De acordo com a Agência Pública, o governo federal pagou famosos para divulgar o ''atendimento precoce'' nas redes sociais. A ex-BBB Flávia Viana e os influencers João Zoli, Jéssica Taynara e Pam Puertas foram alguns dos ''contratados''. Ainda segundo a reportagem, 23 mil reais dos cofres públicos foram destinados aos cachês dos artistas para realizar a campanha em janeiro deste ano.
Conforme documentos obtidos pela Agência, Flávia, que participou do BBB7 e foi ganhadora de A Fazenda: Nova Chance, teria recebido R$ 11,5 mil para fazer a publicação sobre o assunto. No post, feito em 14 de janeiro, ela fala sobre a importância do ''atendimento precoce''. ''Se vocês sentirem os sintomas do Covid, que são: dor de cabeça, febre, tosse, cansaço, perda de olfato ou paladar, é muito importante que você procure imediatamente um médico e solicite um atendimento precoce, atenção, eu disse atendimento que significa procurar ajuda antes que piorem, é essencial para maiores chances de recuperação, viu?'', escreveu.
Veja abaixo o post:
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Publicação de Flávia Viana (Reprodução/Instagram)
À Revista Quem, a ex-reality explicou a decisão de aceitar participar da campanha e afirmou que não acredita no tratamento precoce. ''Quando minha equipe foi procurada para fazer a publicidade, aceitamos, pois era para alertar as pessoas dos cuidados, lavar as mãos, máscaras, álcool em gel, ficarem atentos aos sintomas. Meu intuito foi de cuidado mesmo, sabe? Apenas para informar. E sobre o dinheiro, apesar de já fazer meses, ainda não recebi. Assim que for recebido, o dinheiro será doado para ajudar as pessoas afetadas pelo Covid-19'', afirmou Flávia.
''Minha intenção sempre foi ajudar, jamais faria algo para prejudicar as pessoas, já que são essas pessoas que me dão visibilidade e trabalho. Se hoje eu consigo realizar tantas coisas é porque tenho o carinho de tanta gente e jamais me envolveria em política. Nunca fiz isso e não é o caso. Não acredito em tratamento precoce, o post não é sobre isso. Sei que não existe e é perigosíssimo, visto o caos que está nosso país. Eu oro muito para que tenhamos logo vacina para todos e que os governantes tanham mais respeito pela população que está à mercê dessa pandemia. Oro para que a vida volte aos poucos ao 'normal' se é que é possível já que tantas vidas foram levadas por essa terrível doença'', acrescentou.
Nessa quarta-feira (31), Flávia postou uma série de stories e se desculpou por ter aceitado dinheiro do governo. Veja abaixo.
Flávia Viana pede desculpas por ter aceitado dinheiro do governo (Reprodução/Youtube)
Já João Zoli também confirmou à Quem, ter feito uma publicação para o Ministério da Saúde, mas negou o recebimento de 23 mil reais de cachê - a reportagem indicou que esse valor se tratava do valor total investido no cachê dos influenciadores. ''Depois pergunta para eles qual conta caiu 23 mil reais... Na minha não foi não! Fiz um post para o Ministério da Saúde, sim. Alertando as pessoas de ficarem em casa'', afirmou. O post não se encontra mais no feed de João.
Nessa quarta-feira (31) Pamela Puertas divulgou um comunicado em seu Instagram sobre o assunto. Ela afirmou ainda que jamais foi a favor de ''tratamento precoce'', mas que é a favor de ''um atendimento profissional, qualificado, baseado na ciência e que possa dar informações relevantes para o paciente na recuperação e nos cuidados com essa e qualquer outra doença''.
Leia o comunicado na íntegra:
''Quero deixar claro que, como influenciadora digital, fui de fato contratada pela SECOM para fazer uma ação sobre atendimento precoce. Aqui um esclarecimento: sempre pensei em ter um canal digital para poder ajudar e contribuir com as pessoas da melhor forma possível, auxiliando com informações ou dicas que possam de fato ajudar os meu seguidores. Quero deixar bem claro que jamais fui a favor de tratamento precoce. E não tenho conhecimento suficiente para indicar medicação para qualquer pessoa e por isso não acredito em medicação milagrosa, porém entendo como atendimento precoce a pessoa ter acesso a um médico, que de fato possa acompanhar e dar toda a assistência necessária, de como a pessoa deve proceder ao ser diagnosticada com Covid-19.
Portanto, não sou a favor da utilização de qualquer medicação precoce e sim de um atendimento de profissional, qualificado, baseado na ciência e que possa dar informações relevantes para o paciente na recuperação e nos cuidados com essa e qualquer outra doença.
Para ser mais clara ainda, recebi R$ 2.500,00 (dois mil e quinhentos reais) pela ação, vou doar essa quantia para a Campanha Band Contra a Fome, pois nunca quis levar qualquer vantagem e como profissional deste setor de influenciadores aceitei fazer a campanha muito mais para auxiliar os que me seguem, já que entendo que essa informação do atendimento precoce é de fato relevante, para que uma pessoa não fique contaminada e acabe buscando ajuda médica após estar em uma situação grave.
Reiteiro, só um médico pode preeescrever medicamento e amparado na ciência.
Sem mais,
Pamela Puertas''
Em nenhuma das publicações foi citado o uso precoce de medicamentos sem comprovação científica, como a cloroquina e invermectina. No roteiro da publicidade, a Secretária de Comunicação (SECOM) orientou as celebridades a publicarem no feed e gravarem seis stories no Instagram aconselhando os seguidores a se sentirem os sintomas da Covid-19, procurararem um médico e solicitarem um ''atendimento precoce''.
Os termos ''tratamento precoce'' , ''atendimento precoce'' e o uso de medicamentos que não possuem comprovação de eficácia, foram amplamente divulgados pelo governo, sobretudo, pelo presidente. No site do Ministério da Sáude, há um incentivo a esse tratamento. ''O tratamento precoce comprovadamente aumenta as chances de recuperação e diminui a ocorrência de casos mais graves e, consequentemente, o número de internações. A nova diretriz busca adequar o atendimento às melhores evidências médicas e evitar as mortes relacionadas à doença''.
A epidemologista Ethel Maciel, explica que há diferença entre tratamento precoce e atendimento precoce. ''O atendimento precoce seria a pessoa procurar o sistema de saúde nos primeiros sinais de sintoma''. Mas ela critica a campanha realizada pelo governo, por conta da superlotação dos hospitais. ''Não adianta você fazer um chamamento para as unidades que já estão lotadas se não tiver um plano de ampliação desses locais''.
Ainda segundo a Agência, mais de R$ 1,3 milhão dos cofres do governo federal foram usados para pagar ações de marketing com influencers sobre o coronavírus. Cerca de R$ 89,5 mil foram destinados aos cachês das celebridades contratadas para a campanha.
Publicação de Jéssika Taynara (Reprodução/Instagram)
(Foto destaque: Influencers são contratados pelo governo para divulgar o ''atendimento precoce''; Flávia Viana se desculpa. Reprodução/Instagram)