Imunizante contra chikungunya é suspenso nos Estados Unidos

A Food and Drug Administration (FDA), órgão responsável pela regulação de medicamentos nos Estados Unidos, comunicou a interrupção do uso da vacina contra chikungunya Ixchiq, produzida pela farmacêutica Valneva em parceria com o Instituto Butantan. A medida foi tomada após a ocorrência de efeitos adversos graves, incluindo internações e mortes, principalmente entre idosos. No Brasil, a vacina permanece liberada para adultos de 18 a 65 anos.

Relatos alarmantes nos Estados Unidos e na Europa

Nos últimos meses, autoridades de saúde dos Estados Unidos e da Europa vêm monitorando atentamente os efeitos da vacina contra chikungunya Ixchiq, após surgirem registros de reações graves em pessoas idosas. De acordo com a FDA, foram notificados 21 casos de hospitalizações e três mortes possivelmente associadas ao imunizante, incluindo um paciente que desenvolveu encefalite, condição inflamatória grave do cérebro, confirmada como relacionada à aplicação da vacina.

Na Europa, a Agência Europeia de Medicamentos (EMA) chegou a suspender temporariamente o uso do imunizante para idosos, retomando a aplicação apenas em situações em que o risco de contrair a doença seja considerado elevado e após avaliação criteriosa dos benefícios e riscos individuais.


Técnica de laboratório realiza teste durante epidemia de chikungunya (Foto: Reprodução/Richard Bouhet/Getty Images Embed)

Análise de riscos e benefícios da vacina

A última decisão da FDA evidencia que, até o momento, os estudos clínicos realizados não confirmaram de forma definitiva os benefícios da vacina Ixchiq. Segundo o órgão americano, em grande parte dos cenários possíveis, os riscos associados à imunização, incluindo hospitalizações e mortes entre idosos, superam as possíveis vantagens.

Apesar da suspensão temporária nos Estados Unidos, a farmacêutica Valneva reafirma seu compromisso de disponibilizar a vacina nos países onde ela já recebeu aprovação, ressaltando a relevância do imunizante para proteger populações em áreas endêmicas da chikungunya. A empresa também destaca a importância de avaliar cuidadosamente o risco individual antes da aplicação, de modo a equilibrar segurança e proteção.

Cenário no Brasil e planos para o futuro

No Brasil, a vacina Ixchiq recebeu aprovação da Anvisa para uso em adultos de 18 a 65 anos, embora ainda não tenha sido comercializada no país. Paralelamente, o Instituto Butantan está desenvolvendo uma versão nacional do imunizante, que será mais adequada para incorporação ao Sistema Único de Saúde (SUS) e facilitará a distribuição em larga escala.

O Ministério da Saúde já demonstrou interesse em incluir a vacina na rede pública, com o objetivo de ampliar a proteção da população diante do risco crescente de surtos de chikungunya. Especialistas destacam que a adoção de uma versão nacional pode reduzir custos e garantir maior acesso em regiões mais afetadas pela doença, fortalecendo a capacidade de prevenção em todo o território brasileiro.

HIV: tecnologia RNAm usada na covid-19 pode ajudar pessoas soropositivas

Duas vacinas que usam a mesma tecnologia das vacinas contra a Covid-19 (feitas pela Pfizer e Moderna) conseguiram fazer o corpo reagir fortemente contra o HIV. Isso foi mostrado em dois estudos científicos, um feito com pessoas e outro com animais, publicados na revista Science Translational Medicine.

Mais de 41 milhões de pessoas no mundo tem HIV e mais ou menos 1 milhão estão no Brasil. Desde que a doença surgiu, os cientistas de todos os países tentam desenvolver uma vacina contra o vírus da Aids, mas até o momento não obteve sucesso.

Ao desenvolver uma vacina contra o vírus, os pesquisadores estudam como o corpo elimina agente causador da doença do seu sistema. Mas no caso do HIV o organismo não elimina o vírus totalmente do corpo, e na maioria dos casos, ele diminui a quantidade ao ponto de se tornar quase invisível. Outro fator importante são as mutações rápidas e constante de aparência, o que dificulta ainda mais o desenvolvimento de uma vacina específica e, por isso, quando se desenvolve uma vacina que elimine a doença, ela tem que passar por vários testes para saber se funcionará ou não nessas condições.

Nova vacina

A tecnologia RNAm é a nova esperança para a saúde desses pacientes, pois ela consegue se modificada rápido e tem baixo custo, além de oferecer rápidos resultados.  Com a nova tecnologia, o resultado saí em meses, o que traz agilidade para os pesquisadores. A vacina funciona via estímulos nas células e produz uma proteína específica encontradas na superfície dos vírus. Isso induz uma resposta imunológica, que ajuda o corpo a reconhecer e eliminar o vírus, caso seja exposto.

A vacina ideal para o HIV tem que “soltar” produções de anticorpos neutralizantes e imutáveis do vírus, que se semelham a muitas cepas e podem bloquear infecções, oferecendo assim proteção abrangente.


Tecnologia RNAm avança contra o vírus HIV (Foto: reprodução/NurPhoto/Getty Images Embaled)

Na nova abordagem, os pesquisadores fizeram vacinas para transportar informações para uma proteína encontrada na superfície do HIV. Em duas delas, eles ocultaram uma parte dessa informação proteico-chave que normalmente desvia a atenção do sistema imunológico para o desenvolvimento de uma resposta protetora. E na terceira, essa parte da superfície viral estava exposta.

