O presidente da argentina, Javier Milei, formalizou em carta a recusa da Argentina em aderir ao Brics, bloco composto por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. O convite para a entrada da Argentina no grupo de nações emergentes foi estendido durante a cúpula do Brics em agosto deste ano, gerando expectativas e questionamentos sobre a posição do país sul-americano em relação à sua inserção geopolítica.
Desde o período de campanha, Javier Milei havia deixado claro seu posicionamento contrário à adesão da Argentina ao Brics. Com declarações enfáticas sobre o alinhamento geopolítico do país com os Estados Unidos e Israel, o presidente argentino sustentou sua convicção de que integrar o bloco representaria um desvio dessa rota estratégica.
Na carta enviada ao Brasil e aos demais membros do Brics, Milei reiterou sua visão, argumentando que a decisão de não aderir ao bloco é uma resposta à necessidade de revisão de algumas decisões tomadas pela gestão anterior, incluindo a criação de uma unidade especializada para a participação ativa da Argentina no Brics.
Contexto internacional
O governo brasileiro, ao receber a carta de Milei, demonstrou não ter ficado surpreso com a decisão, indicando que já havia recebido sinalizações nesse sentido anteriormente. A ministra das Relações Exteriores da Argentina, Diana Mondino, já havia indicado em novembro que o país não pretendia aderir ao Brics.
Bandeiras dos países do Brics (Foto: reprodução/Agência Brasil/Marcelo Camargo)
Internacionalmente, a recusa argentina ocorre em um momento de ampliação do bloco Brics. Durante a última cúpula em agosto de 2023, os membros decidiram formalmente convidar seis novos países para integrar o grupo: Argentina, Egito, Irã, Etiópia, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos. No entanto, a adesão desses países está sujeita ao cumprimento de condições específicas, com entrada prevista a partir de 1º de janeiro de 2024.
Desafios internos
A recusa de Milei em integrar o Brics acontece em um momento delicado para o presidente argentino. Ele enfrenta resistência no Legislativo para aprovar dois pacotes de reformas anunciados nos últimos dias. Os pacotes, que incluem o Decreto de Necessidade e Urgência e a "Lei Ómnibus", totalizam mais de mil artigos e contemplam medidas como a dispensa de mais de 5 mil funcionários públicos.
Entretanto, Milei enfrenta resistência no Congresso, onde seu partido detém minoria, contando com apenas 37 dos 257 deputados e sete dos 72 senadores. Em meio à oposição, o presidente argentino tem buscado pressionar aliados, ameaçando até mesmo realizar uma consulta pública para tentar aprovar os decretos.
Protestos nas ruas
Paralelamente às batalhas legislativas, grupos sindicalistas têm saído às ruas de Buenos Aires em protesto contra as medidas previstas nos decretos e o chamado Plano Motosserra, um pacote fiscal com nove medidas destinadas a conter a crise econômica, anunciado nas primeiras semanas do governo de Milei.
A imprensa argentina avalia que a carta de recusa em integrar o Brics pode ser interpretada como uma estratégia de Milei para desviar o foco da crise interna e concentrar a atenção em questões de política externa. A análise sugere que a decisão de Milei, alinhada com suas posições prévias, pode ser uma maneira de reforçar sua narrativa política em meio aos desafios domésticos.
Compromisso bilateral
Em comunicado oficial, o governo argentino informou que a carta de recusa foi enviada aos países membros do Brics, reafirmando o compromisso do governo nacional em intensificar os laços bilaterais, especialmente no aumento dos fluxos de comércio e investimento. Essa reiteração sugere a intenção de manter relações estreitas com o Brasil, principal parceiro comercial dos argentinos.
A decisão de não integrar o Brics representa uma escolha clara de Milei, que destaca as mudanças na política externa em relação à administração anterior. Em meio a um cenário global complexo, a Argentina busca preservar seus interesses estratégicos, alinhando-se com potências ocidentais e mantendo o foco em relações bilaterais fundamentais para sua economia.
Política externa
A recusa argentina em integrar o Brics, embora alinhada com as declarações prévias de Milei, marca um capítulo significativo na política externa do país. Enquanto o presidente enfrenta desafios internos, a decisão de não participar do bloco de nações emergentes ressoa em um contexto global no qual as dinâmicas geopolíticas estão em constante evolução.
O impacto econômico dessa decisão e suas repercussões nas relações internacionais serão observados atentamente nos próximos meses. A posição argentina destaca a complexidade das alianças geopolíticas em um mundo cada vez mais interconectado, revelando as nuances e desafios que os líderes enfrentam ao equilibrar interesses domésticos e internacionais.
Foto destaque: Javier Milei no programa "La Noche de Mirtha" em 3 de dezembro de 2022. (Reprodução/Flickr/Ilan Berkenwald).