Motivo das investigações de Trump contra o Pix
Ferramenta que foi lançada em 2020 e conta com a adesão de mais de 170 milhões de usuários agora faz parte da mira investigativa do governo norte-americano

Nesta terça-feira (15), o governo dos Estados Unidos anunciou que abrirá investigações comerciais contra o Brasil.
A comunicação de tais investigações foi oficialmente comunicada pelo USTR (Escritório de Representante Comercial dos Estados Unidos) e já havia sido mencionada na carta que Donald Trump enviou ao governo brasileiro na última semana, porém dentre os fatores desta investigação uma se destacou: a apuração de eventuais irregularidades no Pix.
O Pix na mira
Desenvolvido durante o governo de Michel Temer e lançado no governo de Bolsonaro, o Pix acabou muito bem aceito e se tornou muito popular entre os brasileiros.
No documento da USTR consta uma menção indireta ao Pix como sendo um dos motivos para investigação. Segundo o relatório, empresas norte-americanas que são do setor de pagamentos estariam sendo prejudicadas por um “sistema de pagamento” desenvolvido pelo governo brasileiro.
Um trecho deste documento menciona que o Brasil parece ter envolvimento com várias práticas desleais de pagamento eletrônico, mas não diz exatamente que práticas seriam estas.
Segundo a BBC News Brasil, especialistas afirmam que um dos motivos para a inclusão do Pix nas investigações tem a ver com a tentativa de proteção aos interesses das empresas de tecnologias e pagamentos dos EUA, chamadas de big techs, qual os principais diretores desses setores são apoiadores do governo de Donald Trump.
Investigação ao Pix (Vídeo: reprodução/YouTube/CNNbrasil)
A economista e professora da FGV-SP (Fundação Getúlio Vargas São Paulo), Carla Beni, diz que um dos motivos do governo americano se voltar para o Pix tem relação com o setor financeiro das empresas norte-americanas. Segundo ela, como o Pix é um sistema de pagamento gratuito, empresas do setor podem ter se “sentido prejudicadas”. Com o crescimento do Pix, as grandes empresas mundiais de cartão de crédito perderam espaço no mercado e conforme o Pix avança com Pix crédito e Pix parcelado, essas empresas continuarão perdendo. “O governo americano está fazendo uma varredura onde suas empresas podem estar sendo prejudicadas”, completou.
Já para Frederico Glitz, advogado especialista em direito internacional e doutor em Direito pela Universidade Federal do Paraná, o Pix diminuiu a dependência, tanto das empresas de bandeiras de cartões de crédito quanto das big techs, que são empresas majoritariamente americanas, e o resultado foi a ferramenta ter se tornado alvo da investigação.
A investigação é apenas mais um meio dos EUA pressionar o Brasil e dependendo do resultado do fim das investigações, as autoridades norte-americanas poderão até impor mais tarifas ao Brasil ou até mesmo proibir que alguns produtos sejam importados, frisou ele.
Segundo a BBC News Brasil, questionamentos ao USTR e a Febraban (Federação Brasileira de Bancos) foram enviadas, mas não obtiveram respostas de nenhum dos órgãos.
Reações à investigação
Após a inclusão do Pix na investigação do USTR, houve reação nas redes sociais e também no governo do presidente Lula.
Durante uma entrevista coletiva nesta quarta-feira (16), Rui Costa, ministro da Casa Civil, disse que é inacreditável que Trump esteja preocupado com um meio de pagamento adotado pelo Brasil e que é totalmente aceito pela população, empresas e setor financeiro.
Já o perfil oficial do governo federal postou a seguinte frase: “O Pix é do Brasil e dos brasileiros. Parece que nosso Pix vem causando um ciúme danado lá fora, viu? Tem até carta reclamando da existência do nosso sistema seguro, sigiloso e sem taxas”.
A postagem foi feita na rede social X, antigo Twitter.