Alta em ativos econômicos faz mercado entrar em alerta

A alta em ativos, como ouro, criptomoedas e até mesmo do preço de imóveis está causando um misto de otimismo e ceticismo no mercado. Se por um lado, os lucros destes investimentos estão em alta, por outro, a recessão é um medo constante. O receio do mercado é de que estas bolhas de ativos estourem a qualquer momento.

Segundo analistas, a recessão econômica ainda não aconteceu graças ao impulsionamento da inteligência artificial.

Entendendo as bolhas

O economista John Kenneth Galbraith, já falecido, analisou bolhas econômicas em suas obras clássicas, principalmente “A Grande Depressão de 1929” e “Uma Breve História da Euforia Financeira”. Ele argumentou que as bolhas são fenômenos recorrentes impulsionados pela psicologia humana, especulação desenfreada, dívida excessiva e a “memória financeira curta” do público.

As bolhas geralmente começam com uma nova ideia ou uma inovação financeira que captura a imaginação do público. Essas ideias são frequentemente ricas em possibilidades imaginativas, mas pobres em possibilidades realistas, permitindo que a especulação se alastre.

A especulação desenfreada é frequentemente sustentada por crédito facilmente disponível e altos níveis de negociação com margem. Essa alavancagem amplifica tanto a ascensão da bolha quanto o impacto do eventual colapso, à medida que os investidores enfrentam liquidações forçadas e chamadas de margem.

Galbraith cunhou ou popularizou o termo “desfalque”, referindo-se à quantidade de fraudes não descobertas que aumenta durante um período de expansão. Quando a bolha estoura, essas fraudes são expostas, acelerando ainda mais a recessão.


Investidores decidiram adquirir ouro em detrimento do papel-moeda (Foto: reprodução/Frame Studio/Getty Images Embed)


Ativos em alta

O Standard and Poor’s 500 (S&P 500) é um índice do mercado de ações que reúne as 500 maiores empresas do mundo listadas na NYSE e na Nasdaq, principais Bolsas de Valores dos Estados Unidos. O objetivo é representar as empresas líderes dos seus setores ao redor do mundo, além de servir como medida do desempenho médio do mercado de ações norte-americano.

O índice S&P 500 alcançou a marca de 6.700 pontos. Este valor dobrou praticamente em cinco anos. A alta é resultado da crescente de empresas do ramo de tecnologia que estão investindo pesado em inteligência artificial. Somente estas empresas representam 40% dessa fatia.

Por conta de questões geopolíticas, investidores estão receosos em investir em papel-moeda, o que impulsionou a compra de ouro. Nesta quinta-feira (13), o preço do ouro por onça troy hoje está US 4.213,00 (o equivalente a R$ 22.286,77). Uma Onça Troy corresponde a 31,104 gramas.

Até mesmo os preços dos imóveis foram afetados e estão em alta. O mercado imobiliário americano está emitindo sinais contraditórios: menos pessoas estão adquirindo imóveis, mas os preços permanecem teimosamente elevados.

O cerne da resiliência do mercado imobiliário não é o aumento da procura, mas a escassez de oferta. Após dois anos de taxas hipotecárias elevadas, não há compradores interessados. As taxas hipotecárias caíram para a faixa baixa de 6%, a mais baixa em cerca de um ano, mas a acessibilidade ainda é um grande obstáculo.

No início de 2025, os preços subiram 60% em todo o país desde 2019 e ainda aumentam a uma taxa de 3,9% ano a ano, segundo o Índice Nacional de Preços de Casas dos EUA da S&P CoreLogic Case-Shiller. Mesmo com as taxas abaixo dos máximos, o pagamento mensal de uma casa com preço médio continua fora do alcance de muitas famílias.

Preço do ouro dispara e registra recorde de maior fluxo trimestral da história

Segundo o Conselho Mundial do Ouro (World Gold Council – WGC), os Fundos Negociados em Bolsa (Exchange-Traded Funds – ETFs) tiveram seu maior influxo já registrado (23%), chegando na casa dos US$ 26 bilhões (cerca de R$ 140,14 bilhões). Isso elevou o total de ativos globais de ETFs de ouro sob gestão para cerca de US$ 472 bilhões (em torno de R$ 2,54 trilhões).

