Desde 1998, quando duas equipes independentes de astrônomos decidiram observar supernovas do Tipo 1a, surgiu a ideia de que o Universo está acelerando sua expansão. Consolidada há muito tempo, a compreensão sobre energia escura e a atração gravitacional no nosso Universo pode ter sido desbancada por um estudo bem mais recente que aposta no outro lado da pesquisa inicial: na verdade, o Universo está desacelerando.
No ano passado, um consórcio de centenas de pesquisadores utilizou dados do DESI, o Espectroscópio de Energia Escura, e criou o maior mapa 3D do Universo e, ao observá-lo, perceberam que a energia escura pode estar enfraquecendo aos poucos. Com isso, a expansão do Universo eventualmente pode diminuir.
Mistérios e explosões
A primeira pesquisa havia recebido um Prêmio Nobel de Física em 2011. Nela, cientistas observaram que algumas supernovas, explosões brilhantes e poderosas quando uma estrela ou anã branca começa a “morrer”, eram mais fracas quanto mais distantes estavam do Sistema Solar, concluindo que corpos celestes se afastavam mais rápido da Terra do que o previsto, explicando como o Universo seguia expandindo. Porém, a energia escura continuou sendo uma força misteriosa sem muitas respostas.
Satélite Hubble captura resquícios de uma Supernova (Vídeo: reprodução/Youtube/@NASAGoddard)
Recentemente, um estudo publicado na revista Monthly Notices of the Royal Astronomical Society (na tradução literal, Avisos Mensais da Sociedade Astronômica Real) traz evidências sobre a energia escura que complementam os estudos mais novos, observando que a força exercida sobre a energia escura sobre o Universo já não é mais a mesma.
Baseando-se na compreensão evolutiva da energia escura, o trabalho de Young-Wook Lee, um professor de astrofísica na Coreia do Sul, sugere que a expansão do Universo começou a desacelerar, mudando o rumo e a percepção que temos sobre o Céu e nossa Galáxia. “Se o destino do Universo pode mudar, é um progresso importante na cosmologia”, contou Lee.
Diferenças nos estudos
Junhyuk Son, coautor do estudo e doutor em astronomia na Universidade Yonsei, mesma de Lee, explicou que a análise veio de uma amostra com 300 galáxias com supernovas do Tipo 1a, onde propuseram que as estrelas mais distantes estão escurecendo não apenas pela distância, mas pela idade também.
Se as estrelas que causaram as supernovas são mais jovens, a explosão estelar será ligeiramente mais fraca e das mais velhas, muito mais brilhantes. Para a equipe de pesquisadores, a confiança estatística de seu projeto é extremamente precisa. Caso o estudo seja aceito, traria para a cosmologia uma mudança tão grande quanto a descoberta da energia escura há 27 anos.
Supernova Cas A capturada pelo telescópio Webb (Foto: reprodução/X/@NASAWebb)
História cósmica
Com novos relatórios e descobertas, a rotina do Universo pode se revelar não uma força constante, mas algo que se evolui com o tempo, assim como a energia escura. Se o Universo desacelerar e chegar a se contrair, tudo terminará no que os astrônomos chamam de big crunch, basicamente o oposto do que ocorre no big bang.
Em seus primeiros dias como uma pesquisa publicada, o trabalho de Lee ainda enfrenta o ceticismo na área de Astrofísica. Físicos como Adam Riess, um dos ganhadores do Nobel de 2011, e Dan Scolnic não gostaram muito do estudo e afirmaram estar incorreto e equivocado, mas nem todos os retornos foram negativos. Dillon Brout, outro astrofísico, contou em um e-mail resposta ao projeto que todo o artigo levanta uma questão válida sobre as idades das estrelas causadoras de supernovas e destaca como é sempre importante desafiar nossas crenças sobre o Universo, a fim de entendê-lo melhor.
Embora Lee saiba que seu trabalho pode ser controverso, com um novo Observatório que começou a operar este ano, chamado Vera C. Rubin, o debate pode ser resolvido. Para o cientista, é possível que em cinco anos existam outros resultados ainda mais surpreendentes sobre o assunto e, para isso, é necessário que dúvidas sejam criadas e que o Universo continue sendo observado.
