Médicas da USP fazem alerta: “Vivemos hiperconectados, mas cada vez mais distantes dos nossos próprios sentidos”

Ginecologista, otorrinolaringologista e oftalmologista defendem que a saúde dos sentidos deve ser preservada em geração altamente conectada

26 jun, 2025
Márcia Pereira de Araújo, Renata Di Francesco e Cassia Regina Suziki | Reprodução/Divulgação
Márcia Pereira de Araújo, Renata Di Francesco e Cassia Regina Suziki | Reprodução/Divulgação

Em meio ao turbilhão de estímulos digitais que marcam a era da hiperconexão, três médicas formadas pela Faculdade de Medicina da USP se uniram para lançar um alerta importante: é preciso reaprender a sentir. Com base em suas especialidades — ginecologia, otorrinolaringologia e oftalmologia — elas defendem que a saúde dos sentidos deve ser preservada e cultivada com consciência para que possamos experimentar o mundo com mais presença e qualidade ao longo da vida. Em 2025, o Brasil já ultrapassa 384 milhões de dispositivos conectados à internet, segundo a FGV — número que reforça a urgência do tema.

“O mundo hoje exige performance o tempo todo. Planejamos nossa alimentação, a rotina de exercícios, a produtividade no trabalho. Mas esquecemos de planejar algo essencial: o tempo para estar presente, para sentir. Os sentidos não podem ser automatizados ou terceirizados. Eles são a nossa ponte com a vida real”, explica a ginecologista Márcia, também professora universitária e coordenadora de novas tecnologias da SOGESP.

Com um olhar voltado à visão, a oftalmologista Cássia Suzuki lembra que não basta ver, é preciso contemplar. “Na correria, nossos olhos se tornaram ferramentas de leitura rápida e consumo de informação. Mas quando dedicamos tempo para observar uma paisagem, uma obra de arte ou mesmo as nuances de uma folha, estamos estimulando a nossa percepção, nossa cognição e até o nosso bem-estar emocional”, afirma Cássia, que também é formada em Filosofia e cursa Psicanálise.

A médica otorrinolaringologista Renata reforça a importância do contato sensorial para o desenvolvimento e a saúde ao longo da vida. “O som, o cheiro, o gosto e o toque são estímulos que moldam nosso cérebro desde o nascimento. Eles são parte fundamental da nossa memória afetiva. Reencontrar os sentidos é também reencontrar quem somos, além do digital”, destaca a especialista, que também atua como professora livre-docente na USP.

Para as médicas, o resgate da multisensorialidade é um caminho para uma vida mais plena, saudável e significativa. Elas propõem uma espécie de “reeducação sensorial” como prática cotidiana. Pode começar com um gesto simples: prestar atenção ao barulho da água no banho, ao cheiro do café fresco ou à brisa da manhã. “É nesse reencontro com o sensível que a vida volta a ter sabor, cor, textura e, principalmente, sentido”, concluem.

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