez um retorno marcante à SPFW, com uma apresentação que mistura nostalgia, irreverência e consciência ambiental. Fiel à sua identidade criativa, Sommer voltou a transformar o comum em espetáculo: depois de ter levado os fashionistas a um supermercado no início dos anos 2000, desta vez o cenário escolhido foi uma academia de ginástica, onde apresentou sua nova marca e sua mais recente coleção.

O espaço inusitado deu o tom da performance, divertida, crítica e cheia de significados. A proposta do estilista foi refletir sobre o culto ao corpo e os padrões estéticos que dominam a sociedade atual, contrapondo o ambiente fitness à ideia de reaproveitamento e imperfeição, que permeia toda a coleção.

O espírito provocador de Sommer

Com o mesmo humor e leveza que sempre marcaram seu trabalho, Sommer levou para a passarela um mix de cores, texturas e referências pop, criando um diálogo entre o urbano e o experimental. As modelos circularam entre aparelhos de musculação e espelhos, vestindo peças com sobreposições criativas, cortes assimétricos e detalhes manuais, que remetem à liberdade estética do início dos anos 2000, mas com um olhar atualizado.


 


A apresentação teve uma atmosfera performática, reforçada por uma trilha sonora vibrante e pelo comportamento espontâneo dos modelos, que pareciam parte de uma instalação artística. Sommer, mais uma vez, mostrou que moda é experiência — algo que ultrapassa o vestir e toca o campo da atitude.

Upcycling e reinvenção na nova fase

O retorno do estilista também marca uma mudança de rumo em sua trajetória, agora centrada no upcycling, técnica de reaproveitamento de materiais e roupas antigas para criar novas peças. Longe de ser apenas uma tendência, o conceito representa uma postura ética diante do consumo e da produção de moda.

Sommer propõe uma criação mais consciente, mas sem abrir mão do estilo. Tecidos reaproveitados aparecem em composições inesperadas, estampas ganham novas combinações e o resultado é uma moda autoral, vibrante e sustentável. Com essa volta, Marcelo Sommer reafirma sua relevância na moda brasileira e mostra que criatividade e responsabilidade podem caminhar lado a lado, transformando até uma academia em passarela e a roupa em manifesto.

Sou de Algodão apresenta visuais preto e branco no SPFW 

A semana da moda de São Paulo traz, à frente das passarelas, diferentes marcas e projetos, apresentando suas apostas para o mundo da moda. Na semana passada, na sexta-feira (17), foi a vez da Sou de Algodão assumir o palco em uma performance que uniu os maiores propósitos do projeto: a moda e a sustentabilidade. Para a confecção das peças, o movimento contou com algodão rastreável, seis estilistas convidados e, além disso, do preto e o branco como destaque.

Sou de Algodão no SPFW

O dia 13 de outubro marcou o início da nova temporada do São Paulo Fashion Week, que se estende até o dia 20 de outubro. Nesses dias, marcas e estilistas se unem para participar de um dos maiores eventos de moda da América do Sul. Esta edição de número 60 reflete um momento especial para o evento que celebra 30 anos de existência.

O movimento “Sou de Algodão” assumiu as passarelas paulistas em um desfile para apresentar sua nova coleção, que aposta na moda com elegância e conscientização. O projeto nasceu em 2016, por iniciativa de instituições como a Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (ABRAPA) e conta com o apoio do Instituto Brasileiro do Algodão (IBA). Com o objetivo de realizar a conscientização de seus consumidores para a importância do algodão, confecciona as peças de maneira sustentável e preserva a matéria orgânica.


Desfile Sou de Algodão no SPFW (Foto:reprodução/Instagram/@__the_vault___)

No desfile que ocorreu na semana passada, o projeto expressou sua moda, trazendo suas vestimentas. Seu principal objetivo é conscientizar o público. Em uma apresentação intitulada “Trajetórias”, foram apresentados 36 visuais diferentes, que representavam a história do movimento com sustentabilidade, fortalecendo seu discurso sobre a importância do algodão, confeccionando peças com a matéria orgânica sendo 100% rastreável, cultivada em fazendas de diferentes estados do Brasil.

Apostas no preto e branco

A proposta uniu seis estilistas convidados; entre os nomes estão Aluf, Amapô, Fernanda Yamamoto, Alexandre Herchcovitch, Davi Ramos e Weider Silveiro. Cada um dos artistas foi responsável por criar seis peças para a coleção apresentada. Contando com a direção de Paulo Martinez, o stylist foi o responsável por definir o conceito para que os estilistas tivessem um ponto de partida. Inclusive, a escolha do stylist foi que o preto fosse um destaque para a confecção das vestimentas. 

Na passarela, os visuais apresentados mostram que os estilistas focaram no conceito, ausentando as cores fortes e vibrantes, trazendo o preto como um grande destaque nas peças. Mas, em alguns dos visuais, a cor escura não foi apresentada sozinha, trazendo o branco, contrastando com a cor, mostrando uma combinação clássica entre o preto e o branco.


Desfile Sou de Algodão no SPFW (Foto:reprodução/Instagram/@__the_vault___)

A união de diferentes estilistas trouxe a apresentação das vestimentas, apostas que conversavam entre si, mas, ao mesmo tempo, traziam uma diversidade em visuais, passeando desde looks com mangas longas, vestidos, alfaiataria e sobreposição. Nas tonalidades, o preto se destacou em boa parte, mas, além disso, alguns estilistas apostaram em ousar nas estampas, sem sair da proposta inicial, confeccionando peças estampadas com xadrez e listras. A apresentação do projeto demonstrou que a moda, a elegância e a sustentabilidade podem andar lado a lado na passarela.

Matéria por Dandara Carvalho do portal InMagazine