Alguns dos motivos que impulsionaram o aumento do preço do ouro são a queda da confiança do investidor no dólar, incertezas em torno da política monetária americana e os recentes movimentos geopolíticos. Atrelado a isso, a compra contínua de ETFs de ouro e os bancos centrais globais são os dois principais causadores da recente alta acentuada nos preços do ouro.

Onça em disparada

Na última terça-feira (21), o valor da onça-troy (unidade de medida internacional para mensurar seu valor, cerca de 31,1 gramas) recuou para US$ 4.100 (R$ 22 mil), após constantes altas que fizeram o valor passar dos US$ 4.300 (R$ 23,17 mil).

Contudo, apesar do valor do ouro ter subido mais de 60% este ano, instituições financeiras como o Bank of America e o Société Générale estão unanimemente otimistas, prevendo que os preços continuem subindo para US$ 5.000 a onça no próximo ano.

Analistas do Bank of America e do JPMorgan Chase previram, com ousadia, que o ouro poderia atingir US$ 6.000. O CEO do JPMorgan Chase, Jamie Dimon, foi além, afirmando surpreendentemente que, se as condições atuais persistirem, os preços do ouro podem disparar para a máxima de US$ 10.000 a onça no futuro.


Jamie Dimon, CEO do JPMorgan Chase (Foto: reprodução/Victor J. Blue/Bloomberg/Getty Images Embed)

Razão do otimismo

A razão pela qual a maioria dos investidores estrangeiros e instituições financeiras permanece otimista quanto ao desempenho futuro dos preços do ouro se deve principalmente à aceleração da diversificação de suas reservas pelos bancos centrais ao redor do mundo para se protegerem contra o risco de crédito do dólar americano.

Essa é uma tendência notável com os aumentos significativos nas reservas oficiais da China, Rússia e alguns países do Oriente Médio. Além disso, o déficit fiscal e os riscos da dívida dos Estados Unidos são difíceis de resolver no curto prazo.

Demanda crescente

Desde 2022, a demanda por compras de ouro pelos bancos centrais globais têm sido forte, o que impulsiona a alta de longo prazo dos preços do ouro durante esse período. De 2022 a 2024, os bancos centrais globais compraram mais de 1.000 toneladas de ouro por ano durante três anos consecutivos, superando em muito a média de compras líquidas de 473 toneladas entre 2010 e 2021.

Apesar do aumento contínuo dos preços do ouro, o total de compras de ouro pelos bancos centrais globais no primeiro semestre deste ano ainda atingiu 415 toneladas. Embora isso represente uma redução de 21% em relação às 525 toneladas do primeiro semestre de 2024, a entrada líquida no segundo trimestre ainda foi 41% superior à média trimestral de 2010 a 2021.

Brasil aproveita

Com a crescente demanda pelo metal, a bolsa de valores do Brasil (B3) lançou na última terça-feira (21) o Índice Futuro de Ouro B3 (IFGOLD B3). Este será o novo indicador para acompanhar as negociações com o ouro no mercado brasileiro.

Dentre os critérios do indicador estão a escolha de contratos com maior liquidez e renovação automática dos contratos antes do vencimento. O objetivo é garantir que o índice reflita com precisão o mercado de futuros de ouro. A metodologia completa e o valor do índice estarão disponíveis no site da B3.

Ouro valoriza diante de expectativas sobre política monetária nos EUA

O contrato do ouro registrou valorização na última sexta-feira (19), após uma semana marcada por volatilidade, em meio às projeções de continuidade da flexibilização monetária pelo Federal Reserve (Fed), ainda que em ritmo moderado diante da capacidade de adaptação do mercado de trabalho nos Estados Unidos.

