Uma grave denúncia na Terra Indígena Yanomami iniciou uma série de dúvidas e levou a uma rigorosa apuração da Polícia Federal: o relato é o de que uma menina ianomâmi, de apenas 12 anos, morreu depois de ser estuprada por garimpeiros que exploravam ilegalmente o local.
A comunidade onde a menina residia foi encontrada toda queimada e não havia ninguém. O caso tomou conta das principais manchetes na imprensa nacional e internacional, e tem mobilizado autoridades lideranças indígenas, políticos, influenciadores e artistas que demonstraram apoio à causa repercutindo o que aconteceu pelas redes sociais com a hashtag: “CADÊ OS YANOMAMI”.
A Polícia Federal foi até a comunidade Aracaçá, após denúncia, realizada pelo presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Ye’kwana (Condisi-YY),Júnior Hekurari Yanomami, no entanto, os agentes não acharam indícios de crime. O caso continua em investigação.
Artistas como as cantoras, Anitta e Daniela Mercury, o DJ Alok e a líder indígena Sônia Guajajara se mobilizaram com o movimento das redes sociais: “CADÊ OS YANOMAMI”.
Alok questionou no Twitter onde estão os indígenas. (Foto: Reprodução/Twitter)
O que aconteceu?
Na noite de 25 de abril, o presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Ye’kwana (Condisi-YY), Júnior Hekurari Yanomami, divulgou através de uma gravação que uma menina de 12 anos tinha sido estuprada e morta durante um ataque de garimpeiros.
Segundo o presidente do Conselho, uma tia, teria tentado salvar a garota. No meio do imapsse, uma criança, filha dessa mulher, teria caído no rio e sumido. O relato dado por Júnior Hekurari, baseado em informações recebidas por ele via rádio, foi encaminhado para a Polícia Federal, Ministério Público Federal e Funai.
Segundo o áudio divulgado pelo Condisi-YY, a garota morava na comunidade Aracaçá, região de Waikás, onde há forte presença de garimpeiros e registra dia a dia um significativo avanço de exploração ilegal, de acordo com o relatório “Yanomami sob ataque”, da Hutukara Associação Yanomami (HAY).
Em Aracaçá, moravam aproximadamente 30 indígenas. De difícil acesso, é necessário cerca de 1h15 de voo saindo da capital de Roraima, Boa Vista, até Waikás. Para chegar até Aracaçá, são mais 30 minutos de helicóptero ou cinco horas de barco no caminho do rio Uraricoera.
Líder indígena teme revolta de indígenas e massacre de comunidade que tem cerca de 30 Yanomami vivendo juntos. A imagem acima mostra corrutela de garimpo no rio Uraricoera, na TI Yanomami (Foto Reprodução: Bruno Kelly/HAY)
Andamento das investigações
A Polícia Federal e o MPF passaram a investigar o caso. Dois dias depois do relato divulgado por Condisi-YY, uma comitiva com representantes desses órgãos e também da Funai foi até Waikás e Aracaçá.
Em nota conjunta, o Ministério Público Federal e a Polícia Federal divulgaram “não ter achado nenhum vestígio de crime de homicídio e estupro". Também alegaram não existir indícios da morte de outra criança que teria desaparecido no rio.
No entanto, informaram que prosseguem com a apuração porque as “diligências demonstraram a necessidade de aprofundamento da investigação, para melhor esclarecimento dos fatos”.
Hekurari, que também estava presente na comitiva, contou que, em Waikás, o helicóptero que os levava pousou em um espaço utilizado por garimpeiros. Por lá, encontraram alguns indígenas – aproximadamente 7 pessoas – que não quiseram falar muito sobre o ocorrido.
Em outro dia, já em Aracaçá, as equipes, conforme Hekurari, não acharam indígenas e uma das casas se encontrava queimada. Além disso, a comunidade estava vazia.
Existe uma suspeita que os garimpeiros estejam pressionando. Antes da chegada da Polícia em Aracaçá, circularam vídeos nas redes sociais que mostram um garimpeiro sem identificação perguntando a indígenas da comunidade sobre a veracidade das denúncias divulgadas pelo Condisi-YY.
Na mesma data em que a PF foi à região, um representante dos garimpeiros soltou um áudio dizendo que a “paciência acabou” e que “vão responder igual” a respeito de denúncias contra eles.
Foto Destaque: Índios Yanomami na comunidade de Palimiú, na Terra Indígena em Roraima. Foto Reprodução: Nelson Almeida/ AFP
