Os Jogos Olímpicos de Tóquio, marcados pelo adiamento de um ano, ausência de público e outras mudanças provocadas pela pandemia da Covid-19, mas não será apenas isso que marcará as Olimpíadas. Os Jogos Olímpicos deverão ser marcados também pela luta por igualdade, abertura para manifestações políticas e sociais dos atletas e pelo respeito às diversidades. Na cerimônia de abertura na sexta-feira (23), às 8h (horário de Brasília), essas questões serão jogadas ao público.
O Comitê Olímpico Internacional (COI) irá usar a gigante audiência da cerimônia de abertura, que será no Estádio Olímpico de Tóquio, para mostrar ao público "a capacidade de celebrar diferenças". O órgão organizador dos Jogos anunciou também que foram feitas mudanças no juramento olímpico. Pela primeira vez os termos "igualdade" e "inclusão" estarão fazendo parte do texto, a pedido da Comissão de Atletas. Mais uma mudança anunciada é que, antes estava previsto três pessoas iriam ler a declaração, mas agora o número subiu para seis (dois atletas, dois treinadores e dois juízes de prova).
"Os Jogos Olímpicos vão unir o mundo em toda a nossa diversidade Eles vão mostrar que somos mais fortes juntos em toda nossa solidariedade", declarou o alemão Thomas Bach, presidente do COI, na semana passada.
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Vamos entender como começou essa busca pela igualdade de gênero nos Jogos Olímpicos. Em fevereiro, quando Yoshiro Mori, presidente do Comitê Organizador, foi pressionado a renunciar do cargo após o mesmo fazer comentários sexistas, dizendo que "as mulheres falam demais nas reuniões do Comitê". A pressão foi tanta que Yoshiro não ficou no cargo. Para o cargo foi escolhida a ex-atleta e ministra, Seiko Hashimoto. Ela veio com a missão de fazer os Jogos Olímpicos de Tóquio não só um lugar mais igualitário, mas também aumentar o número de mulheres na direção do Comitê Organizador.
As Olimpíadas de 2021 serão a maior edição quando o assunto for igualdade de gênero na história dos Jogos, com 48,8% de participação feminina entre os quase 11 mil atletas que disputaram a competição. A meta para os Jogos Olímpicos de Paris, em 2024, é que o número de atletas homens e mulheres seja exatamente o mesmo. Para que essa meta seja alcançada, o COI promoveu nos últimos anos uma reestruturação das vagas, aumentando o número de vagas para mulheres nos Jogos.
Outra decisão tomada pelo COI visando a igualdade de gênero foi a modificação nas regras da cerimônia de abertura, que agora permite os Comitês Olímpicos Nacionais indiquem um homem e uma mulher para carregarem a bandeira nacional na ocasião. No Time Brasil, onde a participação feminina corresponde a 46,9% dos atletas, os porta-bandeiras serão a judoca Ketleyn Quadros (bronze em Pequim, 2008) e o levantador da seleção masculina de vôlei Bruninho (ouro em Rio, 2016/ prata em Pequim, 2008/ prata em Londres, 2012).
Ketleyn Quadros e Bruninho serão os porta-bandeiras da delegação do Brasil em Tóquio Foto: Time Brasil
Entre os atletas da delegação brasileira, a principal personagem desse movimento olímpico de igualdade de gênero é a camisa 10 da seleção feminina de futebol, seis vezes melhor do mundo, homossexual declarada e recentemente anunciada como líder de diversidade e inclusão da LATAM. A atacante usará nas Olímpiadas uma chuteira com a marca da campanha "Go equal", campanha que luta pela equiparação salarial entre homens e mulheres. Marta já chamou a atenção ao protestar nas fotos oficiais dos Jogos Olímpicos, quando cobriu com seu cabelo o símbolo da marca que fabrica os uniformes da seleção.
Na busca pela igualdade, Marta "esconde" a marca de material esportivo como protesto — Foto: CBF Oficial
Na área da diversidade, a halterofilista Laurel Hubbard, da Nova Zelândia, será a primeira atleta transgênero a competir os Jogos Olímpicos. Laurel chegou a participar da categoria masculina antes de realizar a transição de gênero, em 2013, mas se tornou elegível para competir na categoria feminina após realização de exames que apresentaram nível de testosterona abaixo do limite imposto pelo COI.
Laurel Hubbard será a primeira atleta trans a participar das Olimpíadas - Getty images
Ainda no campo da diversidade, entra o ponteiro da seleção masculina de vôlei Douglas Souza. "Eu sou a prova viva de que um LGBT pode jogar em alto nível como um hétero, sem problema nenhum. A gente precisa levantar essa bandeira em busca de igualdade", disse o atleta. "Acho extremamente importante a gente estar aqui em competições internacionais, desse tamanho, desse nível, porque somos pessoas iguais a todos. Não queremos ser melhores do que ninguém. Queremos apenas direitos iguais e sermos tratados da melhor maneira possível, assim como todo mundo.". Inclusive, a expectativa é que o debate sobre o movimento LGBT ganhe cada vez mais força duraste os Jogos de Tóquio.
Douglas Souza comemora ponto - Divulgação/FIVB
Nas Olímpiadas no Rio, em 2016, 56 de técnicos e atletas declaradamente gays, bissexuais, lésbicas, transgêneros ou transexuais. Quatro anos após, em Londres, o número de assumidos diminuiu para 23. Em Pequim, em 2008, eram somente dez declaradamente assumidos. De acordo com o site Outsports, especializado em notícias esportivas com foco em questões LGBT, aponta que em Tóquio será recorde com ao menos 142 nomes.
(Foto destaque: A luta pela igualdade de gênero marcará os Jogos Olímpicos de Tóquio - Foto: Unsplash)