A sessão solene em memória à vereadora Marielle Franco e ao motorista Anderson Gomes, brutalmente assassinados no Rio de Janeiro em 2018, foi cheia de depoimentos e clamores por mais esclarecimentos sobre o crime, além de menções ao deputado Chiquinho Brazão, cuja prisão será avaliada pela Comissão de Constituição e Justiça da Câmara nesta terça-feira.
Vários amigos, parlamentares e políticos estiveram presentes, dentre eles a jornalista Fernanda Chaves, única sobrevivente do atentado, porém um nome muito importante. Arthur Lira, não compareceu e não enviou nenhum tipo de esclarecimento. O pronunciamento inaugural foi conduzido pela deputada Maria do Rosário (PT-RS), responsável pela presidência da sessão.
Mãe de Marielle Franco (Foto: reprodução/instagram/@institutomariellefranco)
Renovada esperança por justiça
A deputada Maria do Rosário (PT-RS) expressou uma renovada esperança por justiça durante a sessão solene. Ela ressaltou que, anualmente, a Câmara realiza tais sessões em memória deste caso, enfatizando a importância de não nos acostumarmos com a impunidade. Após anos desde o crime, finalmente, avanços significativos foram feitos para identificar os mandantes deste ato bárbaro.
Embora possam faltar alguns esclarecimentos, a deputada salientou que importantes passos já foram dados. Maria declarou que a mudança só pode ser alcançada caso haja uma união, colocando Marielle como exemplo, além disso, reforçou que a necessidade de achar respostas para todas as perguntas que envolvem esse crime. Por fim, disse “Não é mais possível que polícias e perícias estejam vinculadas na cena do crime, com a desfaçatez de um delegado que participa do crime. A obstrução de justiça está próxima de nós. Esta Casa precisa agir para desvincular as perícias da atuação daqueles que estão atrelados às milícias”
Exigência por mudanças e enfrentamento às milícias
A deputada Talíria Petrone (PSOL-RJ), autora do requerimento para a sessão solene, enfatizou o trabalho da Polícia Federal na prisão dos mandantes do crime. Ela destacou a importância de aproveitar este momento de dor e evidência da relação entre crime e política para confrontar as milícias. Talíria reiterou a responsabilidade do parlamento na cassação de Chiquinho Brazão e enfatizou que é papel da política brasileira enfrentar essa realidade. Com as milícias presentes em 15 estados, é crucial não se calar diante dessa ameaça, argumentou a deputada.
Protesto pedindo justiça pelas mortes de Marielle e Anderson (Foto: reprodução/instagram/@marielle_franco)
Apelo por mudanças nos ritos de investigação
Agatha Arnaus, viúva do motorista Anderson Gomes, fez um apelo por mudanças nos ritos das investigações. Ela destacou que a morte de Marielle e Anderson não foi um evento isolado, mas parte de uma trama recorrente no país. Agatha criticou a conduta de um delegado, representante do Estado, envolvido no crime. Ela expressou sua indignação com a situação e ressaltou a necessidade de que a dor das famílias não seja em vão. Agatha afirmou que a luta por justiça e verdade deve continuar, exigindo uma justiça eficaz diante das ações criminosas perpetradas pelo Estado.
Reflexões do ministro dos direitos humanos
O ministro dos Direitos Humanos, Silvio de Almeida, lamentou a perda de Marielle, que representa uma perda para o Brasil. Ele destacou que as revelações recentes expuseram as entranhas de um Estado corrompido e de uma sociedade conivente, algo que precisa ser erradicado. Silvio enfatizou a importância de refletir sobre a segurança pública, salientando que não pode haver segurança sem respeito aos direitos humanos. Ele instou o Brasil a retomar o controle de seu território enfrentando com firmeza os criminosos responsáveis pelo assassinato de Marielle, incluindo milicianos e grileiros de terras.
Análise da prisão de Chiquinho Brazão
A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) realizará a leitura do parecer sobre a prisão do deputado Chiquinho Brazão, agendada para as 14h. O deputado Darci de Mattos (PSD-SC) atuará como relator. Segundo membros da CCJ ouvidos pelo GLOBO, há uma tendência favorável à prisão, e a escolha de Darci como relator se deu pelo seu posicionamento moderado.
Conclusão no Plenário da Câmara
O parecer será encaminhado diretamente ao plenário da Câmara, onde a decisão sobre a prisão será tomada pela maioria dos membros. Espera-se que o plenário delibere sobre o assunto até quarta-feira, em uma sessão convocada pelo presidente Arthur Lira (PP-AL).
Foto destaque: Quadro de Marielle Franco na Câmara (reprodução/instagram/@marielle_franco)