A Polícia Federal realizou, nesta sexta-feira (20), uma operação envolvendo agentes da Agência Brasileira de Inteligência (Abin). As investigações expuseram um esquema de rastreamento não autorizado de celulares, que não apenas incluiu espionagem sistemática durante o período eleitoral, mas também levantou indícios de uma possível intrusão que se assemelha a um "cerco ao STF".
Segundo informações extraoficiais, durante meses, centenas de celulares pertencentes a frequentadores do Supremo Tribunal Federal (STF) foram alvo de rastreamento com a utilização de equipamentos de espionagem. Esses grupos de alvos incluíram, além de servidores, advogados, policiais, jornalistas e até mesmo ministros da mais alta instância jurídica do país. As investigações revelaram um surpreendente número de 33 mil acessos ilegais referente à localização telefônica desses alvos.
Dólares apreendidos em casa de um dos alvos da Operação Última Milha (Foto: reprodução/G1)
Resposta da Abin
Em resposta à operação da Polícia Federal, a Agência Brasileira de Inteligência emitiu um comunicado anunciando a abertura de uma investigação interna sobre o assunto. A Abin também assegurou que todas as solicitações da PF e do STF foram atendidas prontamente, e que eles têm cooperado com as investigações desde o início das operações.
Segundo informações extraoficiais, os investigados teriam apagado a grande maioria dos registros dos computadores. Até este momento, ainda segundo as informações extraoficiais, a Polícia Federal recuperou apenas 1.8 mil acessos de um total de 33 mil acessos ilegais.
De acordo com o portal de notícias G1, a lista de alvos inclui uma pessoa com o mesmo nome do ministro do STF Alexandre de Moraes, alimentando especulações de que o ministro em questão possa ter sido vítima do esquema de espionagem.
Sistema First Mile
O sistema chamado First Mile, utilizado pela Abin, permite o rastreamento da localização dos celulares, mas não permite acesso ao conteúdo dos dispositivos ou às mensagens enviadas. Contudo, os investigadores estão explorando a possibilidade de que sistemas mais sofisticados tenham sido utilizados em paralelo para acessar essas informações.
Até o momento, não foram divulgadas informações oficiais de que o grupo tenha efetivamente acessado as comunicações ou qualquer conteúdo dos celulares espionados. No entanto, as especulações persistem devido à complexidade do esquema de espionagem.
Operação Última Milha
A Polícia Federal esclarece que a operação Última Milha busca desvendar o uso indevido de sistemas de geolocalização sem autorização judicial por parte de servidores da Abin. Até o momento, foram cumpridos 25 mandados de busca e apreensão, dois mandados de prisão preventiva e medidas cautelares em estados como São Paulo, Santa Catarina, Paraná, Goiás e no Distrito Federal, todos expedidos pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
As investigações apontam para a invasão repetida da infraestrutura crítica da telefonia brasileira por meio do software intrusivo empregado pela Agência Brasileira de Inteligência, adquirido com recursos públicos. Além disso, dois servidores da Abin estão sendo investigados por supostamente utilizarem o conhecimento sobre o uso indevido do sistema de espionagem como meio de coerção indireta para evitar demissões.
Os agentes investigados poderão enfrentar acusações de invasão de dispositivo informático alheio, organização criminosa e interceptação de comunicações telefônicas, informática ou telemáticas sem autorização da justiça ou com objetivos não autorizados por lei.
Foto Destaque: Viatura e agentes da Polícia Federal. Reprodução/Polícia Federal.