A maior ameaça à democracia do Ocidente. Foi assim que o conselheiro do governo de Donald Trump, Jason Miller, classificou o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, por meio de publicação no X (antigo Twitter) no último domingo (13). Na mensagem oficial em seu perfil, Jason Miller ainda disse que Moraes considera isso engraçado.
Miller complementa o breve texto com uma frase dita em tom de deboche pelo próprio ministro brasileiro: “As pessoas vão começar a dizer que eu estou perseguindo todo mundo agora”, brincou Alexandre na ocasião. A frase fazia referência a uma fala do magistrado durante entrevista que ele concedeu ao jornal americano The New Yorker.
A publicação original de Jason Miller no X:
Brazilian Supreme Court Justice Alexandre de Moraes is the single greatest threat to democracy in the Western Hemisphere, and he thinks it’s funny:
— Jason Miller (@JasonMiller) April 13, 2025
“People are going to start saying I’m persecuting everyone now,” he joked.https://t.co/E6voZXCbLK
O conselheiro de Trump, Jason Miller, publicou mensagem em seu perfil na rede social X (Foto: reprodução/X/@JasonMiller)
Opiniões de Alexandre de Moraes
Em matéria publicada pelo The New Yorker no início deste mês, o ministro afirmou que existe um tipo novo de populismo bem estruturado, digital, inteligente e extremista. “Infelizmente, no Brasil e nos Estados Unidos, ainda não aprendemos a revidar”, concluiu o Moraes.
Na opinião de Alexandre, o ponto divisor de águas foi durante a famigerada Primavera Árabe. Para ele, os defensores do ideário direitista perceberam que poderiam mobilizar apoiadores por meio do uso das mídias sociais.
Segundo o magistrado, tais mídias são uma poderosa ferramenta para moldar a sociedade atual. “Se Goebbels estivesse vivo e tivesse acesso ao X, estaríamos condenados. Os nazistas teriam conquistado o mundo”, comparou ele ainda em declaração ao “The New Yorker”. A menção ao alemão Paul Joseph Goebbels foi feita porque ele foi o ministro da Propaganda do regime da Alemanha nazista de Adolf Hitler entre 1933 e 1945.
Conforme matéria do site da CNN, Alexandre de Moraes foi procurado para comentar sobre a declaração recente de Jason Miller, mas ele não deu resposta.
Relembre a detenção de Jason Miller
O americano Jason Miller é uma figura já conhecida das autoridades federais brasileiras e do ministro do STF.
Em 2021, a Polícia Federal brasileira, a mando do ministro Alexandre de Moraes, protagonizou um episódio com o aliado de Trump que gerou um mal-estar diplomático ao Brasil. Na ocasião, os agentes detiveram Miller no aeroporto de Brasília para um interrogatório quando ele já estava prestes a embarcar de volta para os EUA.
Jason Miller é o assessor do atual governo de Donald Trump e foi detido em 2021 a mando de Alexandre de Moraes (Foto: reprodução/X/@JasonMiller)
Foram mais de duas horas detido em sala da PF para questionamentos como parte de um inquérito aberto para investigar supostos atos antidemocráticos realizados no Brasil, como as manifestações populares do dia 7 de setembro daquele ano. Segundo a suprema corte brasileira, Jason tinha algum tipo de envolvimento na organização e no financiamento de tais atos.
O assessor, que também é empreendedor, tinha passado alguns dias na capital do país, a fim de participar da Conferência de Ação Política Conservadora (na sigla em inglês, CPAC – Conservative Political Action Conference) e promover sua rede social, a GETTR.
A edição de 2025 do CPAC teve a presença de líderes políticos como Donald Trump (Foto: reprodução/WinMcNamee/GettyImagesEmbed)
A nova plataforma, fundada por Miller, havia sido criada como alternativa de liberdade de expressão para usuários quem estivessem sendo censurados por opinarem ou sumariamente banidos do então Twitter (atual X, hoje com novo dono, Elon Musk, e nova política para o uso da ferramenta)
A situação envolvendo Jason tornou-se constrangedora, dada a atuação incomum da PF sob o mando de Moraes, uma vez que se tratava apenas de um empresário estrangeiro, envolvido com a política dos EUA, que tinha visitado o Brasil para um evento de conservadores e que se encontrou com o então presidente da república, Jair Bolsonaro, no Palácio da Alvorada.
Em meio a esses compromissos, quando Jason Miller já estava no aeroporto prestes a deixar o país, o americano foi, por meio de um interrogatório de horas a fio, subitamente sugado para dentro de uma questão de política doméstica sem qualquer justificativa legal plausível apresentada, senão a suposição de um ministro do STF de que Miller estava ligado a supostos crimes contra a democracia brasileira.
Na ocasião, o ex-assessor de Trump perdeu o voo, sendo obrigado a providenciar outro. Desde então, o episódio ocorrido em 2021 não foi ignorado por ele nem pelo presidente dos EUA, tendo sua consequência reverberada até hoje na Casa Branca. Isso fez com que o atual governo de Donald Trump, em 2025, passasse a elaborar estratégias de neutralizar a força do ministro brasileiro.
Pressão: Um dos assessores mais próximos de Donald Trump, Jason Miller manda recado para Alexandre de Moraes e diz que “não esqueceu de nada”.
— ALBERTO IANNUZZI (@ALBERTOIANNUZZ6) March 1, 2025
Miller foi detido pela PF, a mando de Moraes, no Aeroporto de Brasília em 7 de Setembro de 2021. pic.twitter.com/7JzrUDtWKR
Jason Miller deixou claro que não esqueceu o episódio de sua detenção arbitrária ordenada por Alexandre de Moraes (Foto: reprodução/X/@ALBERTOIANNUZZ6)
O referido evento CPAC é um encontro tradicional que acontece desde o ano de sua fundação em 1974 e reúne conservadores do mundo inteiro. Dentre os quais estão: líderes políticos e chefes de governo, ativistas de direita, espectadores da sociedade civil comum e grupos conservadores. O CPAC é considerado o maior e mais influente evento político do segmento.
A edição brasileira daquele ano de 2021, da qual Jason Miller havia participado, tinha sido organizada pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro, filho do então presidente Jair Messias Bolsonaro.
Foto Destaque: o ministro Alexandre de Moraes em sessão no STF em Brasília (Reprodução/X/@JefersonMoraisF)