ONU confirma recorde histórico de CO₂ na atmosfera

A concentração de dióxido de carbono (CO₂) na atmosfera atingiu em 2024 o maior nível desde o início das medições modernas, segundo relatório da Organização Meteorológica Mundial (OMM), ligada à ONU. O aumento de 3,5 partes por milhão (ppm) entre 2023 e 2024 representa o crescimento mais rápido já registrado, e acende um alerta global às vésperas da Conferência do Clima (COP 30), que será realizada em Belém, no Brasil.

De acordo com a OMM, o avanço do CO₂ está diretamente ligado às atividades humanas, como a queima de combustíveis fósseis e o desmatamento. Incêndios florestais intensos, aliados à menor capacidade de absorção de carbono por oceanos e florestas, também contribuíram para o aumento recorde. O órgão destaca que cerca de metade do dióxido de carbono emitido anualmente permanece na atmosfera, o que intensifica o aquecimento global e suas consequências.

Calor crescente e efeito dominó climático

Além do CO₂, outros gases do efeito estufa, como o metano (CH₄) e o óxido nitroso (N₂O), também alcançaram níveis inéditos. A ONU alerta que o calor retido por esses gases amplifica fenômenos climáticos extremos, como secas prolongadas, ondas de calor, enchentes e queimadas. O ano de 2024 foi o mais quente da história, impulsionado por um forte El Niño.


Charge ilustrando o aquecimento global (Foto: reprodução/Pinterest/@edugeo360graus)

A secretária-geral adjunta da OMM, Ko Barrett, destacou que “o calor retido pelo CO₂ e outros gases de efeito estufa amplifica as condições climáticas e intensifica os fenômenos meteorológicos extremos. Portanto, é fundamental reduzir as emissões, não apenas pelo nosso clima, mas também para a nossa segurança econômica e o bem-estar da população”.

A agência também alerta que os sumidouros de carbono — florestas e oceanos que absorvem parte do CO₂ — estão se tornando menos eficientes. A cientista sênior da OMM, Oksana Tarasova, explicou que “há uma preocupação de que esses sumidouros estejam se tornando menos eficazes, o que aumentará a quantidade de CO₂ que permanece na atmosfera, acelerando o aquecimento global”.

COP 30 busca frear avanço

Diante do cenário, a OMM reforça que o monitoramento contínuo e o compartilhamento de dados são essenciais para embasar políticas públicas e decisões globais. O relatório foi divulgado justamente para orientar as discussões da COP 30, que pretende intensificar a ação climática e cobrar compromissos concretos de redução de emissões.

Para Barrett, “manter e expandir o monitoramento de gases de efeito estufa é fundamental para apoiar esses esforços”. A ONU destaca que, sem medidas urgentes, os impactos ambientais e econômicos podem se tornar irreversíveis, comprometendo o equilíbrio climático e a qualidade de vida das próximas gerações.

Dia da Sobrecarga: Terra entra em déficit ecológico e esgota cota anual de recursos naturais

Esta quinta-feira (24) marca o “Dia da Sobrecarga da Terra” segundo a ONG internacional de sustentabilidade Global Footprint Network. O marco registra o momento em que o consumo de recursos naturais ultrapassa a capacidade produtiva/regenerativa do planeta, ou seja, a humanidade consumiu a cota de serviços ecológicos previstos para um ano inteiro. 

O cálculo para determinar o “Dia da Sobrecarga” é feito desde 1971 e se baseia nas Contas Nacionais de Pegada Ecológica e Biocapacidade, do FoDaFo (Footprint Data Foundation). Para mensurar a data, a ONG calcula o número de dias do ano em que a biocapacidade da Terra é suficiente para suprir a Pegada Ecológica humana. 

Consumo desenfreado nos países em 2025

Segundo dados divulgados pela Global Footprint Network, Catar, Luxemburgo e Singapura lideram a lista de países que consomem recursos naturais mais rapidamente. Se a demanda mundial correspondesse à dessas nações, a sobrecarga da Terra teria sido atingida em fevereiro. 

No Brasil, o marco seria alcançado em 1º de agosto. Estados Unidos em 13 de março e Alemanha e China, ao longo do mês de maio. 

Em escala global, o déficit ecológico de 2025 aconteceu uma semana mais cedo do que em 2024, que foi registrado no dia um de agosto. Em 1971, primeiro ano do cálculo, o dia da sobrecarga foi em 25 de dezembro. 

Segundo Mathis Wackernagel, cofundador da Global Footprint Network, o consumo desenfreado dos recursos naturais provoca muitos “males ambientais”. “Mesmo se mantivermos [o consumo] no mesmo nível, nós aumentamos a dívida ecológica que o mundo sustenta“, explicou Wackernagel em entrevista à emissora alemã DW.


Gráfico do “Dia da Sobrecarga da Terra” de 1971 a 2025 (Foto: Reprodução/Global Footprint Network) 

Como reverter

Para não ultrapassar os limites da Terra, é necessário que a Pegada Ecológica seja menor que a biocapacidade disponível por pessoa, estimada atualmente em 1,5 hectares. Entende-se biocapacidade como o potencial que uma área tem em produzir recursos renováveis e em absorver/filtrar resíduos produzidos – como por exemplo, a infraestrutura urbana e a absorção de CO2 excedente. 

Para Wackernagel, o ideal seria, não apenas limitar o consumo a “um planeta por ano”, mas sim ficar abaixo disso, uma vez que também há “outras espécies” que consomem os recursos.

A Global Footprint Network elenca uma série de caminhos em cinco áreas da humanidade para atrasar o “Dia da Sobrecarga da Terra”: Planeta, Cidades, Energia, Alimentação e População.


Soluções propostas pela Global Footprint Network (Foto: Reprodução/Global Footprint Network)

No setor de energia, a ONG propõe a eliminação gradual dos combustíveis fósseis e a descarbonização da economia. Na infraestrutura urbana, a sugestão é de cidades inteligentes que tenham sistema de transporte integrados e uma gestão avançada de energia.