Os primeiros meses da pandemia possibilitaram um aumento na onda de solidariedade no Brasil. A sociedade civil saiu na frente do poder público e socorreu a parcela mais necessitada da população com as maiores doações realizadas no ano passado, sendo 43% direcionadas ao combate à fome e à pobreza - aponta a pesquisa Doação Brasil 2020.
Responsáveis pela alimentação de muitas famílias, as doações vêm encolhendo na frequência em que os preços dos alimentos e do gás aumentam. A Ação da Cidadania, ONG fundada pelo sociólogo Hebert de Souza, alertou para a queda de mais de 90% da quantidade dos donativos. De janeiro a agosto deste ano, a organização arrecadou cerca de R$ 100 milhões de doações financeiras e alimentos - considerado um recorde histórico. Em setembro, o montante mensal despencou bruscamente.
“Não há uma cultura de doação contínua. Fora que há gente que doava e, agora, está mais apertada. Os servidores públicos do Rio eram grandes doadores, mas isso já não se vê mais”, aponta Rodrigo Kiko, diretor-executivo da Ação da Cidadania.
Beneficiária de projeto depende de doações para viver. (Foto: Reprodução/Hermes de Paula/O Globo)
Os cortes na lista de beneficiados fazem parte da realidade vivênciada por famílias que estão inscritas em projetos sociais. Na comunidade do Batan, localizada em Realengo, a Associação Beneficente Amigos pela Caridade não consegue atender às 160 famílias cadastradas por conta da supressão das doações. No início da pandemia, a associação entregava 2 mil cestas básicas por mês e hoje “temos pessoas passando fome e a alta dos alimentos só agrava esta situação”, aponta a fundadora, Agnes Ribeiro.
Uma das beneficiadas do projeto realizado pela Associação Beneficente Amigos pela Caridade, Maria Aparecida Conceição, revela que “muita coisa mudou. A gente ganhava muitas doações, e isso já não acontece mais. Agora, tem mais catadores no bairro, porque muitos moradores ficaram sem emprego. A cesta básica é a base da nossa alimentação”.
https://lorena.r7.com/post/Preocupada-com-a-fome-no-Brasil-Beyonce-lanca-campanha
https://lorena.r7.com/post/Inscricao-no-CadUnico-sera-requisito-em-selecao-para-o-Auxilio-Brasil
https://lorena.r7.com/post/Auxilio-Brasil-comeca-a-ser-pago-nesta-quarta-veja-calendario
Outro movimento que auxilia famílias em situação de vulnerabilidade, União Rio, aponta que a fome nas casas dos mais pobres voltou com força em fevereiro deste ano: “De abril a julho deste ano, distribuímos em torno de 30 mil cestas por mês. As ofertas voltaram a diminuir de novo. No início da pandemia, a gente entendeu que a fome chegou antes do vírus nas comunidades. Tivemos um boom de doações até julho de 2020. Em janeiro deste ano, as pessoas não estavam mais doando cestas de alimentos. E isso casou com o fim do auxílio emergencial do governo. No mês passado, tínhamos só 300 cestas em estoque”, diz Daniella Raimundo, cofundadora do União Rio.
A esperança que fica para todas as organizações é que com a chegada do Natal as doações possam crescer. A campanha “Eu Ajudo Como Dá”, criada e liderada por Simone Levy, receberão ajuda de 200 famílias para driblar a crise nas doações, na época natalina. Rodrigo Kiko, da ONG Ação da Cidadania, acredita que a próxima edição da campanha “Natal sem fome” possa angariar novos donativos para a distribuição de cestas básicas.
Foto destaque: Fome. Reprodução/Domingos Peixoto/Agência O Globo