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Milei assume presidência da Argentina neste domingo, levantando questionamentos sobre futuro mandato

Milei designou indivíduos com ligações políticas que anteriormente criticara para cargos no governo, e enfrenta o desafio de negociar extensivamente com o Legislativo, possivelmente necessitando fazer concessões para garantir a aprovação

10 Dez 2023 - 08h58 | Atualizado em 10 Dez 2023 - 08h58
Milei assume presidência da Argentina neste domingo, levantando questionamentos sobre futuro mandato Lorena Bueri

No domingo (3), Javier Milei, o presidente eleito da Argentina, assume o cargo para um mandato de quatro anos, levantando a questão crucial: qual faceta de Milei guiará seu governo? Será o "utópico" influencer ultraliberal e libertário, reconhecido por seu discurso antipolítica, ou uma abordagem mais pragmática que envolverá concessões e negociações com representantes de diferentes correntes ideológicas para obter aprovação de reformas no Congresso?

As indicações são contraditórias: durante a campanha, Milei se retratava como um político de direita não convencional que criticava fervorosamente a "casta" política. No entanto, após sua eleição, Milei se aproximou de figuras do establishment, formando uma equipe que inclui tanto ex-membros do governo de Maurício Macri, de tendência de direita, quanto do governo de Alberto Fernández, de orientação esquerdista.

Opinião dos especialistas

Federico Zapata, diretor da consultoria argentina Escenarios, observa que não têm certeza sobre como o governo de Milei se desdobrará, destacando uma transição significativa em estilo e agenda durante o período do segundo turno.

Segundo o analista, Milei surpreendeu ao formar um governo mais diversificado do que inicialmente se pensava. Além de membros do partido de Macri, o Proposta Republicana, inclui alguns peronistas não-kirchneristas, como é o caso de Daniel Scioli, o embaixador da Argentina em Brasília, que permanecerá no cargo.

Zapata enfatiza que os eleitores de Milei não devem abandoná-lo devido a essas nomeações, mesmo que o novo presidente opte por não cumprir algumas das promessas de campanha, como a dolarização da economia argentina e o fechamento do Banco Central.

O consultor afirma que os eleitores não se sentirão traídos, pois possuem uma relação afetiva sólida com Milei. Ele acredita que Milei tem a habilidade de fidelizar seus apoiadores e realizar mudanças de direção, se necessário.

Javier x Jair


Jair Messias Bolsonaro agraciando multidão à sua espera. (Foto: reprodução/Instagram/@jairmessiasbolsonaro)


Sergio Morresi, autor de "A nova direita argentina e a democracia sem política" e professor na Universidad Nacional de General Sarmiento, argumenta que, apesar de manter suas raízes radicais, Milei tem adotado uma postura mais moderada em comparação com seu discurso de campanha.

Morresi observa uma aproximação entre a direita tradicional e a direita antissistema na Argentina, mas destaca que a tendência do movimento é rumo ao extremo, não em direção ao centro.

Quanto ao governo do presidente Jair Bolsonaro no Brasil, ele percebe distinções significativas. No Brasil, havia a expectativa de que o presidente moderasse sua abordagem ao longo do mandato, mas isso não aconteceu. Além disso, Bolsonaro contava com um apoio sólido nas Forças Armadas e conquistou uma parcela do empresariado. Por outro lado, na Argentina, as Forças Armadas não possuem a mesma influência e poder que no Brasil, e Milei não conseguiu atrair a mesma quantidade de empresários que Bolsonaro.

Negociação com o legislativo

O partido de Milei não detém maioria nem na Câmara dos Deputados nem no Senado, necessitando, portanto, do apoio de outras legendas. Essa dinâmica assemelha-se à do Brasil, mas a estrutura política argentina apresenta notáveis diferenças em relação à nossa.

Uma distinção crucial é que, na Argentina, as eleições legislativas seguem o sistema de lista fechada, onde os líderes partidários têm controle sobre a composição da lista, decidindo quem ocupará as posições mais altas e mais baixas. Na prática, os líderes partidários nas províncias argentinas possuem uma influência significativa nas negociações com o Executivo nacional.

Morresi comenta que o presidente é compelido a negociar com governadores, e é precisamente isso que Milei está realizando. Ele destaca a necessidade de negociação com as lideranças do peronismo não kirchnerista e da direita tradicional, ressaltando também a importância de negociar com os governadores.

De acordo com o pesquisador, a estratégia de Milei envolve inicialmente recusar recursos federais para obras nas províncias, para então negociar essa questão em troca de apoio parlamentar. Em outras palavras, ele declara que não será destinado financiamento federal para projetos locais como uma maneira de iniciar as negociações.

O professor menciona a crença de alguns apoiadores de Milei de que a vitória no segundo turno foi tão impactante que os legisladores hesitarão em se opor às políticas do novo presidente, alinhando-se por essa razão. Morresi, no entanto, considera essa possibilidade pouco provável.

O partido de Milei, Liberdade Avança (LLA), possui 40 das 257 cadeiras da Câmara dos Deputados e 7 dos 72 assentos do Senado. O peronismo, por sua vez, detém 105 deputados e 33 senadores. Entre os possíveis aliados de Milei na Câmara estão o partido do ex-presidente Mauricio Macri, com 40 cadeiras, e, talvez, a União Cívica Radical, com 35.

Propostas lembradas

De acordo com analistas políticos, algumas mudanças econômicas na Argentina, como a reforma da moeda, seriam implementadas independentemente de quem assumisse a presidência.

Zapata sugere que a sociedade está disposta a conceder um período para que o presidente efetue reformas. A incerteza reside na obtenção de uma maioria legislativa por parte dele e na eficácia dessas reformas para consolidar seu poder político.

Antes de ingressar na política, quando atuava como influencer ultraliberal, Milei defendia a dolarização e o fechamento do Banco Central. Morresi contextualiza essa perspectiva.

No que diz respeito à dolarização, o posicionamento tradicional de Milei em relação ao dólar não implica necessariamente na imposição de uma conversão fixa entre o peso e o dólar, nem na adoção do dólar como moeda corrente, como ocorre no Equador, por exemplo. A proposta é desbloquear transações envolvendo o dólar, pois atualmente existem diversas proibições legais na Argentina, conhecidas como "cepo", que restringem o uso do dólar como referência de valor. Contratos em dólar, por exemplo, são proibidos.

A visão de Milei é remover essas restrições, permitindo que as pessoas pensem e fixem preços em dólares. Na prática, a expectativa é que a economia se encaminhe para uma maior aceitação e utilização do dólar.

De acordo com o pesquisador Sergio Morresi, Milei verdadeiramente sustenta a ideia de fechar o Banco Central, como expresso em seus livros e artigos mais antigos. No entanto, há uma nuance importante nessa proposta. A intenção, acima de tudo, é eliminar as funções de regulamentação do mercado financeiro atribuídas aos Bancos Centrais. Em linhas gerais, a visão de Milei é promover um cenário financeiro mais livre, com a circulação de diversas moedas e menos intervenção no sistema financeiro.

O pesquisador comenta que, quando Milei abordava essa questão em um contexto mais utópico, tratava-se de um ideal. Entretanto, desde que ingressou na política, ele continua abordando o assunto, mas sua posição parece oscilar entre diferentes direções.

 

Foto Destaque: até então candidato, saiu do veículo que o trazia, seus apoiadores começaram a cantar "parabéns", já que era é o aniversário de 53 anos do libertário (Reprodução/AFP)

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