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“Masturbação coletiva” não foi o único caso que ocorreu na Unisa, relatam alunas de medicina

Estudantes falam que casos de abusos e misoginia fazem parte da rotina e “tradição do curso”. A repercussão do vídeo também abriu portas para relatos obscuros

20 Set 2023 - 18h55 | Atualizado em 20 Set 2023 - 18h55
“Masturbação coletiva” não foi o único caso que ocorreu na Unisa, relatam alunas de medicina Lorena Bueri

O caso ocorreu na Universidade de Santo Amaro (Unisa) em abril, no torneio Calo 2023, em São Carlos, interior do estado. O assunto vem ganhando uma grande repercussão desde o último domingo (17), após a divulgação de um vídeo de repúdio viralizar nas redes sociais, gerando diversos debates.

Em entrevista ao GLOBO, as estudantes de medicina relataram, sob anonimato, que além da “masturbação coletiva” que vem viralizando, o clima da universidade é de um terror psicológico predominante pelos corredores, desde os primeiros anos de faculdade firmada pelo lema “hierarquia, raça e tradição”, onde pregam obediência e respeito aos antigos da instituição.


Jogo entre Unisa x São Camilo pelo CaloMed, em São Carlos. Estudantes que praticaram masturbação coletiva foram expulsos. (Foto: Reprodução / Estadão)


Atualizações do caso

Nestes últimos dias, a Universidade de Santo Amaro (Unisa) verificou e realizou a expulsão dos alunos envolvidos no episódio, que ocorreu durante a CaloMed, uma competição entre universidades realizada em abril deste ano. Após a repercussão do vídeo que conseguiu levantar grandes debates nas redes sociais, a decisão foi oficialmente divulgada no fim da noite da segunda-feira (18).

O Centro Universitário São Camilo informa que nossa Atlética do curso de Medicina não participa do Intermed. Porém, em abril deste ano participou de outro evento esportivo chamado Calomed, quando nossas alunas disputaram um jogo contra a equipe da Unisa. Os alunos da Unisa, saindo vitoriosos, segundo relatos coletados, comemoraram correndo desnudos pela quadra. Não foi registrada, naquele momento, nenhuma observação por parte das nossas alunas referentes à importunação sexual. O Centro Universitário São Camilo apoia todos os nossos alunos e não compactua com quaisquer atos que possam atentar contra o pudor e os bons costumes.”

Vale mencionar também que a universidade alegou ainda que o ocorrido pode ser enquadrado como atentado ao pudor, crime de notificação individual, entretanto, nenhuma aluna da faculdade registrou a ocorrência.

Além do que não foi viralizado

Algumas alunas da Unisa aproveitaram esse momento que a faculdade está recebendo olhares de todos, para relatarem que o caso ocorrido não foi apenas o viralizado. Além da “masturbação coletiva”, elas explicam que existem diversos outros abusos na universidade, como, por exemplo, terror psicológico e misoginia, e que hinos vulgares, códigos de conduta e retaliação por não alinhamento estão presentes na postura de veteranos da instituição.

As alunas também relataram ao GLOBO que se sentem constrangidas em cantar o hino, cantado especialmente nas festas e jogos universitários, no qual elas julgam misógino. Em trecho diz: “Enfio o dedo nela que ela vai arreganhar. O quê? Arrenhar!

Os relatos são extremamente absurdos, novatos são obrigados a aceitar um tipo de código de conduta assim que chegam na universidade. Regras como nunca poder estar de cabelo solto, decote, acessórios, esmalte, saia ou shorts, são lançadas para as mulheres onde eles pedem para parecerem “menos sexualmente atraente possível”, e os homens precisam ter o cabelo raspado.

Apelidos ecoam pelos corredores, e tendem a ser obrigatórios, sendo muitas vezes banal como “muriçoca” (“só para de chupar quando apanha”) ou “ninfetinha”. Além disso, uma das alunas afirmou ao GLOBO ter descoberto existência de um grupo de WhatsApp onde os estudantes homens compartilhavam entre si, fotos de colegas com quem tiveram momentos íntimos, e até mesmo enviavam imagens de estudantes nuas em situações de vulnerabilidade


Jogo entre Unisa x São Camilo pelo CaloMed, em São Carlos. Estudantes que praticaram masturbação coletiva foram expulsos. (Foto: Reprodução / Araraquara24horas)


Ainda a muito para descobrir

O episódio gerou uma repercussão maior do que a própria instituição, mostrando certa toxicidade da universidade que acaba silenciando vozes das vítimas envolvidas.

Após a nota de repúdio da Unisa, a publicação recebeu diversos tipos de comentários. Entre eles, ganharam destaque alguns como: “Fake News”, “Nota Ridícula! Se querem representar nossa amada faculdade com respeito, é necessário reiterr que tais notícias são FAKE NEWS!!!!!! Façam algo direito pelo menos”, escreveram alunos.

Tão maluco porra? Em vez de esclarecer a fake news, lançam uma nota de repúdio como se fosse vdd, só sujando o nome da nossa faculdade, vcs tão de sacanagem”, publicou um aluno.

Algumas pessoas, nessa última semana, começaram a pressionar a universidade exigindo respostas e providências a serem tomadas. “Formar profissionais de excelência, éticos e empreendedores, com visão humanística e crítica que respeitem a diversidade e atuem de maneira inovadora, contribuindo para a construção de uma sociedade mais justa, igualitária e sustentável”.

Sendo procurada e cobrada, a Universidade Santo Amaro (Unisa) não se pronunciou até o momento.

Foto destaque: Jogo entre Unisa x São Camilo pelo CaloMed, em São Carlos. Estudantes que praticaram masturbação coletiva foram expulsos. Reprodução / 97 News

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