Movimento sob pressão

Na Comex, braço de metais da Bolsa de Nova York (Nymex), o ouro para entrega no mês de dezembro avançou 0,75%, encerrando o dia cotado a US$ 3.705,8 por onça-troy. O movimento ocorreu mesmo diante da valorização do dólar frente às principais moedas, fator que costuma pressionar os preços do metal e de outras commodities denominadas em dólar, em razão da correlação negativa entre câmbio e insumos cotados na moeda americana.

Mesmo com alta, os futuros de ouro ainda ficaram abaixo do recorde de US$ 3.724,9, alcançado na última segunda-feira (15). Durante a sessão desta sexta, a máxima dentro de 24 horas foi de US$ 3.709,5.


Dólar americano, símbolo da política monetária dos EUA (Foto: reprodução/Bloomberg/Getty Images Embed)

Expectativas sobre política monetária

As negociações continuam a refletir expectativas em relação ao rumo da política monetária. Analistas do ANZ observaram que, embora a sinalização do Fed após a reunião de setembro tenha sido menos favorável do que as expectativas do mercado, permanece a perspectiva de continuidade do ciclo de cortes de juros, o que tende a dar suporte ao preço do metal.

Rompendo o período de silêncio da instituição, dirigentes do Banco Central norte-americano voltaram a se manifestar. Stephen Miran afirmou à CNBC que não vê risco de instabilidade caso o Fed promova cortes de 50 pontos-base, classificando o ritmo como equilibrado. Já Neel Kashkari, presidente do Fed de Minneapolis, reiterou total apoio ao corte realizado nesta semana e defendeu mais duas reduções da mesma magnitude até o final do ano.

Diante do desempenho da última sexta-feira, o contrato do ouro acumulou ganho semanal de 0,52%, registrando alta pela quinta consecutiva. As informações foram veiculadas pela Dow Jones Newswires.

Bancos mundiais passam a investir em reservas de ouro, euro e yuan após desdolarização

Segundo o relatório do Fórum Oficial de Instituições Monetárias e Financeiras (OMFIF) divulgado nesta terça-feira (24), grande parte dos bancos centrais passará a priorizar o ouro, euro e yuan em detrimento do dólar. De acordo com o documento, as mudanças nas estratégias foram motivadas pelas recentes questões geopolíticas.

Ouro, euro e yuan

Após o Dia da Libertação, nome dado ao dia em que as recentes tarifas comerciais foram implementadas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, houve grandes mudanças na dinâmica comercial mundial, incluindo uma queda na influência do dólar, que até o ano passado era a principal moeda dos investidores.

A pesquisa da OMFIF realizada em maio deste ano revelou que 70% dos entrevistados se sentem atualmente desmotivados a continuar investindo no dólar por conta do ambiente político estadunidense. Em meio às mudanças no cenário, 40% dos bancos planejam investir a longo prazo em suas reservas de ouro: “Após anos de compras recordes de ouro pelos bancos centrais, os gestores de reservas estão dobrando a aposta no metal precioso”, afirmou o Fórum Oficial.


Yuan, moeda oficial da República Popular da China (Foto: reprodução/S3studio/ getty images embed)

O euro e o yuan, moedas oficiais de países europeus e da República Popular da China, também ganharam mais espaço após a queda do dólar, com 16% dos bancos planejando aumentar suas reservas da moeda.

Recuperação

Segundo pesquisa da Reuters, o euro poderá recuperar sua influência perdida em 2011, após a crise da dívida pública dos países na “Zona do Euro”, podendo gerar uma participação de 25% nas reservas cambiais.

A expectativa da queda do dólar se mostra um cenário novo no mundo financeiro. Max Castelli, chefe de estratégia e consultoria de mercados soberanos globais do UBS Asset Management, afirma que: “Pelo que me lembro, essa pergunta nunca foi feita antes, nem mesmo após a grande crise financeira de 2008”,  ao se referir aos questionamentos feitos pelos grandes gerentes sobre a classificação atual do dólar.

Ainda assim, a moeda estadunidense, mesmo após uma queda significativa, continua preservando a condição de principal reserva do mundo até o momento, com participação de 52%.