Entidades cobram que COP30 reconheça a escravidão e o colonialismo como causas da crise climática
Coalizão de ativistas e intelectuais exige que a COP30 reconheça que o legado da escravidão e do colonialismo incluem a destruição do equilíbrio climático

Uma coalizão global de ativistas, intelectuais e líderes de comunidades africanas, afrodescendentes e indígenas está pressionando a COP30, que acontecerá em Belém, no Pará, de 10 a 21 de novembro de 2025, para que as negociações reconheçam a escravidão e o colonialismo como raízes históricas da crise climática.
A iniciativa ganhou força com o lançamento de uma carta aberta em setembro de 2025, buscando colocar a justiça reparatória no centro da agenda. Argumento é que a crise não é apenas um problema ambiental, mas uma consequência das desigualdades estruturais geradas por séculos de exploração.
Conexão histórica com a injustiça atual
O movimento argumenta que a crise climática é um resultado direto do modelo econômico capitalista e extrativista, impulsionado pela exploração colonial e pelo trabalho escravo. A exploração de recursos naturais em larga escala e a destruição de ecossistemas foram atividades fundamentais para o enriquecimento de potências colonizadoras no Norte Global. Hoje, essas mesmas nações são as maiores emissoras históricas de gases do efeito estufa, enquanto os países e comunidades do Sul Global, historicamente explorados, são os mais vulneráveis aos impactos da crise, como secas, inundações e desastres naturais.
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Carta Aberta Internacional pela Justiça Climática e Reparatória (Foto: reprodução/Instagram/(@institutoluizgama)
A carta aberta e seus signatários
A principal ferramenta de pressão é a Carta Aberta Internacional pela Justiça Climática e Reparatória. Liderada pelo Instituto Luiz Gama, em parceria com a Global Afro-descendant Climate Collaboration for Climate Justice e outras entidades, a carta já conta com a adesão de mais de 140 organizações e 110 figuras públicas. Entre os signatários de destaque estão a Anistia Internacional EUA, o Black Lives Matter Grassroots, a Educafro (Brasil) e o rapper sueco Jason “Timbuktu” Diakité.
O documento defende que a COP30 se torne um “marco na luta por justiça climática e reparatória”. A coalizão exige não apenas um reconhecimento simbólico, mas a implementação de mecanismos de compensação financeira e tecnológica dos países ricos para as comunidades mais afetadas.
Belém como o palco ideal para essa demanda
A escolha de Belém do Pará como sede da COP30 adiciona um peso significativo a essa pauta. A Amazônia, palco de exploração colonial e extrativista, é hoje um dos ecossistemas mais ameaçados do mundo. A realização do evento no Brasil, um país com uma profunda história de escravidão e opressão colonial, oferece uma oportunidade única para que a presidência brasileira lidere uma agenda que vá além da discussão técnica e incorpore as vozes e as demandas de povos historicamente marginalizados.
Movimentos sociais brasileiros, como a Rede Favela Sustentável e a Comissão Pró-Índio de São Paulo, também estão levantando pautas relacionadas, como a visibilidade de vozes quilombolas e a vulnerabilidade das favelas, reforçando que a justiça climática e a justiça racial são inseparáveis.