O estudo

O primeiro teste foi feito em coelhos e macacos, com ótimos resultados, o que deu uma base para desenvolver a vacina para os testes em humanos, na qual 108 adultos saudáveis com idades entre 18 e 55 anos foram utilizados em dez centros de estudo diferentes nos Estados Unidos.

Cada participante recebeu três doses da vacina designada: uma na consulta inicial, outra dois meses depois e uma dose final seis meses após a primeira. A vacina que receberam foi selecionada aleatoriamente.

O resultado em animais e em humanos foram os mesmos, elas mostraram bons desempenhos quando esconderam as informações na célula proteica. Apenas 4% dos participantes que receberam uma vacina que expôs essa parte da superfície viral produziram anticorpos que poderiam bloquear a infecção; esse número saltou para 80% quando essa região não era visível ao sistema imunológico.

O estudo clínico em humanos foi feito principalmente para avaliar a segurança das vacinas, e elas tiveram bons resultados, mas também trouxeram efeitos colaterais leves como fadiga, dor, dor de cabeça, calafrios, náusea e dor no local da injeção, além de 6,5% dos casos os participantes tiveram urticária crônica ou leve a moderada em todas as versões da vacina. A maioria dos sintomas foi resolvida ou melhorada com anti-histamínicos orais, embora dois participantes tenham apresentado sintomas persistentes por mais de 32 meses.

Pacientes curados

No mundo todo, somente cinco pessoas foram curadas do HIV, mas nenhuma delas foi mediante vacinas desenvolvidas para a doença. A cura dessas pessoas foram através de transplante de medula óssea, mas isso não é uma opção viável para todos os pacientes com HIV, pois é um procedimento de alto risco e com limitações.
Esses pacientes tinham em comum além do HIV era que todos faziam tratamento contra o câncer, Timothy Ray Brown foi a primeira pessoa curada da doença e foi observado por 12 anos pelos médicos e nesse período a doença não reapareceu, ele morreu 12 anos após ser curado devido ao um câncer em 2008. A pesquisa para a cura total continua em todo mundo.

Estudos de vacina universal contra o câncer avançam na Universidade da Flórida

Pesquisadores da Universidade da Flórida anunciaram em julho de 2025 um avanço promissor no desenvolvimento de uma vacina experimental contra o câncer baseada em RNA mensageiro (mRNA). O estudo, publicado na Nature Biomedical Engineering, aponta que a fórmula pode ser eficaz no combate a múltiplos tipos de tumor sem depender de alvos específicos para cada paciente.

Essa vacina, testada em camundongos, foi capaz de eliminar completamente tumores em modelos de melanoma, câncer ósseo e cerebral. A novidade está na abordagem genérica: em vez de se ater a mutações no DNA tumoral, a estratégia consiste em estimular o sistema imunológico a reagir como se estivesse enfrentando um vírus. Isso gera produção da proteína PD‑L1 nas células cancerígenas, tornando-as mais reconhecíveis e vulneráveis às células T que atacam tumores resistentes.

Funcionamento da vacina

O uso da vacina de mRNA em conjunto com inibidores de checkpoints imunológicos, como os anti‑PD‑1, ampliou significativamente os efeitos contra os tumores. Nos modelos avaliados, vários animais apresentaram regressão total das lesões cancerígenas. Os resultados sugerem que a combinação pode desbloquear respostas imunes anteriormente ineficazes, acelerando a ação contra células malignas. Elias Sayour, oncologista pediátrico líder da equipe, destacou que a eficácia ocorre mesmo sem direcionamento específico, basta ativar a imunidade com força para provocar reação tumor-alvo.


Anúncio de vacina contra o câncer da Rússia (Vídeo: reprodução/YouTube/Record News)

Este modelo experimental contrasta com as vacinas personalizadas, que exigem desenho individual conforme mutações únicas do tumor. A nova abordagem genérica pode tornar viável uma terapia “pronta para uso”, com produção em série e ampla aplicabilidade, abrindo espaço para uma vacina universal contra o câncer.

Expectativas e desafios regulatórios

Caso os próximos testes clínicos em humanos confirmem os resultados, essa tecnologia representará um salto na imunoterapia. A expectativa é de que possa servir como complemento a tratamentos convencionais, especialmente em tumores com baixa resposta à quimioterapia ou radioterapia. No entanto, especialistas reforçam que o sucesso depende de validação rigorosa em ensaios controlados.

Há também preocupação com o ambiente regulatório nos EUA, onde cortes de financiamento e restrições à pesquisa com mRNA estão em pauta. A nova administração americana, aliada a vozes críticas dentro de agências como FDA e NIH, ameaça desacelerar o progresso tecnológico, e pesquisadores alertam que isso pode comprometer o avanço dessa e de outras vacinas contra câncer.

Nos próximos meses, os cientistas planejam iniciar ensaios clínicos em pacientes, estabelecer protocolos de segurança e mensurar a resposta imunológica e os efeitos colaterais. A transição de animais para seres humanos leva tempo, e especialistas enfatizam a necessidade de dados publicados e avaliados por pares para confirmar a eficácia da abordagem.