Brasileiros que vivem na Espanha têm compartilhado relatos de episódios de racismo no país, em meio à repercussão dos ataques contra o jogador brasileiro Vini Jr. Essas histórias revelam um sofrimento comum, vivenciado em situações cotidianas, como uma simples ida ao supermercado. O programa Fantástico, da TV Globo, conversou com alguns brasileiros residentes e trabalhadores em Madri, trazendo à tona essas experiências.
Reportagem do Fantástico (Foto: Reprodução/ Instagram)
Maria Santos, historiadora e professora, relata um incidente em que foi abordada por um segurança em um supermercado, enquanto ninguém mais na fila passou pela mesma situação:
"O segurança se aproximou de mim e disse 'abra a sua bolsa, por favor?'. Eu perguntei 'como?'... 'Não vou abrir'. Ele respondeu 'todos têm que abrir, é uma norma do estabelecimento'. Eu disse 'olhe quantas pessoas estão atrás de mim e quantas pessoas passaram na minha frente. Em nenhum momento você as abordou para que abrissem as bolsas".
Maria também enfrentou racismo em outras ocasiões, em uma delas com a filha e uma amiga. Felipe Domingos, bailarino, relata que percebe o racismo através de olhares. Ele também se sente observado quando faz compras no supermercado, percebendo que o segurança o observa de forma estranha e o segue.
Um estudo do governo espanhol em 2020 indicou que pessoas de diferentes origens e etnias se sentem mais excluídas em relação ao acesso à moradia, seguido pelas dificuldades em frequentar estabelecimentos abertos, como lojas e supermercados.
No entanto, apenas 20% das pessoas que afirmaram ter sofrido discriminação formalizaram alguma queixa. Isso se deve ao fato de que a legislação espanhola não possui uma lei específica para combater a discriminação racial.
Antumi Toasijé, historiador e presidente do conselho de questões raciais e étnicas do Ministério da Igualdade da Espanha, explica que "o racismo na Espanha tem uma história muito concreta". Ele ressalta que a Espanha, provavelmente, foi responsável pela criação do racismo contemporâneo, por meio dos estatutos de limpeza do sangue, implementados a partir do século XV, que excluíam os não-brancos da sociedade, especialmente de profissões consideradas nobres, como educação e administração pública.
Virtudes Sanchez, jornalista espanhola que mora no Brasil há sete anos, destaca que os espanhóis geralmente não têm consciência do significado do racismo. Ela só percebeu suas próprias atitudes racistas ao conviver com pessoas negras, como correspondente de um jornal esportivo.
Foto destaque: Vinícius Jr celebra o título da Champions. Foto: Reprodução/ Twitter