Interrupção de Fux a Moraes divide opiniões e reacende slogan bolsonarista
Fux interrompe Moraes no STF gesto viraliza e é visto por bolsonaristas como “imparcial”, enquanto a esquerda crítica e ironiza

O ministro Luiz Fux interrompeu o relator Alexandre de Moraes durante a sessão do Supremo Tribunal Federal (STF) nesta terça-feira (9), e o episódio logo ganhou destaque nas redes sociais. O gesto, considerado incomum em sessões da Primeira Turma, foi visto por apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro como um sinal de “imparcialidade” diante do que classificam como “domínio” de Moraes nos julgamentos ligados à trama golpista.
No X (antigo Twitter), a expressão “fio de esperança” foi usada por parlamentares de direita, como o vereador Gilson Machado Filho (PL), que exaltou a postura de Fux. Segundo ele, “ninguém aguenta mais a tirania de Alexandre de Moraes”. Já o deputado federal Gilson Marques (NOVO) reforçou que a intervenção alimentou a expectativa por “um bom voto”.
Além disso, a frase “In Fux We Trust” voltou a circular intensamente entre bolsonaristas. O lema surgiu em 2016, durante a Operação Lava Jato, em troca de mensagens entre Sérgio Moro e Deltan Dallagnol, na qual Fux era visto como um aliado da força-tarefa. Agora, o slogan ressurge como símbolo de resistência de parte da direita no julgamento da tentativa de golpe.
Momento em que Luiz Fux interrompe Alexandre de Moraes (Vídeo: Reprodução/CNN Brasil/YouTube)
A reação da esquerda e a fala de Flávio Dino
Enquanto apoiadores da direita exaltaram a atitude de Fux, setores da esquerda responderam com críticas e ironias. O ministro Flávio Dino, que havia feito uma rápida colocação em defesa do posicionamento de Alexandre de Moraes sobre as operações da PRF no segundo turno das eleições de 2022, reagiu em tom sarcástico após ser interrompido por Fux: “Eu tranquilizo, ministro Fux, que não pedirei a palavra durante o seu voto. Pode dormir em paz”, disse Dino, arrancando comentários nas redes sociais.
Usuários progressistas rapidamente compartilharam a frase, transformando-a em contraponto ao entusiasmo da direita. Na avaliação de aliados do governo, a reação de Dino evidenciou a tentativa de Fux de assumir o papel de “juiz da neutralidade”, algo que, segundo eles, não se sustentaria diante dos elementos presentes no processo.
Analistas políticos também destacaram que o episódio mostra como o julgamento extrapola o campo jurídico e ganha contornos de disputa narrativa, tanto à direita quanto à esquerda. De um lado, o gesto de Fux foi interpretado como um “sopro democrático”; de outro, foi visto apenas como uma forma de confrontar Moraes, relator responsável pelos principais casos ligados à tentativa de golpe.
Bastidores da interrupção e tensão no plenário
A divergência teve origem quando Alexandre de Moraes discorria sobre as operações da PRF no segundo turno das eleições de 2022. Dino pediu a palavra para confirmar que a ação teve impacto no transporte de eleitores, reforçando a tese de Moraes de que houve tentativa de obstrução ao voto. Fux, então, interrompeu, lembrando que os ministros haviam combinado previamente que não fariam apartes durante os votos.
“Não foi o que combinamos naquela sala ao lado”, disse Fux, referindo-se à reunião reservada antes da sessão. Ele destacou que, embora considerasse legítima a fala de Dino, era necessário cumprir o pacto de silêncio durante os votos. O presidente da Primeira Turma, Cristiano Zanin, interveio em seguida, afirmando que a intervenção havia sido autorizada pelo relator.
A troca de farpas tornou o ambiente mais tenso e reforçou a percepção de que o julgamento está cercado de disputas internas e externas ao tribunal. Enquanto Fux tenta se apresentar como uma voz destoante, Moraes mantém o protagonismo no processo, e Dino, recém-chegado à Corte, já se tornou alvo de ataques da oposição. A cena, amplamente repercutida nas redes, ilustra como cada gesto dos ministros do STF ganha peso político no atual contexto brasileiro.