Começa o julgamento de Bolsonaro e mais sete por tentativa de golpe

O Supremo Tribunal Federal (STF) inicia hoje (2) o julgamento que pode levar à condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro e de sete ex-auxiliares, acusados de articular uma trama golpista para reverter o resultado das eleições de 2022. O julgamento, que ocorre na Primeira Turma do STF, é um marco na história política brasileira, sendo a primeira vez que um ex-presidente é julgado por tentativa de golpe de Estado.

A ação mira no que a Procuradoria-Geral da República (PGR) chama de “núcleo crucial” da suposta organização criminosa, que culminou nos atos de 8 de janeiro de 2023. Segundo a denúncia da PGR, a organização era liderada por Bolsonaro e tinha como objetivo impedir a posse da presidência por Luiz Inácio Lula da Silva. As acusações incluem crimes como organização criminosa armada, golpe de Estado, e tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito. Se somadas, as penas podem ultrapassar 40 anos de prisão.

Como será o julgamento

A sessão inicial está prevista para às 9h desta terça-feira (02/09). As sessões do julgamento serão transmitidas ao vivo pela TV Justiça e pelo canal do STF no YouTube. O processo seguirá um rito definido pelo tribunal, que deve se estender por várias semanas, e que está resumido abaixo em três etapas:

  • Abertura e relatório: o ministro Cristiano Zanin, presidente da Primeira Turma, abrirá a sessão. Em seguida, o relator do caso, ministro Alexandre de Moraes, apresentará um relatório do processo, resumindo os atos praticados e as provas.
  • Sustentação da acusação e da defesa: o procurador-geral da República, Paulo Gonet, terá até duas horas para sustentar a denúncia. Depois, as defesas dos oito réus terão a chance de se manifestar. O ex-ajudante de ordens Mauro Cid, que fechou um acordo de delação premiada, será o primeiro a ser ouvido. A expectativa é que as manifestações das defesas se estendam por mais de uma sessão.
  • Votação: após as sustentações orais, os cinco ministros da Primeira Turma, Alexandre de Moraes, Cristiano Zanin, Luiz Fux, Cármen Lúcia e Flávio Dino, iniciarão a votação. A decisão de condenar ou absolver os réus será tomada por maioria simples, ou seja, com pelo menos três votos.

O rito permite que os ministros façam manifestações sobre os argumentos e definam as penas de cada réu, caso haja condenação.


Ministro Cristiano Zanin (Foto: Reprodução/Evaristo Sá/AFP/Getty Images Embed)

Os réus e as acusações

A denúncia da PGR descreve o papel de cada um dos oito réus na suposta trama. Além de Jair Bolsonaro, são eles:

  • Walter Braga Netto (ex-ministro da Defesa e ex-vice de Bolsonaro): acusado de coordenar ações militares.
  • Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira (ex-ministro da Defesa): acusado de desacreditar as urnas eletrônicas.
  • Almir Garnier Santos (ex-comandante da Marinha): teria oferecido apoio naval à tentativa de golpe.
  • Anderson Torres (ex-ministro da Justiça): acusado de facilitar as invasões em Brasília.
  • Alexandre Ramagem (ex-chefe da Abin): acusado de usar a agência de inteligência para espionar autoridades.
  • Augusto Heleno (ex-ministro do GSI): apontado como um dos responsáveis pelo planejamento estratégico.
  • Mauro Cid (ex-ajudante de ordens): delator que forneceu evidências importantes para a investigação.

O julgamento é considerado histórico pelo caráter inédito, pela gravidade das acusações e pelo potencial de influência em todo o cenário político e jurídico do Brasil. Analistas preveem que a maioria dos ministros deve votar pela condenação dos réus, com o principal debate concentrado na dosimetria das penas. No caso de uma condenação, a defesa ainda pode recorrer. Esses recursos podem ser apresentados dentro do próprio STF, mas a decisão final da Primeira Turma já representará um passo decisivo no processo.

Moraes pede que Google informe o responsável pela publicação da “minuta do golpe”

Nesta terça-feira (17), após pedido da defesa de Anderson Torres, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, solicitou que a Google Brasil detalhe os dados do responsável pela inserção da “minuta do golpe” em seu site.

Torres se defende

Na última segunda-feira (16), foi encerrado o prazo para que os cinco réus, incluindo o ex-presidente Jair Bolsonaro, apresentassem os requerimentos e diligências complementares para as suas respectivas defesas.

O pedido foi feito pela defesa do ex-ministro da Justiça, Anderson Torres, que também foi ex-secretário de segurança pública. A alegação de seus advogados é de que se faz necessário uma investigação para comprovar se a minuta que foi encontrada na residência de Torres e a que estava no site da Google são as mesmas, fazendo com que ele seja, ou não, responsável pela divulgação do documento.

De acordo com os advogados de defesa, uma vez que a “minuta do golpe” circula até os dias atuais na internet, o documento não possui valor jurídico para os órgãos de persecução penal.

A defesa do ex-ministro da Justiça também solicitou uma perícia para investigar os elementos presentes na fala de Torres em uma live realizada em 2021, quando foram apresentadas as possíveis falhas nas urnas eletrônicas, que tinha como objetivo adotar o voto impresso.


Anderson Torres durante uma sessão do STF que julga a participação dos acusados ​​na tentativa de golpe de Estado (Reprodução/Evaristo Sa/AFP/Getty Images Embed)

Quem é Anderson Torres

Por determinação do ministro do STF, Alexandre de Moraes, Anderson Torres foi preso em janeiro de 2023. Quatro meses mais tarde foi solto, passando a utilizar tornozeleira eletrônica para fins de monitoramento.

Torres é considerado um “braço direito” do ex-presidente Jair Bolsonaro. De acordo com a denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República (PGR), o ex-ministro fazia parte do núcleo crucial da tentativa de golpe de Estado. O grupo em questão é acusado de praticar crimes, como organização criminosa, dano qualificado, e deterioração de patrimônio tombado.

Segundo a PGR, Anderson Torres também elaborou a chamada “minuta do golpe”, documento que seria usado no golpe de Estado. Em contrapartida, sua defesa alega que o texto que circula no Google não é o mesmo que foi encontrado na residência do ex-ministro da justiça.