Após decretar lei marcial na terça-feira (3) e voltar atrás poucas horas depois, o presidente da Coreia do Sul, Yoon Suk Yeol, enfrenta uma possível reação intensa da oposição, incluindo ameaças de impeachment.
O Partido Democrático, principal força de oposição, pediu a renúncia ou o afastamento de Yoon, que ocupa a presidência desde 2022.
"Mesmo que a lei marcial seja suspensa, ele não pode evitar as acusações de traição. Foi claramente revelado para toda a nação que o presidente Yoon não poderia mais administrar o país normalmente. Ele deve renunciar", afirma Park Chan-dae, membro sênior do partido na Assembleia Nacional, em um comunicado.
Imagem de Yoon Suk Yeol, presidente da Coréia do Sul (Foto: reprodução/Getty Images Embed/Handout)
Lei marcial
Yoon decretou a lei marcial com o objetivo de combater "forças anti estatais" supostamente em conluio com a oposição. No entanto, o decreto foi rejeitado pelos parlamentares, resultando na maior crise política da Coreia do Sul em décadas.
A lei marcial impõe restrições aos direitos civis e substitui a legislação normal por leis militares, incluindo controle sobre a imprensa, a Assembleia Nacional e as forças policiais, além de proibir todas as atividades políticas, como manifestações.
O decreto, que Yoon afirmou ter como alvo seus adversários políticos, foi recusado por 190 membros da Assembleia Nacional. De acordo com a legislação sul-coreana, o presidente deve revogar imediatamente a lei marcial caso o Parlamento a rejeite por maioria de votos. O próprio partido de Yoon pediu que ele revogue o decreto.
Ao saber do recuo do presidente, manifestantes fora do Parlamento celebraram, gritando e batendo palmas, com os gritos de "Nós vencemos!" ecoando no local.
"Tiro no pé" do presidente
"A Coreia do Sul, como nação, se esquivou de um tiro, mas o presidente Yoon pode ter dado um tiro no próprio pé", comenta Danny Russel, vice-presidente do think tank Asia Society Policy Institute, nos Estados Unidos, para a agência de notícias Reuters.
Yoon foi eleito presidente em maio de 2022, com uma margem inferior a 1%, como candidato da direita pelo Partido do Poder Popular. Inexperiente na política, ganhou destaque público como promotor ao investigar alguns dos maiores escândalos de corrupção do país.
Ao assumir o cargo, Yoon enfrentou o desafio de reduzir o custo de vida, controlar os preços elevados das moradias e combater a crescente desigualdade e o desemprego entre os jovens. No entanto, seu governo se viu envolvido em acusações de corrupção. A primeira-dama, por exemplo, foi filmada recebendo como presente uma bolsa de luxo avaliada em quase R$ 11 mil, valor superior ao limite estabelecido pela lei.
Pesquisas mostram que o trabalho de Yoon tem sido amplamente desaprovado pela população sul-coreana, com as taxas de aprovação do governo girando em torno de 20%. Isso tem aumentado a pressão política sobre o presidente.
Em abril deste ano, o Partido Democrata, oposição a Yoon, obteve uma vitória esmagadora nas eleições parlamentares, ampliando seu controle sobre a Assembleia Nacional com mais de 170 das 300 cadeiras.
Na ocasião, Yoon fez um pronunciamento prometendo mudanças em seu governo e a implementação de políticas para estabilizar a economia da Coreia do Sul. Enquanto isso, a oposição aprovou moções para investigar a primeira-dama, mas todos os projetos foram vetados pelo presidente.
Imagem Destaque: Presidente da Coréia do Sul, Yoon Suk Yeol (Reprodução/BBC)