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Feminicídio gestacional: estudo aponta altas taxas de mortalidade

Estudo da Fiocruz revela que 56,4% das mortes de mulheres grávidas são resultado de causas externas, sendo 80,1% destes casos atribuídos ao feminicídio

13 Dez 2023 - 20h00 | Atualizado em 13 Dez 2023 - 20h00
Feminicídio gestacional: estudo aponta altas taxas de mortalidade Lorena Bueri

O estudo aborda a realidade das mulheres grávidas que sofrem violência no país. Os resultados apontam que mais da metade das mortes de mulheres grávidas notificadas por violência resultam de causas externas, sendo o feminicídio responsável por assustadores 80,1% desses óbitos. A pesquisa destaca também fatores de proteção, mas a urgência em lidar com essa questão persiste, além de identificar fatores de risco, incluindo faixa etária, métodos de agressão e condições socioeconômicas.

O que diz o estudo

Os detalhes da pesquisa realizada pelo no Caderno de Saúde da Fiocruz revelam a extensão da violência enfrentada por mulheres grávidas no país. A análise aponta para um cenário alarmante, no qual mais de 50% das mortes notificadas durante a gestação são motivadas por causas violentas.

O estudo identificou características que aumentam ou diminuem o risco de óbito entre as mulheres grávidas vítimas de violência. Entre os fatores de risco estão a faixa etária de 30 a 39 anos, agressões com armas de fogo ou objetos perfurocortantes, estado civil solteira/viúva, baixa escolaridade e residência em municípios com até 100 mil habitantes. Por outro lado, ser casada/união estável, ter escolaridade acima de quatro anos e viver em municípios mais populosos, se mostraram como elementos de proteção.


Dados apotam como alarmante o número de mortes entre grávidas vítimas de violência no Brasil (Foto: reprodução/BBC/Getty Images)


Comparando com dados nacionais, a pesquisa destaca que as taxas de mortes por causas externas e feminicídios entre mulheres em idade fértil, no período de 2011 a 2017, eram significativamente inferiores às reveladas por este estudo. O aumento exorbitante, especialmente no caso dos feminicídios, alerta para a necessidade de uma atenção redobrada às mulheres grávidas vítimas de violência.

O estudo aponta ainda que a presença de armas de fogo e objetos perfurocortantes como fatores associados ao óbito destaca a necessidade urgente de políticas de controle de armas. Em contrapartida, o cenário político brasileiro apresenta uma tendência preocupante de flexibilização no acesso a armas, sugerindo um aumento potencial nos casos de feminicídios e outros crimes violentos.

Desafio na apuração dos dados

A análise do Observatório Obstétrico Brasileiro evidencia a dificuldade em produzir dados precisos sobre o feminicídio no período gravídico-puerperal, contribuindo para a invisibilidade dessas mortes nos protocolos de saúde. A pesquisa também destaca a falta de informações sobre mortes violentas relacionadas à gravidez, apontando a necessidade de melhorar a vigilância para identificar fatores potencialmente evitáveis.

A pesquisa revela que a "gravidez que termina em aborto" é a segunda principal causa de óbito entre mulheres que sofrem violência na gravidez. A criminalização do aborto no Brasil e a exposição das mulheres a práticas inseguras aumentam os riscos de morte, destacando a interseção entre a violência, o aborto e as políticas restritivas.

 

Foto destaque: foto em preto e branco representando a mão de uma mulher em sua barriga de gravidez (Reprodução/SIC Notícias)

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