Megaoperação no Rio expõe guerra urbana no Complexo da Penha
Imagens revelam intensa troca de tiros, com quase 200 disparos em 1 minuto durante ação que deixou 20 mortos e 81 presos no Rio de Janeiro
O Complexo da Penha, na Zona Norte do Rio de Janeiro, amanheceu nesta terça-feira (28) sob intensos tiroteios e explosões que transformaram as ruas em um verdadeiro campo de batalha. Um vídeo gravado por moradores mostra quase 200 disparos em apenas um minuto, em meio a colunas de fumaça e gritos de desespero. A ação faz parte de uma megaoperação das forças de segurança do estado contra o tráfico de drogas.
As imagens, compartilhadas nas redes sociais, revelam barricadas em chamas e confrontos que se estenderam por várias comunidades da região. Segundo a Polícia Civil, criminosos reagiram à presença dos agentes com armamento pesado e chegaram a utilizar drones para lançar explosivos contra equipes da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core). Apesar da intensidade, não há confirmação de feridos por esses ataques aéreos.
O clima de medo e tensão tomou conta dos moradores, que se viram encurralados em meio aos confrontos. Escolas e comércios não abriram, e o transporte público precisou ser interrompido em diversos trechos da Zona Norte. A população relata que as rajadas de tiros começaram ainda de madrugada e se intensificaram ao longo da manhã, dificultando até mesmo o trabalho de ambulâncias e equipes de resgate.
Balanço parcial aponta mais de 20 mortos e dezenas de presos
De acordo com informações da Secretaria de Segurança Pública, ao menos 20 pessoas morreram, sendo 18 suspeitos e dois policiais. Nove agentes ficaram feridos, e três civis foram atingidos por balas perdidas, entre eles, um homem em situação de rua e uma mulher que estava em uma academia. Todos foram socorridos em hospitais da região.
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Confira o vídeo das operações no Rio de Janeiro (Vídeo: Reprodução/Instagram/@portalg1)
A operação resultou ainda na prisão de 81 pessoas, além da apreensão de 31 fuzis, duas pistolas e nove motocicletas. Drones das polícias Militar e Civil captaram o momento em que criminosos fugiam em fila por uma área de mata na Vila Cruzeiro, vestindo roupas camufladas e carregando fuzis. A cena, semelhante a uma estratégia militar, reforçou o caráter de confronto direto entre facções armadas e as forças estatais.
Batizada de Operação Contenção, a ação integra um programa permanente do governo fluminense para conter o avanço do Comando Vermelho (CV) por territórios do estado. Com mais de 2.500 agentes mobilizados e 100 mandados de prisão a cumprir, a iniciativa já é considerada uma das mais letais da história recente do Rio de Janeiro, ficando atrás apenas das operações do Jacarezinho e da Vila Cruzeiro.
Governo estadual cobra apoio federal no combate ao crime
Em entrevista ao Bom Dia Rio, o secretário de Segurança Pública, Victor Santos, afirmou que o estado não tem condições de enfrentar sozinho o crime organizado que domina áreas extensas e de difícil acesso. Segundo ele, o território do Alemão e da Penha representa cerca de 9 milhões de metros quadrados de desordem urbana, onde a atuação policial é limitada pela geografia e pela presença armada de facções.
Santos reforçou que a presença da União é essencial para o combate efetivo à criminalidade. “Estamos lidando com um poder paralelo que controla comunidades inteiras. Sem o apoio do governo federal e de políticas públicas integradas, não há como recuperar essas áreas apenas com força policial”, declarou.
Ainda de acordo com o secretário, cerca de 280 mil pessoas vivem nas regiões afetadas pela megaoperação, convivendo diariamente com tiroteios, toques de recolher e insegurança. Ele destacou que o objetivo do estado é restabelecer o controle territorial e reduzir o poder de fogo das facções, mas alertou que as ações policiais, isoladamente, não resolvem o problema estrutural da violência urbana no Rio.
