Coleção Pangeia transforma a passarela da SPFW em um encontro entre mundos
A estilista Angela Brito explorou a força das origens e a união entre culturas por meio de uma alfaiataria simbólica no sexto dia de SPFW

No último domingo (19), a SPFW N60 foi palco para a coleção “Pangeia” da estilista Angela Brito, no Centro Cultural São Paulo, fruto de uma pesquisa iniciada em 2018. Na passarela, as dobras e os recortes estratégicos reviveram e se inspiraram em um mundo que já esteve conectado como um todo para criar peças atemporais.
Unindo os detalhes presentes nas peças clássicas da alfaiataria e a estamparia do artista Dino d’Santiago, a estilista cabo-verdiana, fundadora da Angela Brito Brand, cria um contraste entre união e desunião física e espiritual.
Pangeia: a inspiração e a coleção
“Todos nós temos alguma cicatriz de quando éramos todos unidos. Não que a gente existisse na época de Pangeia, mas acho que, energeticamente, todo mundo está conectado”, disse a estilista cabo-verdiana radicada no Rio. E é a partir dessa ideia que surge a coleção Pangeia. Utilizando o conceito do supercontinente que unia toda a massa terrestre e, com o tempo, se fragmentou, Angela desenvolveu peças marcadas por desconstruções, camadas e rupturas.
Desfile da coleção Pangeia (Foto: reprodução/Instagram/@spfw)
Com o preto e o branco como base de suas composições e algumas exceções de vermelho e bege, as peças buscam trazer reflexão sobre as uniões e fissuras culturais e raciais que ocorrem nesses momentos em que o mundo era um todo e depois se dividiu com os movimentos das placas tectônicas. No abotoamento da camisa na parte de trás, na gola bicolor ou nos plissados, a estilista expressa e simboliza a relação entre a moda e uma reflexão filosófica sobre processos de transformação e recomeços.
Colaborações que complementam
A marca, caracterizada por ser minimalista e forte, reafirma que estilo também é conexão com origem, em que cada linha costurada à mão possui detalhe com significado. Inspirada por um mapa em preto e branco, a designer apostou o uso de estampas em algumas peça e pensou em uma estampa única que representasse um mapa. Para isso, contou com a colaboração com o artista português com ascendência cabo-verdiana Dino D’Santiago, que recriou esse mapa cujas linhas dão forma a rostos de pessoas. O artista também fez uma performance ao vivo durante o desfile.
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Desfile da coleção Pangeia (Vídeo: reprodução/Instagram/@abestoficial)
Entre os toques que remetem a questões geográficas, como a parte vermelha interna de uma camisa branca, que se assemelhava a uma rachadura na terra, colares feitos a partir de pedras vulcânicas vindas de Cabo Verde e colares de sementes de jabuticaba, a estilista ressignifica e examine o que nomeia de cicatrizes que marcou a todos desde quando o planeta era um todo. Assim, Angela cria uma alfaiataria própria que mistura essas fissuras e uniões através da moda.