Atualmente considerado "persona non grata" pelas autoridades israelenses, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva marcou um momento histórico como o primeiro chefe de Estado do Brasil a realizar uma visita oficial ao país do Oriente Médio durante seu segundo mandato no Palácio do Planalto, em 2010. Na ocasião, que ocorreu há 14 anos atrás, o líder do Partido dos Trabalhadores foi recebido pelo próprio Benjamin Netanyahu.
Recentemente, o mesmo criticou veementemente uma declaração de Lula comparando o governo israelense à Alemanha de Adolf Hitler, devido aos bombardeios na Faixa de Gaza. Há catorze anos, Netanyahu já ocupava o cargo de primeiro-ministro de Israel, e embora houvesse discordâncias entre os dois líderes, a relação era consideravelmente mais amigável e pacífica do que nos dias atuais.
Diplomacia em meio a tensões regionais
Lula chegou ao Oriente Médio para visitar Israel e a Cisjordânia, em meio a um clima tenso. Na época, Netanyahu insistia em ampliar os assentamentos judaicos em Jerusalém Oriental, enfurecendo os palestinos. O que acabou gerando uma crise com a Casa Branca, chefiada pelo então presidente americano, Barack Obama, contrário às construções.
Além disso, o petista estava sob pressão israelense depois de o Brasil ter se posicionado contra a adoção de sanções ao Irã devido ao programa nuclear de Teerã. Lula criticava a posição iraniana de não reconhecer o Holocausto e de ser contra a existência de Israel, mas se gabava do bom relacionamento com o então presidente daquele país, Mahmoud Ahmadinejad.
Lula recebendo repatriados de Gaza no Brasil (Foto: reprodução/Instagram/@ricardostuckert)
Conciliação e críticas
Alguns líderes israelenses criticavam o brasileiro por sua proximidade com Teerã, mas ainda assim ele foi bem recebido pelo governo Netanyahu. O porta-voz israelense, Igal Palmor, declarou na época que o Brasil era um país amado mundialmente, e que os israelenses também nutriam esse carinho pelo país, mesmo com as declarações polêmicas de Lula. Além disso, o ministro da Segurança Pública israelense também deixou claro que a amizade entre os dois países era muito forte e isso não mudaria no futuro.
Durante sua passagem por Israel, Lula participou de uma sessão em sua homenagem no Knesset, mas a visita foi boicotada pelo então ministro das Relações Exteriores de Israel, Avigodr Lieberman, que faltou à cerimônia em protesto contra a relação do Brasil com o Irã. Netanyahu, por sua vez, discursou ao lado do presidente brasileiro, mas também pediu ao presidente para repensar suas atitudes e pensamentos em relação ao Teerã.
A controvérsia atual e a memória do Holocausto
Na época, Lula não voltou atrás na posição de não punir o Irã com sanções, mas prometeu que, durante visita a Teerã, agendada para maio de 2010, pressionaria o líder Ahmadinejad a reconhecer o Holocausto e aceitar a existência de Israel. O presidente defendeu seu posicionamento alegando que é contra qualquer demonstração de agressividade, pois nasceu com o “vírus da paz”
Depois da recente declaração de Lula na Etiópia, comparando o duradouro bombardeio em Gaza ao genocídio do povo judeu por Hitler, o governo Netanyahu convocou o embaixador brasileiro em Israel para uma reunião no Museu do Holocausto, local que ele já visitou em 2010, como forma de fazer uma reprimenda ao petista, que, em seguida, foi considerado persona non grata no país do Oriente Médio.
Há 14 anos, o brasileiro depositou flores nos túmulos simbólicos dos seis milhões de judeus assassinados pelo regime nazista. O presidente também alimentou a "chama eterna", espécie de tocha sempre acesa para lembrar as vítimas do Holocausto. Recebido no local por um rabino sobrevivente do campo de concentração de Buchenvald, ele afirmou que "os dois maiores crimes da História foram o Holocausto e a escravidão" e sugeriu que todos os líderes mundiais deveriam visitar o museu para governar no sentido de evitar novos genocídio
Foto destaque: Lula na 37ª Cúpula da União Africana (Reprodução/Ricardo Stuckert/PR)