Segundo relatórios divulgados hoje (24) pelo Grupo Interagências das Nações Unidas para Estimativa de Mortalidade Infantil (UNIGME), foi identificado um decréscimo nos números de mortes infantis desde o ano 2000. Segundo o relatório, diminuíram mais da metade as crianças que morrem antes de completar cinco anos e mais de um terço no mundo os natimortos, que são quando a morte de um feto ocorre a partir da 20ª semana ou após 28 semanas de gestação.
O relatório também fornece a informação de que, no ano de 2022, o número de mortes infantis ficou abaixo de 5 milhões pela primeira vez. Já em 2023, o número de crianças que morreram antes de atingir os cinco anos foi de 4,8 milhões, enquanto o de natimortos ficou em torno de 1,9 milhão.
De acordo com a ONU, mesmo diante da atual crise de financiamento, o progresso na sobrevivência infantil já havia diminuído desde 2015, quando a taxa anual de redução da mortalidade de menores de cinco anos caiu em 42%, e a redução de natimortos em 53%, em comparação com os anos de 2000 a 2015. No entanto, cortes nos orçamentos mundiais para tratamento dessas questões podem impactar negativamente esses números.
Criança recém-nascida na encubadora (Foto: reprodução/Getty Imagem Embed/Anadolu)
Corte no financiamento
Segundo pronunciamento da diretora-executiva da Unicef, Catherine Russell, essa conquista no progresso de estimativa da vida das crianças, está ameaçado por cortes significativos no financiamento dos compromissos globais para cuidados básicos, como vacinas, nutrição e saneamento básico: "Levar as mortes infantis evitáveis a um nível recorde é uma conquista notável. Mas sem as escolhas políticas certas e o investimento adequado, corremos o risco de reverter esses ganhos arduamente", completa que não podemos permitir que isso aconteça.
Com a redução do financiamento global nos programas de sobrevivência infantil fica inevitável que haja escassez de profissionais na área da saúde, fechamentos de clínicas, interrupções no programa de vacinação e falta de suprimentos considerados essenciais, como tratamentos para malária, por exemplo. Os cortes impactam muito mais as regiões que apresentam crises humanitárias, países endividados e áreas com taxas de mortalidade infantil acima do normal. Eles podem prejudicar o monitoramento e rastreamento desses casos, o que dificulta o alcance das crianças mais vulneráveis, enfatiza o Grupo Interinstitucional.
O diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, afirma que: "Do combate à malária à prevenção de natimortos e garantia de cuidados baseados em evidências para os bebês mais pequenos", completa que é possível fazer a diferença, intensificando a colaboração global para proteger e melhorar a saúde das crianças.
Causa e solução
Metade das mortes de menores de cinco anos ocorre no primeiro mês de vida, devido a um parto prematuro ou complicações severas durante o parto. Agravantes durante o período neonatal, como doenças infecciosas, infecções respiratórias agudas, malária e diarreia, são as principais causas de morte infantil que podem ser evitadas. Já 45% dos natimortos tardios ocorrem durante o trabalho de parto, que podem ocorrer por infecções maternas ao longo da gravidez, no trabalho de parto prolongado ou obstruído, ou por falta de intervenção médica adequada. Todas essas causas podem ser revertidas com investimentos adequados que proporcionam acesso a cuidados de saúde maternos, neonatais e infantis de qualidade em todos os níveis do sistema de saúde mundial. Investimentos em melhorias nos hospitais, quanto aos atendimentos nos pré-natais, imunizações de rotina e programas de nutrição infantil são um dos apontamentos do relatório para fazer a diferença e evitar mortes através de diagnósticos precoces para doenças infantis e o cuidado especializado para bebês e recém-nascidos.
O diretor global de Saúde do Banco Mundial e do Global Financing Facility, Juan Pablo Uribe afirma: "A maioria das mortes infantis evitáveis ocorre em países de baixa renda, onde serviços essenciais, vacinas e tratamentos são frequentemente inacessíveis". Segundo ele, investir na saúde das crianças garante sua sobrevivência, acesso à educação e futuras contribuições para a força de trabalho, porém é necessário haver os investimentos estratégicos e apoios políticos, para continuar reduzindo a mortalidade infantil, favorecendo o crescimento econômico e oportunidades de emprego para estes futuros trabalhadores que beneficiam o mundo inteiro.
Nos relatórios, é apontado que o local de nascimento influencia nas chances de sobrevivência. Crianças nascidas na África Subsaariana, por exemplo, têm em média 18 vezes mais probabilidade de morrer antes de completar cinco anos do que as nascidas na Austrália e na Nova Zelândia. Essa diferença demostra a desigualdade social que deve ser levada em consideração na aplicação dos recursos financeiros globais, pois países mais pobres, de áreas rurais e desprovidos de educação básica, enfrentam os maiores riscos. Na África Subsaariana e no sul da Ásia, apresentam 80% dos casos de natimortos, onde as mulheres têm de seis a oito vezes mais probabilidade de ter um natimorto do que nos países da Europa ou América do Norte. São nesses países de baixa renda, que há oito vezes mais probabilidade de ter um natimorto do que aquelas em países de alta renda, o que é um dos motivos de alerta por parte da ONU para que os países mantenham o compromisso e investimentos necessários para proporcionar acesso a serviços básicos de saúde, nutrição e proteção social igualmente para todas as mães e crianças do mundo todo.
Foto Destaque: Crianças recém-nascidas (Reprodução/ONU)