Saúde

Rins e coração sob ataque: estudo mostra que número duas vezes maior de adultos com diabetes até 2050

Rins e coração são os órgãos mais afetados pela condição. Publicação do periódico The Lancet estima que 1.3 bilhão de pessoas devem sofrer com diabetes até 2050, contra 529 milhões em 2021.

24 Jul 2023 - 12h15 | Atualizado em 24 Jul 2023 - 12h15
Rins e coração sob ataque: estudo mostra que número duas vezes maior de adultos com diabetes até 2050	 Lorena Bueri

Estimativas publicadas no último mês no periódico científico The Lancet apontam que o número global de pessoas com diabetes deve chegar a 1.3 bilhão até 2050. Em 2021, cerca de 529 milhões de pessoas sofriam com a doença, ou seja, o número de casos da condição deve mais do que dobrar em menos de 30 anos. “A projeção é muito preocupante, uma vez que os rins e o coração estão entre os principais afetados pelo diabetes. A doença renal é 10 vezes mais comum em diabéticos, pois ocorre um evento conhecido como hiperfiltração do sangue nos rins. Por isso, pacientes diabéticos devem contar com ajuda do nefrologista para controlar a doença e evitar danos renais

Além disso, pacientes diabéticos têm um risco três a quatro vezes maior de sofrer algum evento cardiovascular”, explica Dra. Caroline Reigada, médica nefrologista, especialista em Medicina Interna pela Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo e em Nefrologia pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. “Diabetes é um termo genérico para várias condições que envolvem níveis elevados de açúcar no sangue. Ela pode ocorrer por defeitos na secreção ou na ação do hormônio insulina, que é produzido no pâncreas, pelas chamadas células beta. A função principal da insulina é promover a entrada de glicose para as células do organismo de forma que possa ser aproveitada para diversas atividades celulares. A falta da insulina ou um defeito na sua ação resulta, portanto, em acúmulo de glicose no sangue, o que chamamos de hiperglicemia”, explica a médica nutróloga Dra. Marcella Garcez, diretora e professora da Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN).

Até 2050

A publicação aponta o rápido aumento dos índices de obesidade e desigualdade no acesso à saúde como as principais causas para o crescimento no número de casos de diabetes no futuro. E, segundo os autores, a maior parte desses casos é constituida pela diabetes tipo 2, que é caracterizada pela secreção prejudicada de insulina e aumento da resistência insulínica. “A doença é responsável por mais de 2 milhões de mortes anualmente e é a sétima causa de incapacidade em todo o mundo”, explica a médica nutróloga.

A condição, quando não controlada, pode trazer consequências negativas para todo o organismo, incluindo visão, nervos e membros inferiores, além de provocar desidratação, dificuldade de cicatrização e complicações respiratórias. E os rins e o coração estão entre os principais afetados. “O diabetes é uma doença extremamente inflamatória, em que a quantidade exagerada de glicose no sangue é capaz de provocar a hiperfiltração do sangue nos rins (a chamada hiperfiltração glomerular). Além disso, ele eleva a concentração de produtos de glicosilação (processo no qual açúcares são adicionados em proteínas e lipídios, transformando-os em glicoproteínas e glicolipídeos) avançada, os maiores responsáveis pelas complicações do diabetes. Quando estes produtos ficam ativados pelo sistema imunológico, aparecem as doenças dos vasos sanguíneos e dos nervos, assim como os prejuízos renais. São as denominadas complicações micro e macrovasculares do diabetes. Isto é, alteração dos vasos menores, como dos rins e da retinas (microvasculares, e dos grandes vasos e do coração (macrovasculares)”, explica a médica nefrologista Dra. Caroline Reigada. No mundo, 44% dos portadores da doença desenvolvem a doença renal crônica.

Controle

Por isso, é fundamental que os pacientes já diagnosticados com diabetes mantenham a doença sob controle. “O controle do diabetes, que apresenta fácil diagnóstico (um simples exame de sangue), deve objetivar, na maioria dos casos, uma hemoglobina glicada menor que 7%”, afirma a Dra Caroline Reigada. E quem ainda não sofre com a doença deve realizar exames regularmente para detectar qualquer possível alteração precocemente. “Lembre-se que o diabetes pode ser uma doença insidiosa. O diagnóstico do pré-diabetes e seu tratamento é a melhor forma de evitar complicações”, acrescenta a nefrologista.

Mas o melhor caminho é não medir esforços para prevenir o diabetes. “A modificação intensiva do estilo de vida continua sendo a melhor maneira de reduzir o risco de desenvolver diabetes tipo 2. É necessário melhorar hábitos alimentares, incluir exercícios físicos, melhorar hábitos de sono, evitar alcoolismo e tabagismo. E, na prevenção e tratamento da síndrome metabólica, o exercício físico é considerado de grande importância. Tal intervenção, comprovadamente, melhora a tolerância à glicose e reduz a resistência à insulina. A prática moderada de exercícios aeróbicos e de força é indicada para todos, mais ainda mais para pré-diabéticos e portadores de síndromes metabólicas, desde que seja frequente e obedeça a uma periodicidade. Atividades de flexibilidade e relaxamento, associadas às de força e aeróbicas, também trazem impactos positivos. O mais importante é sair do sedentarismo”, completa a Dra. Marcella Garcez.

Foto Destaque: Reprodução

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