Na quarta-feira (26), as autoridades de saúde dos Estados Unidos anunciaram a primeira morte por sarampo no país em uma década. A vítima, uma criança em idade escolar, faleceu em um hospital infantil no oeste do Texas, onde um surto da doença vem se espalhando rapidamente. A situação é alarmante, com mais de 130 casos confirmados já registrados em dois estados: Texas e Novo México.
A criança que faleceu não estava vacinada contra o sarampo, o que levanta preocupações sobre a baixa cobertura vacinal em algumas regiões. Segundo o Departamento de Saúde do Texas, a maioria dos casos registrados no oeste do estado é de crianças pequenas, e o foco inicial do surto foi uma comunidade menonita rural no condado de Gaines. Nessa comunidade, o acesso a cuidados médicos regulares é limitado, e muitas crianças são educadas em casa, o que pode ser um fator importante para a resistência à vacinação.
O sarampo é uma doença altamente contagiosa que pode levar a complicações graves, como pneumonia, encefalite e, em casos mais graves, à morte. A taxa de mortalidade nos Estados Unidos é de 1 a 3 mortes a cada mil casos confirmados, de acordo com o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC). Embora a taxa de mortalidade seja relativamente baixa, o impacto do sarampo pode ser devastador, especialmente para crianças pequenas.
A situação no Texas foi amplamente discutida por especialistas em saúde, incluindo Peter Hotez, diretor do Centro para Desenvolvimento de Vacinas da Universidade de Baylor. Hotez destacou que o estado é um epicentro do movimento antivacinas, o que tem dificultado os esforços para aumentar as taxas de vacinação. Ele alertou que o surto de sarampo no Texas poderia continuar a crescer nos próximos meses, especialmente se não houver um aumento significativo na vacinação.
Comparação com o Brasil
A crise de sarampo nos Estados Unidos não é um caso isolado. O Brasil também enfrentou surtos significativos da doença nos últimos anos, principalmente devido à queda nas taxas de vacinação. Em 2019, o Brasil registrou um aumento alarmante no número de casos de sarampo, com mais de 10.000 casos confirmados e 12 mortes. A maioria dos casos foi concentrada em estados da região Norte e Nordeste, com um pico no Amazonas, onde o surto foi mais intenso.
A diminuição da cobertura vacinal tem sido apontada como uma das principais causas desses surtos. Em 2016, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou o Brasil livre do sarampo, mas a diminuição das taxas de vacinação, que caiu abaixo de 95%, levou ao retorno da doença. O fenômeno tem sido impulsionado em parte por movimentos antivacinas, que, assim como nos Estados Unidos, têm promovido a desinformação sobre a segurança e eficácia das vacinas.
Campanha de divulgação de conscientização sobre o Sarampo do governo do estado da Bahia (Foto: reprodução/Sesab)
Assim como no Texas, o sarampo no Brasil afeta principalmente crianças e adolescentes. A falta de acesso a serviços de saúde, especialmente em comunidades mais afastadas ou com maior resistência à vacinação, tem dificultado os esforços de erradicação da doença. As autoridades de saúde brasileiras, incluindo o Ministério da Saúde, têm trabalhado para implementar campanhas de vacinação em massa, especialmente em áreas com baixa cobertura vacinal.
No entanto, a luta contra a desinformação e a falta de adesão à vacinação continuam sendo desafios significativos.
Reflexões sobre a necessidade de vacinação em massa
A comparação entre os surtos de sarampo nos Estados Unidos e no Brasil é clara: a vacinação é a única maneira eficaz de controlar e erradicar a doença. A experiência desses dois países mostra que, quando as taxas de vacinação caem, o sarampo, uma doença altamente contagiosa, rapidamente encontra espaço para se espalhar e causar danos. Ambos os países enfrentam desafios semelhantes, com movimentos antivacina em crescimento e uma resistência crescente à vacinação, especialmente entre algumas comunidades específicas.
A lição que os surtos de sarampo nos Estados Unidos e no Brasil nos ensinam é que a vacinação não é apenas uma questão de escolha pessoal, mas uma responsabilidade coletiva. A proteção de toda a população depende da imunização de um número suficiente de pessoas para evitar a propagação do vírus. O sarampo é uma doença erradicável, mas, sem um esforço coordenado para aumentar a cobertura vacinal, os surtos continuarão a ocorrer, colocando em risco a saúde pública.
O alerta é claro: é urgente reforçar as campanhas de vacinação e combater a desinformação sobre as vacinas para garantir que surtos como esses não se repitam e que a saúde pública, tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil, seja protegida contra o retorno de doenças que já deveriam ter sido erradicadas.
Foto Destaque: Criança sendo vacinada (Reprodução/Ricardo Botelho/Ministério da Saúde/Gov.br)