Saúde

Primeira morte por Sarampo nos EUA em dez anos

Surto se espalha para mais de 130 casosbaixa cobertura da vacinação tem sido apontada como uma das principais causas

27 Fev 2025 - 11h10 | Atualizado em 27 Fev 2025 - 11h10
Primeira morte por Sarampo nos EUA em dez anos Lorena Bueri

Na quarta-feira (26), as autoridades de saúde dos Estados Unidos anunciaram a primeira morte por sarampo no país em uma década. A vítima, uma criança em idade escolar, faleceu em um hospital infantil no oeste do Texas, onde um surto da doença vem se espalhando rapidamente. A situação é alarmante, com mais de 130 casos confirmados já registrados em dois estados: Texas e Novo México.

A criança que faleceu não estava vacinada contra o sarampo, o que levanta preocupações sobre a baixa cobertura vacinal em algumas regiões. Segundo o Departamento de Saúde do Texas, a maioria dos casos registrados no oeste do estado é de crianças pequenas, e o foco inicial do surto foi uma comunidade menonita rural no condado de Gaines. Nessa comunidade, o acesso a cuidados médicos regulares é limitado, e muitas crianças são educadas em casa, o que pode ser um fator importante para a resistência à vacinação.

O sarampo é uma doença altamente contagiosa que pode levar a complicações graves, como pneumonia, encefalite e, em casos mais graves, à morte. A taxa de mortalidade nos Estados Unidos é de 1 a 3 mortes a cada mil casos confirmados, de acordo com o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC). Embora a taxa de mortalidade seja relativamente baixa, o impacto do sarampo pode ser devastador, especialmente para crianças pequenas.

A situação no Texas foi amplamente discutida por especialistas em saúde, incluindo Peter Hotez, diretor do Centro para Desenvolvimento de Vacinas da Universidade de Baylor. Hotez destacou que o estado é um epicentro do movimento antivacinas, o que tem dificultado os esforços para aumentar as taxas de vacinação. Ele alertou que o surto de sarampo no Texas poderia continuar a crescer nos próximos meses, especialmente se não houver um aumento significativo na vacinação.

Comparação com o Brasil

A crise de sarampo nos Estados Unidos não é um caso isolado. O Brasil também enfrentou surtos significativos da doença nos últimos anos, principalmente devido à queda nas taxas de vacinação. Em 2019, o Brasil registrou um aumento alarmante no número de casos de sarampo, com mais de 10.000 casos confirmados e 12 mortes. A maioria dos casos foi concentrada em estados da região Norte e Nordeste, com um pico no Amazonas, onde o surto foi mais intenso.

A diminuição da cobertura vacinal tem sido apontada como uma das principais causas desses surtos. Em 2016, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou o Brasil livre do sarampo, mas a diminuição das taxas de vacinação, que caiu abaixo de 95%, levou ao retorno da doença. O fenômeno tem sido impulsionado em parte por movimentos antivacinas, que, assim como nos Estados Unidos, têm promovido a desinformação sobre a segurança e eficácia das vacinas.


Campanha de divulgação de conscientização sobre o Sarampo do governo do estado da Bahia (Foto: reprodução/Sesab)


Assim como no Texas, o sarampo no Brasil afeta principalmente crianças e adolescentes. A falta de acesso a serviços de saúde, especialmente em comunidades mais afastadas ou com maior resistência à vacinação, tem dificultado os esforços de erradicação da doença. As autoridades de saúde brasileiras, incluindo o Ministério da Saúde, têm trabalhado para implementar campanhas de vacinação em massa, especialmente em áreas com baixa cobertura vacinal. 

No entanto, a luta contra a desinformação e a falta de adesão à vacinação continuam sendo desafios significativos.

Reflexões sobre a necessidade de vacinação em massa

A comparação entre os surtos de sarampo nos Estados Unidos e no Brasil é clara: a vacinação é a única maneira eficaz de controlar e erradicar a doença. A experiência desses dois países mostra que, quando as taxas de vacinação caem, o sarampo, uma doença altamente contagiosa, rapidamente encontra espaço para se espalhar e causar danos. Ambos os países enfrentam desafios semelhantes, com movimentos antivacina em crescimento e uma resistência crescente à vacinação, especialmente entre algumas comunidades específicas.

A lição que os surtos de sarampo nos Estados Unidos e no Brasil nos ensinam é que a vacinação não é apenas uma questão de escolha pessoal, mas uma responsabilidade coletiva. A proteção de toda a população depende da imunização de um número suficiente de pessoas para evitar a propagação do vírus. O sarampo é uma doença erradicável, mas, sem um esforço coordenado para aumentar a cobertura vacinal, os surtos continuarão a ocorrer, colocando em risco a saúde pública.

O alerta é claro: é urgente reforçar as campanhas de vacinação e combater a desinformação sobre as vacinas para garantir que surtos como esses não se repitam e que a saúde pública, tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil, seja protegida contra o retorno de doenças que já deveriam ter sido erradicadas.

Foto Destaque: Criança sendo vacinada (Reprodução/Ricardo Botelho/Ministério da Saúde/Gov.br)

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