O novo lançamento da Marvel é com certeza um filme que promete ser tão divisivo para os fãs do Universo Cinematográfico da Marvel (MCU) quanto tem sido para a crítica americana. Esse sentimento se dá pela tomada de riscos que levaram a uma certa fuga daquela fórmula esperada da Marvel, resultando em um projeto ambicioso que pode ser conferido pelos fãs a partir desta quinta-feira (4).
Primeiramente, é importante ressaltar que o aspecto técnico do filme é perfeito. “Eternos” é com total certeza um dos filmes mais belos que a Marvel já produziu, senão o mais bonito. Tanto a fotografia quanto o design da produção são excelentes e merecem ser conferidos, se possível, numa tela IMAX para poder apreciar totalmente as exuberantes paisagens e cenas apresentadas pelo longa.
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Agora vamos tocar no quesito principal, o enredo. A diretora Chloé Zhao, vencedora do Oscar por Nomadland, apresenta a história de um grupo de seres extra-terrestres, os Eternos, que são enviados a terra por um deus espacial gigante para protegê-la dos Deviantes – predadores que só buscam a destruição. Se essa explicação já te deixou confuso, é bom se preparar. “Eternos” é um filme com diálogos repletos de exposição e que acaba sendo o menos acessível a novos fãs desde o primeiro longa do Homem de Ferro lá em 2008.
O filme utiliza uma estrutura não-linear que deve encontrar resistência por parte dos fãs, devido aos constantes saltos no tempo entre o presente e o passado. No entanto, esse foi um dos meus aspectos favoritos da atração da Marvel e acredito que os fãs mais fervorosos do MCU e dos quadrinhos vão concordar com esse sentimento. O mecanismo é interessante, pois permite entender como eram esses seres no momento da sua chegada na terra e como a interação com os humanos, ao longo dos mais de 7 mil anos em que se passa o filme, afetou a forma de pensar de cada membro da equipe. Além disso, recebemos respostas do porquê os Eternos não se envolveram em grandes eventos do MCU, como a batalha contra Thanos que resultou na morte de metade da população do universo.
Com tamanho escopo e ambição, o filme acaba por não conseguir dosar igualmente o tempo que passamos com cada um de seus personagens, porém, todos tem pelo menos um momento de destaque e traços de personalidade bem definidos. Chloé Zhao introduz 10 personagens de uma vez, o que pode ser um pouco demais, mas o feito se torna mais palatável devido a uma grande performance do elenco.
E que elenco! 'Eternos' estrela Richard Madden (Ikaris), Gemma Chan (Sersi), Angelina Jolie (Thena), Salma Hayek (Ajak), Lia McHugh (Sprite), Kumail Nanjiani (Kingo), Ma Dong-seok (Gilgamesh), Barry Keoghan (Druig), Lauren Ridloff (Makkari) e Bryan Tyree Henry (Phastos). O filme ainda conta com uma carismática performance de Kit Harington (Dane Whitman) em um papel reduzido, mas com um grande futuro por vir. Fãs dos quadrinhos vão entender exatamente o que quero dizer.
Em um longa no qual não há um vilão definido, mais um ponto que separa “Eternos” da fórmula Marvel, os dilemas morais dos personagens tomam o centro. Madden carrega o filme. O seu personagem, Ikaris, é o membro mais poderoso da equipe e também o mais complexo. O ator, cotado por muitos para suceder Daniel Craig como o próximo James Bond, faz par romântico com Gemma Chan, intérprete de Sersi, e dá vida a um romance épico que se expande por milênios.
Chan funciona como a guia da audiência para o mundo dos Eternos e cumpre bem o seu papel. Outras duas performances que merecem ser ressaltadas são a de Angelina Jolie, na pele da torturada guerreira Thena, e a de Kumail Nanjiani, que é simplesmente hilário como o astro de Bollywood, Kingo, e brilha toda vez em que está em cena.
Outro ponto positivo de “Eternos” é que o longa é o primeiro do MCU a realmente dar largas braçadas na questão da representatividade. Além de contar com um elenco diverso, o filme apresenta o primeiro casal gay da Marvel, normalizando um beijo entre homens no primeiro plano e não mais renegado ao fundo da tela. Outra novidade trazida por Chloé Zhao foi a primeira cena de sexo do MCU. Há o debate de que cenas desse tipo não seriam próprias para as crianças que irão assistir o filme, mas acredito que o resultado final foi benéfico ao longa, criando uma cena que ajuda a humanizar esses seres extra-terrestres e apresenta uma relação com a naturalidade que faltou em outras desse universo.
Em suma, “Eternos” é um filme ambicioso, visualmente impecável e com atuações que mantém a audiência intrigada, mesmo que a sua longa duração, com 2h36, e enredo inconstante acabem dividindo a opinião. Ao melhor, o filme proporciona reflexões interessantes sobre a natureza humana, acompanhadas de cenas impactantes de ação e aquele humor característico que se espera do MCU. Essa combinação, aliada a criatividade por trás do filme, um verdadeiro épico que foge do padrão Marvel em muitos aspectos, torna “Eternos” um longa que merece pelo menos uma visita durante a sua estadia nas telonas.
Ah! Antes que eu me esqueça, é importante ficar até o finalzinho da sessão, porque o filme conta com duas cenas pós-créditos que vão ser importantes para o futuro do MCU. A introdução de um personagem em particular, e o ator que o interpreta, prometem dar o que falar.
NOTA: 8,0
(Foto destaque: Cena de 'Eternos'. Reprodução/Marvel Studios)