Moraes restaura parte do decreto de aumento do IOF

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, restabeleceu partes do decreto emitido pela Presidência da República que determinava o aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). A ação ocorreu nesta quarta-feira (16) e gerou revolta entre os congressistas. A única exceção é para transações de “risco sacado”, que seguem isentas.

O Supremo decidiu por deliberar sobre o caso após pedido de interferência por parte do presidente Lula e do Ministro da Fazenda, Fernando Haddad. A medida visava reverter o veto sofrido no Congresso, que sustava o decreto.

A origem

Em coletiva de imprensa realizada no dia 22 de maio, o que era para ser um anúncio de cortes de gastos se tornou em aumento de impostos. O Ministro da Fazenda confirmou que os valores do IOF sofreriam reajuste.

O IOF é um imposto, semelhante à antiga CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentações Financeiras), cobrado em transações de crédito, câmbio, seguro, ou investimentos em títulos, ou valores mobiliários. Para cada transação, o valor é cobrado de maneira diferente.

Após o anúncio, o mercado reagiu de forma negativa, o que fez com que Haddad retrocedesse em alguns pontos, como aplicações de fundos nacionais no exterior, que teriam taxadas, mas que voltaram a ser isentas. Também houve recuo nas remessas de pessoas físicas ao exterior destinadas a investimentos, que teriam aumento para 3,5%, e foi recuado para o valor antigo, de 1,1%.


Deputado federal Lindberg Farias comemora decisão do ministro (Foto: reprodução/X/@lindberghfarias)

Compensação

Em junho, Haddad anunciou um pacote de medidas compensatórias em virtude do recuo em alguns pontos do decreto do IOF. Na proposta, o ministro impunha tributação de 5% de Imposto de Renda sobre Letra de Crédito Imobiliário (LCI) e Letra de Crédito do Agronegócio (LCA) e equalização da Contribuição Social sobre Lucro Líquido para instituições financeiras, que estaria entre 15% e 20%, extinguindo a de 9%.

O novo anúncio provocou reação do presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta. À época, o parlamentar alertou que a medida sofreria resistência na casa legislativa e destacou que o setor produtivo não suporta mais impostos.

Pedido ao Judiciário

A Medida Provisória (MP), de número 12.499, proposta por Haddad, foi derrubada no Congresso no dia 25 de junho. O resultado, símbolo de derrota para o Governo, fez com que Lula e Haddad acionassem o Supremo para reverter a situação.

Segundo entendimento da Advocacia-Geral da União (AGU), o aumento do IOF é apenas de autonomia do presidente da República, e considera a intervenção do Congresso como violação do princípio da separação dos Poderes. Contudo, para ter validade, o decreto deveria passar obrigatoriamente pela casa legislativa.


 

Entrevista do deputado Carlos Jordy sobre a medida (Vídeo: reprodução/YouTube/Os Pingos nos Is)

Usurpação de poder

O deputado federal Carlos Jordy (PL-RJ), em entrevista para o programa Os Pingos nos Is, da Jovem Pan, destacou que a atitude do Supremo, ao interferir em uma medida estabelecida pelo Congresso.

O parlamentar lembrou do texto da Constituição Federal, artigo 49, inciso 5, que trata da sustação dos atos do Executivo, de competência do Congresso. Além disso, ele alegou que o IOF apresenta desvio de finalidade, pois o IOF é um imposto extrafiscal, ou seja, não possui fins arrecadatórios, cujos fins são somente regulatórios.

Motta alerta que MP de compensação do IOF pode sofrer resistência

Nesta quinta-feira (12), o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos) alertou que as medidas propostas por Haddad enfrentarão “resistência” no Legislativo. Segundo Motta, de nada adianta conceber medidas de elevação da arrecadação sem que haja um corte de gastos. 

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou na última segunda-feira (09) um pacote de medidas de compensação em virtude do recuo em alguns pontos do reajuste do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). A decisão ocorreu após encontro com líderes partidários no domingo (08). 

O que muda 

Na mudança proposta pelo governo, não haverá isenção de imposto de renda para as Letras de Crédito do Agronegócio (LCA) e para as Letras do Crédito Imobiliário (LCI), com aplicação de tributação em 5%.  

O LCA é uma espécie de investimento de renda fixa, onde o investidor deixa seu dinheiro no banco, e o mesmo utiliza do valor para investir no agronegócio, como maquinário, comércio e outros meios ligados ao setor. O LCI funciona da mesma forma, mas com o valor investido sendo repassado para o setor imobiliário.  

Rendimentos provenientes de outros títulos no ramo do agronegócio também serão tributados em 5%. Entre eles estão a Cédula de Produto Rural, Certificado de Recebíveis do Agronegócio e Warrant Agropecuário.  

Também haverá tributação em porcentagem única de 17,5% no imposto de renda para pessoas físicas que realizam aplicações financeiras. A taxa se entende também aos criptoativos.  

A Contribuição Social sobre Lucro Líquido (CSLL) também sofrerá alterações. O governo quer acabar com a alíquota de 9%, mantendo a tributação entre 15% e 20%. 


Fernando Haddad, ministro da Fazenda (Foto: reprodução/Bloomberg/Getty Images Embed)

Motta confronta 

O presidente da Câmara foi enfático ao dizer que o debate com o governo tinha como objetivo cortar gastos, e não aumentar impostos. Hugo Motta disse que a temperatura no parlamento está elevada e que os deputados sentem-se incomodados ao votar tais medidas.  

Motta destacou também que somente o setor produtivo está sendo severamente afetado com a proposta. Em sua visão, “O setor produtivo não aguenta mais a nossa carga tributária”.  


Hugo Motta sobre as medidas de Fernando Haddad (Foto: reprodução/X/@HugoMottaPB)

Medida Provisória 

As propostas anunciadas pelo ministro da Fazenda serão apresentadas em forma de Medida Provisória (MP), de número 12.499. A medida estará em vigor pelo prazo de 180 dias até que o Congresso Nacional apresente o texto para votação. Caso o Parlamento não vote o projeto, ele será automaticamente suspenso.  

De acordo com declaração do ministro nesta quinta (12), a medida de compensação pode arrecadar até R$ 20 bilhões aos cofres públicos. O aumento do IOF tem por objetivo, na visão de Haddad, realizar um equilíbrio fiscal nas contas do governo.