O presidente Donald Trump ordenou, ontem (15), que seja feito um estudo minucioso para verificar a possibilidade de aplicação de tarifas sobre importações de minerais essenciais feitas pelos EUA.
Segundo matéria publicada pelo site da CNN com base na apuração da agência Reuters, a decisão só veio a confirmar o que especialistas já vinham conjecturando há um bom tempo: a carência dos EUA por minerais na forma processada, o que o torna dependente do mercado chinês e do de outros países; a realidade do cenário de ferrenha disputa entre as duas grandes forças mundiais e a atual preponderância chinesa no setor.
Para se ter uma ideia, atualmente, os Estados Unidos possuem só uma mina das chamadas terras raras. A maior parte de seu fornecimento processado é proveniente da China. As “terras raras” referem-se a um grupo de 17 elementos amplamente utilizados nas indústrias de veículos elétricos, energia, eletrônicos e defesa.
A produção em uma mina de terras raras na China (Foto: reprodução/STR/AFP/Getty Images Embed)
Para formalizar a medida assinada na Casa Branca, Trump baseou-se na Seção 232 da Lei de Expansão Comercial. O responsável por iniciar o trabalho é o secretário de Comércio do governo, Howard Lutnick.
Esta não é a primeira vez que o presidente americano evoca essa Lei. Ele recorreu ao mesmo dispositivo legal durante o seu primeiro mandato entre 2016 e 2020, a fim de impor tarifas globais de 25% sobre o aço e o alumínio. Em fevereiro deste ano, utilizou novamente, só que para investigar tarifas sobre o metal cobre.
Motivo do interesse dos EUA
Como se sabe, os minerais são essenciais para fabricação de automóveis, aeronaves, eletrônicos de alta tecnologia, dentre outros produtos cujas matérias-primas utilizadas são os metais.
Mas a questão não passa só pela necessidade de aumentar a produção por meio se insumos e retomar a prosperidade econômica no segmento.
Para além disso, dada a dependência americana de importações de minérios, sobretudo na versão dos processados, Donald Trump está levando em conta a segurança nacional tanto no aspecto da defesa do país como para sua economia. Afinal, o setor de mineração também é de grande relevância para indústria bélica.
Outro aspecto destacável é que em governos anteriores, os EUA vinham realizando acordos unilaterais, mas que só favoreciam os outros países, inclusive a China, em detrimento dos EUA. A desvantagem nessas negociações comerciais impactou a economia americana. De olho nisso é que o atual governo dos EUA busca reagir na disputa.
Do que se trata o estudo
A análise verificará o grau de vulnerabilidade do país no que diz respeito a minerais essenciais e também levará em conta a dinâmica do mercado. A partir disso, então o governo definirá a possível aplicação de tarifas para todos os principais minerais que são importados pelos EUA. Dentre os principais destacam-se: o cobalto, o níquel e as 17 terras raras.
Além disso, esse estudo prevê também a verificação do potencial de tarifação do urânio e de quaisquer outros metais considerados necessários pelas autoridades do governo federal.
O cenário de mineração dos EUA, hoje, é desvantajoso em face da gigante China e de outras nações, dependendo do tipo de metal e da especificação do serviço. A produção americana de lítio, por exemplo, é baixa e o país possui apenas uma mina de níquel.
Outro ponto fraco do segmento é que os EUA não fazem o processo de fundição desse metal e não possuem minas e refinarias do elemento cobalto. Já com relação ao cobre, o território americano é abundante no que se refere a minas, contudo, possui só duas fundições desse metal — o que não é satisfatório se considerarmos a agressividade da disputa mercadológica do setor.
Mina de cobre e os caminhões que fazem o transporte no Arizona, EUA (Foto: reprodução/Rebecca Noble/Bloomberg/Getty Images Embed)
O país ainda depende de outras nações para processar o cobre. O presidente americano tem consciência desse cenário desfavorável.
“A dependência dos Estados Unidos em relação às importações e a vulnerabilidade de nossas cadeias de suprimentos aumentam o potencial de riscos à segurança nacional, à prontidão da defesa, à estabilidade de preços e à prosperidade e resiliência econômica”, avaliou Trump.
China mede forças com os EUA
Como reposta às tarifas amplas estabelecidas recentemente pelo governo americano, a China revidou impondo restrições à exportação de terras raras, uma das carências dos EUA na área. A medida foi percebida como uma demonstração de força econômica do país asiático ao se valer de sua hegemonia na extração e processamento de minerais essenciais do momento e usar isso para fazer frente nessa queda de braço contra a nação mais próspera do mundo.
Em 2024, Pequim já havia medido forças com Washington ao proibir a exportação de três outros metais para a América e impor controles de exportação a outros.
Em uma ação que prejudica a economia de diversas nações e não só a dos EUA, nos últimos anos empresas de mineração da China têm assombrado os mercados mundo afora com seus suprimentos de minerais essenciais comercializados por preços bem abaixo da média.
Foto Destaque: o presidente dos Estados Unidos, Donald J. Trump (Reprodução/X/@realDonaldTrump)